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14.12.10

Olhos verdes.

Para ouvir :Cigarettes - Sether

- Não, me deixa em casa inferno!
- Lívia, você vai de qualquer jeito. Eu acho que você não vai querer ir de pijama , então poe alguma coisa decente.Passo ai em meia hora.
Porque quando você termina um namoro, os amigos se sentem ‘obrigados’ a te tirar de casa?Você tem direito a um tempo de luto não tem?
Mas se é pra ir, vamos logo não é?
Levantei do sofá e fui tomar banho. Não lembrava a ultima vez que eu tinha lavado o cabelo.Só lembrava o ‘eu fiquei com a Patrícia’ e seguido por ‘eu to gostando muito dela, mesmo.’
Ouvir isso depois de cinco anos de namoro, uma aliança dourada no dedo e uma casa quase toda mobiliada, não é legal. “Sim, sábado na festa da Jú.Ela estava tão linda Li você tinha que ver.” Você não precisava falar isso seu cretino.
Eu sempre achei a Patrícia linda, e sempre notei seus olhares interesado para ela, mas ela era minha amiga. E você , meu namorado de primeiro beijo e nos conhecíamos desde tanto tempo , sabia que você não seria capaz.Mas foi.
Enquanto o shampoo saia do meu cabelo, eu percebi que sair na rua poderia ser legal. Se eu me arrumasse decentemente , talvez algum outra pessoa olhasse pra mim.Eu ainda sou bonita não sou ? “O seu sorriso é a coisa mais linda da face da terra minha linda’ Sai da minha cabeça seu cretino”. Sai do meu coração também, de uma vez por todas.
Me arrumo como uma modelo de revista famosa. Minha melhor roupa do armário e maquiagem digna de atriz global para festa de novela das 8.Quando o carro para na porta do prédio eu desço e o vento no cabelo faz todo parecer uma cena de filme hollywoodiano
 - Entrada triunfal gatona – me deu um abraço apertado – sair vai te fazer bem.
- E o meu direito a luto?
-Ele acabou há cinco semanas atrás Li, já está na hora de você reagir.
- Isso é injusto! – disse cruzando os braços e me senti uma criança mimada – devia ser dois meses de luto para cada um ano de namoro. Quem inventou essas regras?
- Não tem regra nenhuma Li, mas você tem que reagir.
- Ta, mas eu dirijo pelo menos.
Enquanto acendia um cigarro, ela ligou o rádio. Mas eu não conseguia me concentrar na música.Algum sertanejo universitário nojinho que gruda na cabeça e está em toda e qualquer festa que você vá.
A , a música daquele casal fake que falava “Eu abri a porta do meu coração você entra, quebra tudo e me joga no chão, ainda dou a chave pra você voltar” ♪.
Bem oportuno.
Chegamos. Desço do carro e vejo gente conhecida. PESSOAS! AR! MÚSICA! Quanto tempo não via/ouvia isso. Até me senti bem.
Entramos e a banda já tocava. Como eu disse, tocava sertanejo universitário. Juro que não entendo o porquê isso, já é meio obrigatório em festas&bares. Daqui a pouco vai ser música de elevador também.
Sentamos em uma mesa e pedimos uns drinks. Encontramos as meninas da faculdade e todas me olharam com um misto de dó e medo.
- Você não aparece na faculdade há tanto tempo Lívia – disse uma com cara de dó, da pior dó. Mais dó do que você olha do cachorro magrinho e com aquele olho de ‘me ajuda por favor’ na rua – achamos que tivesse acontecido alguma coisa com você.
- Eu to de atestado – disse virando um copinho de tequila - o psicólogo me liberou.
A noite seguiu leve. Com muitas risadas e álcool , me senti viva de novo.
Levantei e fui ao banheiro ,e quando voltei desejei com toda a força ter uma faca na bolsa.
Ele estava lá , sentado na mesa.Com a Patrícia.
Repassei mentalmente o dinheiro que tinha na carteira, pensando quanto daria um táxi até meu apartamento. Pensei em correr , em passar reto pela mesa em ir embora , pensei me trancar no banheiro e chorar até toda água do meu corpo acabar e eu morrer de desidratação.Mas decidi ir lá e encarar a verdade.Nós fazíamos faculdade juntos.Eu os veria de qualquer jeito.E eu estava linda.
- A fila do banheiro estava imeeeeeensa – disse pegando a dose de tequila intocada da Jú e virando – ah, oi Samuel, tudo bem? Patrícia – sorriso torto.
Ele olhou pra mim e abriu a boca. A roupa era nova , tinha comprado uns dias antes para ir em uma festa da família dele.Ele sempre fazia essa cara quando me via bonita, ou com uma lingerie nova.
Todos da mesa estavam muito sem graça, exceto o casal pasta de dentes.
- Bom, vou lá fora fumar.
Passei pelo bar abarrotado de gente e sai por uma portinha que escondia uma escada. Um moço muito bonito estava sentado fumando.
Sentei na escada e peguei o maço de cigarros, tremula. O isqueiro não pegava- eu tinha fumado tanto nesse tempo, ele deveria ter acabado.
- Aqui guria – ele me emprestou o dele.
- Obrigada, mesmo - acendi o cigarro tremula e devolvi. Me senti segurando mil litros de água nos olhos.
- Dia difícil? – ele disse com um sorriso solidário (e lindo)
- Ex com a ex-amante e atual namorada na mesma mesa.
- Uau.
- È... – sorri – difícil.
Fumei um cigarro em minutos. Me acalmou um pouco.
- Obrigada pelo isqueiro, vou lá encarar a verdade.
- Toma –ele me deu um cartão – aqui está meu telefone. Qualquer coisa liga ,manda mensagem ... Carona ou qualquer coisa.
- Talvez precise mesmo.
Sai e fui pra mesa. Virei mais uma dose de tequila enquanto ele terminava de contar uma história engraçadíssima sobre  a viagem dos dois para praia, de como a casa da tia dele foi invadida de baratas.Para mim não era mais engraçado , sempre ficávamos na casa da tia dele , e isso só não acontecia mais porque eu tinha um truque.Sem mim , elas tomaram seu lugar de volta.
- O papo ta muito bom, mas eu vou para casa que já estou meio tonta- eu disse virando outra dose – uuuui – eu ri – beijos amores.
Cumprimentei cada um da mesa com um beijo no rosto, até o Samuel, mas a Patrícia não. Ela realmente tinha me magoado.Enquanto a Jú levantava da mesa e me abraçava sussurrando quilos de ‘me desculpa, eu não chamei eles’ eu mandei uma mensagem pro ‘guri’ bonito.
“A carona ainda está de pé”? Me encontra na porta de entrada’’
- Não é culpa sua Jú, eu sei que você não faria isso. Vou embora , te amo.
- Vai como?
Nesse momento sinto uma mão na cintura. Era ele.No escuro da rua , não conseguia ver mas ele tinha olhos verdes lindos.
- Vamos guria?
- Assim – eu sorri pra Jú e sai sem olhar para trás.
- Você é muito para ele – ele sussurrou no meu ouvido enquanto me levava pro seu carro.
Saldo da noite? Positivo. Não gastei dinheiro com o táxi e ganhei um beijo daquele lindo par de olhos verdes.E seu telefone.E um programa para amanha a noite.

2.12.10

Ele não me pertence part.II

Para ouvir : De mais ninguém - Story

Acordei com o sol no rosto  (droga , esqueci de fechar a persiana).A cabeça doía um pouco e eu demorei pra me lembrar onde eu estava.Virei de lado e ele estava lá , me olhando dormir.
-Você é linda quando dorme.
-Babando e com a boca aberta ? – eu ri – bom dia.
O bom dia dele foi interrompido pelo seu celular.Ele olhou e me mostrou o visor : Júlia.
- Atende.
Fiquei  na cama e ele saiu pra atender , piscando pra mim antes de sair do quarto.Preferiu sair de perto , e isso me deixou mais culpada(como se eu já não estivesse estava culpada demais).Eles não tinham nada sério , e eu gostava dele a muito tempo , mas a culpa era inevitável.Fui tomar banho.
Demorei mais que o necessário no banho e ouvi a porta da sala se fechando.Legal , agora ele foi embora.Será que vai vê-la , e transar com ela ainda com o meu cheiro ?
Me troquei ainda no banheiro , penteei o cabelo e sai.Fui pra cozinha e a mesa estava posta.Ele sentado no banquinho sorrindo pra mim – AQUELE sorriso.
- Achei que você poderia estar com fome guria , então fui comprar nosso café.
- Achei que você tivesse ido embora – disse enquanto sentava do lado dele e prendia o cabelo.
- Por que iria ?
- Júlia – abaixei a cabeça.
- Ah – ele jogou a cabeça pra trás – ela queria que eu fosse lá mesmo.Mas disse que não.Disse que estava com alguém.
- E por que ? Você não me pertence Dan.Você é dela.E quer ela.
- Madu – ele disse balançando a cabeça como se estivesse falando uma coisa óbvia até para alguém de cinco anos – eu sempre quis você.Sempre gostei desse seu cabelo vermelho , que quando a aparecia no pátio cinza da faculdade , iluminava tudo ao redor.Sempre gostei do seu sorriso quando fica com vergonha – ele disse passando os dedos pelo meus lábios – tipo esse que você está dando agora.Sempre gostei da sua letra.Sempre gostei das 15576764 mil camisas dos Beatles diferentes que você vai pra faculdade.Sempre gostei da sua ligação com música , sempre colocando ela em qualquer parte da sua vida.
Eu disse que estava com alguém , e pra ela parar de em procurar.Eu quero você Madu.Pelas próximas horas , dias , anos.Eu sempre pertenci a você.
Comemos em silêncio , nos olhando as vezes e abaixando o olhar.Depois que tiramos a mesa , nada mais foi dito.Não tinha mais nada a ser dito.Eu só liguei o rádio na minha música favorita e o abracei.
-Nas próximas vidas – ele sussurou no meu ouvido enquanto me conduzia para o quarto mais uma vez.