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28.11.11

Ela é sua?

Para ouvir: Someone like you - Adele

Ela sempre me liga no meio da noite, com aquela voz de choro e sempre diz a mesma coisa: 'sonhei com você de novo'.Eu, meio sonolento, escuto tudo que ela tem pra falar, um pouco prestando atenção e um pouco pensando em como ela está enquanto descreve seu sonho pra mim.Deve estar com um coque desgrenhado, com a franja na testa e fumando devagar.Pela voz está chorando, então deve estar com uma caixa de lenço de papel ao lado do maço de cigarro.Provavelmente com aquela blusa branca grande que cobre até metade da coxa e que meu deus, como ela fica sexy com aquela blusa.Está sentada na cama, olhando a janela,e chorando.Linda como sempre foi, e triste, como está nos ultimos meses.
"Vai, bota um casaco que eu passo ai pra gente tomar aquele sorvete de iogurte que você tanto ama" digo já descendo para tirar o carro da garagem."Você é louco" ela ri no meio do choro "são três e meia da manhã"."Você me acordou três e meia da manhã, não vou mais conseguir dormir então me deve essa.Bota um casaco um tênis e termina teu cigarro que eu tô passando ai em dez minutos" eu ligo o carro "tá,legal"  ela suspira "só não corre".
Três e meia da manhã as ruas são vazias.Velvet Underground me faz companhia até a casa dela que não é muito longe da minha.Assim que paro o carro na calçado do seu prédio a vejo descendo as escadas.Estava mesmo com um coque desgranhado na cabeça, que faria qualquer outra garota parecer minha tia-avó de 60 anos que mora no interior,mas que nela ficava lindo.
Ela vinha descendo com aqueles olhos inchados que eu já conhecia bem a um tempo."Meu Deus, você não dorme bem a meses" disse quando ela entrou no carro."É bom te ver também" ela diz em tom irônico enquanto me abraça.
Ela cantarola um pouco da melodia de "After Hours" olhando para a janela, o que me lembra a cena de 500 days of Summer, que eu havia assistido uma centena de vezes um pouco por culpa ela, e um pouco porque o filme era realmente bom (embora ela nunca vá saber disso).Me lembra a cena da Summer cantarolando The Smiths no elevador, que foi o suficiente para o Tom cair de quatro por ela.A cena toda é uma grande mentira na verdade, se fosse uma menina feia que não tivesse os olhos lindos da Zooey Deschanel e nem franja escondendo a testa, o nome do filme seria 25 seconds of Summer e acabaria assim que ele saísse do elevador.
"Você tá quieto" ela sussurra se ajeitando no banco "aconteceu alguma coisa?"."É só sono pequena, não se preocupe." ela me olha com cara de recusa "não me chama de pequena".Porém após dizer isso sorri e suspira.O cd do Velvet acaba e Marcelo Camelo toma conta do carro.Eu cantarolo baixinho e ela se aproxima para ouvir."Vou fazer um CD com essa música pra você" eu digo tentando prestar atenção na estrada "pra te acalmar esteja você morena aonde for".Chegamos ao quiosque 24 horas e paro o carro.Saio e abro a porta pra ela, mas antes de dar um passo a frente ela me abraça e sussurra no meu ouvido "a única coisa que me acalma é você".
Sentamos na mesa de sempre e eu vou pegar seu iogurte. "Um de abacaxi pra mim e um natural para guria da mesa" digo para o atendente."Ela é sua?" ele me pergunta admirando um pouco bobo ela tragando e mexendo nos guardanapos da mesa "Sim, é minha" eu digo olhando para a mesma direção.Pego os sorvetes e sento na mesa.Ela tem olhos lindos mesmo inchados e com olheiras de várias noites mal dormidas."não olhe para minhas olheiras" ela me diz rindo "eu tô horrível, eu sei"."Eu nunca te vi horrível, mas você está mesmo precisando dormir".Terminamos os sorvetes com poucas palavras e na volta para o carro ela me abraça e me beija aquele beijo só dela, com gosto de desespero,despedida e tesão."Me leva para sua casa" ela me diz com cara de desespero "eu preciso passar a noite com você"."Não precisa" eu digo a abraçando "você só precisa dormir".
"Dormir com você" ela diz com a cabeça no meu peito, e eu não consigo negar.O caminho todo para o meu apartamento é silêncioso e constrangedor.Porém quando chegamos ao quarto é tudo ao contrário.Ainda em cima dela, assopro a franja colada na testa pelo suor. "Eu amo você" ela sussurro beijando meu queixo.Eu também de amo pequena.Talvez para sempre.
"Vou pegar um taxi para casa" ouço horas depois enquanto ela deita em cima das minhas costas "daqui a pouco tenho que ir para um casamento tirar fotos e preciso de um banho".
"Eu te levo" digo levantando da cama. "Não precisa, sério.Continua dormindo porque eu já te incomodei demais hoje" e me beijou de novo, com gosto de despedida e pasta de dente.
"Passei um café fresquinho pra você e tem um maço do seu cigarro em cima da mesa" ela me diz já na porta "tchau".
"Ei pequena" eu grito e acho que ela não ouviu até eu ver um pedaço de sua franja na porta entreaberta "Será que um dia a gente ainda dá certo?"
"Olha" ela responde mordendo o lábio "acho que a gente já tentou o suficiente e viu que não.Mas eu sou sua de qualquer forma.Bom dia, eu amo você."

24.11.11

8

 "If I could be who you wanted all the time. All the time."

Para ouvir: Fake Plastic Trees - Radiohead

Quando você foi embora levou tudo.Eu pensei que tinha levado só as coisas ruins, mas depois de 3 batidas no relógio do ponteiro pequeno, percebi que tinha levado as partes boas também.Você foi embora e me levou junto.Porque essa é a unica explicação de eu ter mudado tanto.Eu não vejo meu sorriso sincero desde que você se foi com aquela ameaça estúpida.Não dá,não sai,não adianta.E eles tentam, tenho otimos amigos que tentam isso, mas não sai.Ele foi com você, e agora eu não sei onde está.Bom, se está com você, nesse momento meu sorriso está na cama de outra, com outro cheiro e outro corte de cabelo.Você sabe que nunca vai se livrar de mim né?Pode queimar todas as minhas coisas e nossas fotos.Pode nunca mais ouvir nossas músicas mas, querido, eu estou ai.Você me levou junto.
Eu estou sempre do seu lado.Te apoiando em tudo mesmo que você não saiba.Eu estou sempre a tua frente prevendo todos os teus passos.Atrás de você eu sempre estive, mas no momento estou quieta e me encondendo atrás das árvores.
E eu tô sempre aqui também , não a eu que você conheceu, mas a nova eu.Aqui sempre segurando o choro e querendo ficar dentro de casa pra sempre.Aqui sabendo que você não merece um quinto de tudo que eu sinto, mas querendo pegar o carro e ir te chamar no seu portão azul e implorar pra você voltar pra mim a todo momento.Aqui sempre procurando detalhes seus em outras pessoas, que no final só me irritam.Aqui no colo de outros e ouvido milhões de 'vai passar, você sabe que vai passar, uma hora passa, tudo tem seu porque, dê tempo ao tempo,Deus sabe o que faz, o que tiver que ser vai ser, ele não te merece, poxa não fica assim" e todo o resto.Mas eu sei (e no fundo, eles também) que isso não vai passar.
Enfim.
Guarde meu sorriso sincero com carinho.Por que ele é teu, e só teu.

22.11.11

 Para ouvir:Snuff - Slipknot

Sempre achei que esse amor era coisa de quem não tinha nada melhor para fazer. Eu só o sentia porque estava infeliz naquela vida pacata. Só por isso. Resolvi então agitar a vida pacata. E comecei a sair mais de casa, enxergar as pessoas ao meu redor, mais viagens, mais baladas. Amor é coisa de gente pacata e agora que eu tinha uma vida agitada, poderia, finalmente, mandar esse amor embora. Tchau, coisinha besta.
Nada feito. Só piorou. Acordava e ia dormir com ele engasgado aqui. Ficava inconformada. Mas aí concluí: amor é coisa de quem tem tempo pra pensar nele. Claro, mesmo com a semana agitada entre faculdade e trabalho, eu fico em casa o fim de semana todo, alegando cansaço, no silêncio das minhas coisas, claro que acabo pensando besteira. Aquele papo de mente desocupada casa do diabo, sabe? Amor do diabo. Fui procurar Jesus.
Depois de dez passes e de ler todo o Evangelho Espírita, achei que ficaria tudo bem. Ficou nada. Eu só parei de sonhar que botava fogo no apartamento do ser amado ou que arrancava os olhos de todas as mulheres do mundo. Parei, talvez, de odiar o amor. Mas o amor, na verdade, ficou lá. Duro que nem pedra. Daqueles que não vão embora nem com reza brava.
Amor adolescente, pensei. Com certeza, se eu virar mulher, esse amor bobinho passa. Amor de menina boba. Tratei, então, de virar mulher. Quem sabe mudando o visual, esse amor não se mudava de mim? Nada feito. Cabelo novo, roupas novas, sapatos novos, novas contas pra pagar. E o mesmo coração idiota. O mesmo amor de sempre. Coisa chata, não?
Ah, que que é isso! Amor deve passar com um novo amor, não? Olha lá aquele menino bonito te olhando, o outro que escreve bonito, o outro que te faz rir um monte, tem também aquele ali, com mão firme. Nada. Nenhum deles foi capaz de me salvar, de substituir minhas células cansadas em sentir sempre a mesma coisa. Nenhum foi capaz, nem por um segundo, de me levar para passear em outros tormentos. Ou outras alegrias. Qualquer outra coisa que seja.
Aí veio a idéia brilhante. Será que se eu mergulhasse de cabeça na estupidez desse amor, não me curava? Será que se eu, por um minuto apenas, parasse de sentir tudo isso de dentro da grandiosidade que eu inventei para tudo isso e enxergasse de perto como tudo é tosco e pequeno, eu não me curava? Só piorou. De frente para ele e suas constatações tão absurdas a respeito de tudo, só consigo sentir ainda mais amor. E quanto mais e maiores motivos para não sentir, ele e a vida me dão... Adivinhem? Sim, o amor cresce. Irresponsável, sem alimento, sem esperança e de uma burrice enorme. Ainda assim, forte e em crescimento.
Mas esse amor, ah, esse amor é coisa de quem não ama a própria vida. Se um dia, um dia eu pudesse realmente ser uma Jornalista. Ou até, nossa, se eu pudesse trabalhar na televisão sabe? Esse amor iria embora, claro. Nada feito. Estou aqui graças a minha maior qualidade: a fé. Sim, isso só não funciona pro amor, mas pra todo resto na minha vida acreditar sempre funcionou. Tudo certo com a minha vida. Ou quase tudo certo. Ainda sinto esse amor ridículo. Essa coisa infernal que me vence todos os dias, todos os minutos. Quantos bons contatos me admiram e me elogiam. Ainda bem que alguém além de mim acredita em mim. É tanta coisa boa acontecendo, tanta gente boa se aproximando que tá na hora de acordar. Enxergar. Receber.
Taí. Tá bom. O amor venceu. Você venceu. Venceu. Venceu. Venceu. E eu acabo de descobrir, simples assim, a única maneira de me livrar desse sentimento: aceitando ele, parando de querer ganhar dele. Te amo mesmo, talvez pra sempre. Mas nem por isso eu deixo de ser feliz ou viver minha vida. Foda-se esse amor. E foda-se você.
[Tati Bernardi]

10.11.11

"O elemento ex"

Para ouvir : Um cara de sorte - Detonautas

- Você tá linda.
- Você acha mesmo? Não sei... O vestido não está muito curto?
- Você tá linda Lia.
Eu teria que estar não é mesmo? Afinal, é a minha festa de aniversário e praticamente uma festa de despedida. Finalmente fiz meus sonhados 21 anos e consegui a cidadania na Espanha que sempre quis.Passaria um tempo lá, que pode variar de 6 meses a 6 vidas.Meu espanhol nem é assim tão ruim e tenho certeza de que lá eu aperfeiçoaria.Eu amo o frio e vou adorar o clima de Madri.Claro que sentirei falta daqui e dos meus amigos, mas sabe quando a sua vida já te deu no saco? Quando você fica meses sem conhecer gente nova e parece que tudo é chato e repetitivo. Está na hora de mudar e está tudo decidido.Amanhã a tarde pego meu vôo e vida nova, finalmente.
A festa estava planejada desde que a documentação saiu definitivamente (cerca de um mês atrás). Escolhi o lugar pra fazer e a lista de convidados só tinha gente bonita legal e amada.Amada até demais se for contar o nome de um ser.Ele.
 "O elemento ex" como diria o episódio de uma das minhas séries preferidas. Enviei o convite para o e-mail de todo mundo.Para o dele também.2 vezes.Convidei todos os seus amigos que também são meus, e para os que são mais meus amigos do que dele pedi ajuda."É só o que eu quero Vi.Eu quero vê-lo pela ultima vez.Talvez pela ultima vez na vida.Me ajuda por favor."
Na verdade, se for pensar bem, não posso nem chama lo de ex. Nunca namoramos oficialmente. Uma aliança gravada nunca repousou tranquila no meu dedo anelar direito, e a corrente que eu usava com uma câmera fotográfica que significava ele pra mim só era uma coisa minha.Status de relacionamentos nunca foram mudados em nenhuma das redes sociais que ambos possuíam.Conheço sua família pra quem fui apresentada como "uma amiga da faculdade".A mãe dele um dia me perguntou com ares afimartivos enquanto eu o esperava sair do banho para ir ao show da nossa banda preferida " Você o ama não é mesmo?" disse do meu lado enquanto eu olhava boba para uma foto dele enquanto ainda era um bebê.Fingi não ter ouvido e mudei de assunto.
Foram quase dois anos nessa de frequentar sua casa como amiga e sua cama como amante. Nunca exigi nada dele um pouco por medo de perde-lo e um pouco por achar que uma hora ou outra ele iria perceber que me amava.
Foi quando fui até a casa dele pegar um livro da faculdade que tinha esquecido no final de semana, que sua mãe me contou com toda a delicadeza e medo, percebendo que aquilo doeria "ele está com aquela menina loira... eu realmente esqueci o nome dela. Alias não gostei nada dela. Não lembro o seu nome, mas lembro muito bem que ele a apresentou como cargo de namorada e eu quase indaguei seu nome, porém ele saiu antes disso.”.
Eu não lembro muito bem como cheguei em casa, o fato é que eu estou aqui agora, com as malas prontas e desejando ve-lô mais do que qualquer outra coisa na vida.
Eles começaram a chegar e eu não consegui esconder de ninguém que eu queria que ele estivesse lá. Parabéns e desejos de boa viagem eram despejados em cima de mim.Depois que algum tempo, tirei o olhar da porta e fui me divertir.
- Parabéns Lia!
- Na verdade meu aniversário é só amanhã.
- Nada dele não é?
- Nada.
- Sabe? - disse me abraçando - ele está perdendo uma ótima festa.
Desisti. Bebi, dancei , me diverti verdadeiramente com todo mundo que foi.Como eu sentiria saudade deles.A noite passou, a festa acabou.Antes que me desse conta estava com o microfone na mão fazendo um discurso.No fim da festa, abraços, lágrimas ,risos promessas e pedidos de visitas.Fui de carona de volta para casa.
- Ele não veio - ela me disse segurando minhas mãos.
- Não - disse contendo as lágrimas.
- Eu te amo Lia. Vou sentir sua falta mais que tudo nesse mundo.Em dezembro vou pra Espanha te ver.
- Obrigada por tudo Vi. Vou te esperar gatona.As baladas não serão as mesmas sem você.
Em casa, tirei o vestido, o sapato. A maquiagem foi para o ralo com a água quente do chuveiro e algumas lágrimas.Coloquei aquela camisa velha tão confortável e sentei na poltrona perto da janela acendendo um cigarro." Acabou - pensei tragando devagar - acabou de vez algo que nem começou direito.Meu celular toca.
De: Ele.
07/07     04:06 AM
Feliz Aniversário guria.Que você seja muito feliz na sua nova vida... e me desculpa por tudo.

2.11.11

Volta.

Para ouvir:Com ou sem você - Strike

Chovia.Ninguém me atendia no celular e eu sinto que minha gripe iria evoluir pra uma bela pneumonia.Mesmo assim eu não ficaria dentro daquele carro.Tentei mais uma vez no celular.Nada.Tá, o fato de ser duas e quinze da manhã deve influenciar em alguma coisa nisso.Mas eu não ligava.Não nos falávamos a o que, mais de um ano.Eu tinha me segurado demais e agora eu precisava disso pra ficar em paz comigo mesma.Termina esse cigarro e vai Marcela.
Abri a janela e joguei o filtro rosa do cigarro na rua.Abri a porta e sai do carro.As gotas de chuva estavam grossas e frias, e até atravessar a rua, eu já estava bem molhada.
Em frente ao portão eu perdi um pouco a coragem.Aquele botão pequeno do interfone que gritava pra mim o número 7 nunca me pareceu tão grande.Apertei uma vez.
Meu cérebro pedia um cigarro e gritava SAI DAI SUA LOUCA.Meu coração batia num ritmo tão frenético que falava meio gago SE É O QUE VOCÊ QUER, PROSSIGA.
Não tive resposta.Apertei a segunda vez.
Eu estava começando a enxergar a situação.Lá estava eu, as duas e quinze da manhã, ensopada atrás de alguém que eu não via/falava a mais de um ano.
Apertei a terceira vez.Tá , se não tivesse resposta eu iria embora.Mas era demais pensar que eu não o veria hoje.Eu precisava.
- Oi - me atendeu uma voz de sono.
- Oi ,Caetano? É a Marcela.
- Marcela ? O que...
- Desce.Preciso falar com você.
- Tá chovendo.
-Eu não te perguntei como está o tempo Caetano.Desce por favor.
Desligou o interfone.Eu já estava preparada pra dar meia volta e ir embora quando o vejo descendo as escadas.Meu Deus, parece que a cada dia que passa ele fica mais lindo.O cabelos estava maior e ... sem dúvida tinha mais tatuagens.E caralho como eu senti falta daquele rosto nesse tempo.
- Você tem sérios problemas guria - ele disse forçando uma cara de bravo.
- Eu também não vim aqui pra você me falar o que eu já sei.
- Então você veio pra que ? Meu Deus, você tá toda molhada.
- Eu sei.
- Eu te convidaria pra subir, mas minha namorada está lá em cima.
- Tá, já tá bem difícil eu estar aqui, então se você parar de falar e deixar eu fazer o que eu vim aqui pra fazer.
- Tô quieto.
- Volta.
- Pra onde?
-Pra mim.Pra minha casa, pra minha cama.Pra minha estante que tá vazia sem seus livros.Volta pro lugar de onde você nunca devia ter saído.
- Já faz mais de um ano.
- Eu sei.
- E você ouviu a parte do 'minha namorada está lá em cima'.
- Ouvi.
- Sua resposta é essa.Se cuida, eu sei que qualquer chuvinha você fica bem doente.Vai pra casa e toma um banho, não morre não tá.
Foi embora.
Eu estava em um torpor tão grande que acho que não percebi o que houve.Voltei para dentro do carro, acendi o cigarro e dirigi sem música até meu apartamento.Sem uma lágrima derramada.
Estacionei o carro, entrei , tomei um banho, tirei a roupa molhada e já deixei separada a carteirinha do convenio que eu sabia que teria que usar no outro dia.Fiz um chá quente que tomei olhando pro nada.Quando deitei na cama o sol já estava tímido lá fora.O céu estava laranja e as pessoas começavam a sair pra trabalhar.
Deitei tentado não pensar em nada, tentando esquecer o que tinha acontecido.Você tentou.Agora pode dizer que fez tudo que podia.Você havia errado em te-lo traído e estava pagando por isso nesse um ano.Foi uma traição besta "mas se você me amasse nunca teria feito isso".Sai da minha cabeça amor.Vou te chamar de amor nos meus pensamentos pra sempre, aproveitando que ninguém ouve , e que você pode ser meu pra sempre neles.
Eu estava pegando no sono quando o interfone tocou.Deve ser o porteiro falando que eu deixei o carro na vaga errada de novo.
- Eu já desço pra tirar o carro Sr.João.
- Doida.
- Caetano?
- Só vim ver se você tá viva depois da chuva de ontem.
- Tomei um banho e aquele chá que eu sempre tomo, mas tô com aquela dor nas costas, então vou dormir um pouco e vou no médico mais tarde.
- Deixa eu subir pra fazer um chá decente, porque o seu é horrível.
Abri o portão.Eu o conhecia muito bem e sabia que se ele veio até aqui pra fazer o chá, era isso o que ele faria.E iria embora.
Subiu com uma mochila.Me abraçou forte .Se não fosse pela minha dor nas costas, seria o momento mais perfeito da minha vida.
- O que tem na mochila?
- Psiu.Deita que eu vou fazer o chá pra você.Cadê seu remédio?
- Acabou ...
- Tá - entrou no meu quarto e saiu de lá com travesseiros e um cobertor grosso- então você fica ai que eu vou na farmácia comprar - arrumou os travesseiros nas minhas costas e jogou o cobertor por cima de mim - eu trouxe aquele filme com o cara que faz o vampiro que você tanto gosta - pegou o controle em cima do da tv e colocou o filme pra rodar - eu já volto.
Fechou a porta com cuidado levando a chave.

- Seu porteiro ainda me conhece - ele riu.
Ouvi barulhos na cozinha.
- O que você tá fazendo?
- Seu chá.
Alguns minutos depois ele voltou com uma caneca de chá quente.Me deu a caneca, sentou se comigo e coloco meus pés em seu colo.Como nos velhos tempos.
Eu queria, e queria mesmo prestar atenção no filme, mas ele estava lá.Comigo.Depois de um ano ele estava na minha casa, fazendo o chá que eu tanto amava e cuidando de mim do mesmo jeitinho.Eu sempre me odiei por te-lo traído, mas hoje o ódio de mim mesmo estava no ápice.Porque eu tinha a absoluta certeza que depois do filme ele me daria um beijo na testa e iria embora.Eu nunca quis que o filme demorasse tanto.
- Obrigada.Por vir aqui cuidar de mim... Pelo chá.Obrigada.
- Assiste o filme guria.
O filme acabou e eu chorei no final.Na verdade, na hora eu não sabia se eu chorava com o final do filme ou pelo final dele.Eu sabia que seria a hora da despedida e meu Deus, como isso iria doer.
- Tá melhor ?
- Sim - disse me arrumando no sofá- e tem como não estar?
Ele levantou e levou a caneca para cozinha.
Depois, sentou no mesmo lugar que estava , pegou o controle da minha mãoe e começou a zapear os canais.
- Cadê os meus canais de jogo e luta?
- Cancelei - disse olhando pra ele apoiando a cabeça no braço que estava apoiado no sofá - eu não gostava daquilo.E não tinha ninguém aqui pra ver.
- E seu outro namorado? Ele deveria gostar de luta.
- Não teve nenhum outro Caetano.Depois de você, não teve ninguém.
- Só durante né - ele disse levantando do sofá- bom acho que você já acorda melhor.Dorme um pouco guria, você não dormiu desde a hora que chegou.E eu tenho que resolver uma coisas também.
Ele pegou a mochila que estava no chão e foi tirando alguns livros (que eu conhecia muito bem) de dentro dela.Colocou exatamente no espaço que eram deles antigamente.
-Ainda faltam alguns, eu volto mais tarde pra trazer.
- Volta? - eu perguntei levantando do sofá.
- Você pediu lembra? Voltei.Agora liga pra tv a cabo e pede meus canais de luta e jogo de volta amor.Porque eu tô voltando pra ficar.
-Eu ligo depois - disse o abraçando com força-  agora minha cama andou me contando que está com saudades de você e desse seu cheiro - disse começando a beijá-lo.
- Calma amor.Ainda temos muito o que conversar - e voltou a me beijar - mas isso pode esperar um pouco ...
- Pode - eu disse tentando tomar ar - isso e a ligação pra tv a cabo.