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31.12.11

Vá pra a puta que pariu, 2011.

 Para ouvir: 42 - Coldplay


Comecei meu ano do jeito mais adequado segundo os supersticiosos:pulando 7 ondas no mar.7 sempre foi meu numero e eu sempre fui supersticiosa, então acreditei que poderia fazer meu ano valer a pena.Horas depois de me despedir de 2010 (que havia sido um bom ano) eu dei olá pra 2011 com o pé esquerdo, e passei as primeiras horas do ano com uma agulha bem acomodada na minha veia mais visível, tentando parar em pé e manter a bile no lugar dela.Mas eu tinha você do outro lado da mesa olhando pra mim com cara de quem quer me pegar no colo e me fazer cafuné.O segundo mês foi horrível,com você em outro estado por vinte dias.Eu já chorava no segundo mês do ano.Provavelmente era pra eu me preparar para os outros 10.Tudo indica que foram nesses 20 dias que você aprendeu a viver sem mim.Março veio e me levou você.Em abril, completei mais um ano e você nem voltou e nem me mandou uma mensagem de fumaça que seja, com os dizeres ‘não te amo mais, mas, parabéns pelo aniversário”.Maio.Ganhei uma coisa babante e gritante em junho que eu chamo de irmã.E eu,tão singular,me fiz plural.Julho,Agosto.Setembro (que seria nosso aniversário de namoro), a novidade de você namorando.Outubro,Novembro e Dezembro só sentindo tua falta.E eu não te vejo há décadas.
É 2011 foi uma merda e de nada adiantou as 7 ondas puladas.Praticamente tudo deu errado,tirou o amor da minha vida,eu chorei mais do que chorei em todos os meus outros 17 anos de vida.Me despeço feliz e com o coração cheio de esperança para que 2012 me traga de volta todos os sorrisos que 2011 me roubou, embora me doa ver ir embora o ultimo ano que passei com você.
Eu queria mesmo era poder passar mais uma virada de ano do seu lado, te abraçando e continuar com as promessas de esse ser só mais um de tantos anos que vamos passar juntos.Nem que fosse de mentira,nem que você viesse me ver hoje e a gente fingisse isso.Mas, nem um mensagem eu vou receber.Termino mas um ano te amando e você não sabe o quanto eu queria que você estivessem aqui.Enfim.
Espero que 2012 me traga uma vaga na faculdade e quem sabe um novo amor.Da primeira parte eu tenho certeza, porém a segunda ainda me dá um nó na garganta.Porque no fundo eu sei que posso provar todos os abraços,mas só o nosso valera a pena.Porem, quem sabe o que o ano que vem nos espera? Quem diria que 2011 iria dar nisso? Então,citando Caio Fernando na frase que eu tenho tatuada, o que eu mais quero é que 2012 seja doce.
E a você que lê o 17av e me deu o ombro pra chorar durante 2011, eu desejo tudo de melhor pra sempre pra você.Muitos sorrisos e abraços e amores... "Pra nós todo amor do mundo."

19.12.11

Fim.

Para ouvir: Não leve a mal - Fresno

- Vem cá.Precisamos conversar.
- Aconteceu alguma coisa?
- Não.Quer dizer, aconteceu.Quer dizer, vem acontecendo há tempos, mas ou a gente não percebe ou finge não perceber.
- Você tá me assustando.
- Não precisa ficar assustada.A verdade é que não dá mais pequena.
- Não dá mais o que ?
- A gente.Não dá mais... Acho que é melhor cada um ir para o teu lado.
- Mas ... você não me ama mais?
- Claro que te amo.Mas, as vezes isso não é o suficiente.
- Se o amor não é suficiente, o que mais pode ser então?Não vamos desistir de nós mais uma vez , por favor...
- Não adianta.Quantas vezes já tentamos? Há quant...
- Não vezes o suficiente para dar certo.
- Se não deu certo até agora pequena, não vai dar.Há quanto tempo a gente tenta e sempre volta para o mesmo lugar?E cada vez que terminamos nos machucamos mais, e sempre voltamos com alguma cicatriz a mais para passar por cima.Não adianta mais.Tem coisas que não são feitas para darem certo.
- Não faz isso...
- Vem cá... não, não chora por favor.Pensa: quantas vezes eu já te fiz chorar? Eu só tô acabando com isso... Você não vai mais sofrer por causa de mim.Meu Deus, como vou sentir falta desse teu cabelo com esse cheiro gostoso que mistura cigarro, perfume e shampoo.
- Então não sinta... Fica comigo.Eu mudo, viro outra pessoa.Menos ciumenta, menos possessiva, falo menos eu te amo e até paro com o vício do computador.Eu faço qualquer coisa, mas não termina comigo...
- Eu já tô decidido.Não, pelo amor de Deus para de chorar...Você é incrível.Tem toda uma vida pela frente.Não é o fim do mundo.
- Mas é nosso fim.E esse 'nós' era meu mundo.
- Olha, me abraça mais forte e ouve bem o que eu tenho pra falar: Ambos merecemos pessoas melhores.Você vai achar um cara incrível que te dê todo o valor que você merece, que não liga de passar o final de semana todo contigo na tua casa ou que goste das tuas bandas ou que vá fazer você parar de fumar.Eu vou achar alguém que não ligue de passar o final de semana sozinha ou que goste de festas de família tanto quanto eu.Vamos achar pessoas melhores e daqui um tempo, os dois vão parar e ver que a melhor coisa que aconteceu foi isso.
- Mas como vai ser agora? Você vai pra casa e eu nunca mais vou te ver?
- Claro que não minha pequena, vem cá, deixa eu limpar essa lágrima preta que tá caindo do teu olho.Vai ser difícil no começo.Quer dizer,não vamos nos enganar, vai ser horrível.Vai doer terrivelmente amanhã de manhã, mais do que agora.As manhãs da primeira semana são sempre as mais difíceis.Então, na primeira semana, fique com as suas amigas o máximo que puder.Saia, beba.Só não beba demais,por favor,e não vá fazer nenhuma besteira,promete? Por favor, se cuida.Mas, quando a saudade apertar muito me liga.Eu também provavelmente vou estar pensando em ligar para você, e talvez até ligue primeiro.Mas nada de chorar no telefone, por favor.Vamos conversar sobre o seu dia,ou sobre o tempo.Só pra matar um pouco da saudade da voz.Não vamos nos ver pelo menos nos primeiros dias.Depois a gente até pode se encontrar.
- E quando você estiver com outra?
- Isso vai demorar um pouco.Quer dizer, vai demorar pra eu sentir vontade de procurar outra pessoa, porque eu já disse que amo você.Vai demorar para eu querer pegar em outra mão e cheirar outro cabelo.Mas eu não vou te enganar, eu vou beijar muitas bocas que não vão ser a tua nesse tempo.Mas vai ser uma fuga,eu duvido muito que alguma boca vai me falar alguma coisa que me dê vontade de ficar com ela pra sempre.Mas, quando eu estiver com outra pessoa, você já vai estar muito feliz com algum guri na fila do show de alguma banda que tu goste.Acredite em mim.
- Eu não quero ninguém... quero você , pra sempre, na minha cama, na minha sala,sendo pai dos meus filhos.Se você me ama, porque está fazendo isso comigo? Vai, me abraça mais forte.Eu não quero parar de chorar por tua causa porque eu prefiro brigar com você do que fazer amor com outra pessoa.
- Isso vai passar.Uma hora você vai acordar e ver que foi a melhor coisa que já aconteceu.Agora, eu preciso ir.Você sabe,tem meu numero,e tudo mais.Não quero perder contato com você, e se cuida por favor.
- Então acabou mesmo? Pra sempre?
- Quem sabe o pra sempre pequena? Talvez, mas só talvez, daqui a alguns anos a gente se encontre em um bar ou coisa parecida,e perceba que os dois amadureceram o suficiente para aceitar os defeitos de ambos.O tempo sabe de todas as coisas.Se for pra gente ficar junto pequena, talvez aqui, ou em outro estado ou quem sabe em outro pais, a gente se reencontra.
- Me dá o ultimo abraço.Não some.Eu te amo.E eu vou torcer pra gente se reencontrar.Se isso acontecer,já chega me beijando por favor, depois a gente vê o que vai acontecer.
- E como eu vou saber se você ainda me ama ou pensa assim?
- Se respiro,ainda amo você.

17.12.11

Elvis traduz.

Para ouvir:Blue Christmas - Elvis Presley

Querido você-sabe-seu-nome.
Passei uma noite de sexta melancólica no sofá de casa.Pintei o cabelo hoje e está aquele cheiro forte de tinta que você gostava.Zapeando os canais descubro que está passando 'Dear John" e fico por ali, esperando minha comida chinesa chegar e chorando com o filme.
Percebi que não consigo escrever alguma coisa decente há semanas.Não sei o que está acontecendo, a tristeza sempre me deu inspiração, mas agora parece que ela ultrapassou as barreiras e está me travando.Já era pra isso ter passado, afinal, já faz um bom tempo que você saiu da minha casa e nunca mais voltou, ou telefonou, ou pensou nela.Mas está dificil.
Enfim, após todo o choro que "Dear John" sempre me arranca e minha comida chinesas devorada em cima da mesa, me deu vontade de escrever.
Agora é natal e o prédio está todo enfeitado.Como quando eu mudei pra cá.O que torna tudo mais difícil, porque você sabe que eu odeio o natal, e as estrelas e cazinhas iluminadas lá fora me lembram que além do natal estar chegando,é que esse vai ser o primeiro que eu passo sem você.E dói tanto.Olhar pela janela e reconhecer os mesmo enfeites do ano passado.Não está o calor infernal do ano passado (o que é muito bom).Meu quarto tem um cama agora, o que de nada adianta porque você não está nela.Natal passado eu fiz a ceia e comemos assistindo aquele seriado médico que eu tanto amo (e que a ultima temporada havia sido seu presente).Eu sei que você não gostou muito, que queria estar com a sua família ou coisa parecida.Mas foi o natal mais perfeito da minha vida.Só eu e você, rindo, nos beijando.Meu Deus, se eu soubesse que 3 meses depois isso iria acabar pra sempre.
Eu desisti de ficar feliz sem você.Desistir de ter você é a coisa mais difícil do mundo, então estou me concentrando nela.Mas não me peça pra ficar feliz com isso.Eu aceito, porque é o que me resta fazer.Agora está com outra e eu realmente aceito isso.Mas entre aceitar e ficar feliz com a situação existem todo o tempo que passamos juntos.Brigávamos mais do que todos os casais do mundo inteiro juntos.Mas era incrível.Quer dizer, o namoro era uma porcaria afinal, mas eu tinha você.Você e essa boca linda em formato de coração.
Esses dias me perguntaram se eu sinto a sua falta.Eu não sei mentir, você sabe disso, e respondi "todos os segundos do dia".A pessoa me olhou com aquela cara de dó e disse o característico "vai passar..."
Mas, tá demorando demais.Com um mês disso tudo eu realmente acreditava que passaria.Com seis meses eu passei a duvidar um pouco, mas agora, depois de todo esse tempo e não vendo melhora nenhuma, eu sinceramente desisto de tudo.
Eu vou te amar para o resto da minha vida e eu tenho a absoluta certeza disso.Ninguém em todo esse tempo me fez tirar isso da cabeça, e eu sinto a sua falta cada dia mais.Todos dizem que uma hora vai aparecer alguém que vai me fazer esquecer você e me fazer ser a pessoa de antes.Eu sinceramente não sei se torço para isso ou tenho medo.Porque esquecer você é aceitar que tudo acabou de uma vez por todas.O que pode ser bom para mim, mas é uma idéia assustadora.Mas eu to vivendo.Não é fácil e nem legal sem você,mas eu vivo.
Enfim.
Feliz Natal para você, e para sua nova princesa.Eu ficarei aqui com meus amigos, e concordando com Elvis enquanto ele canta "I'll have a Blue Christmas without you ...."

28.11.11

Ela é sua?

Para ouvir: Someone like you - Adele

Ela sempre me liga no meio da noite, com aquela voz de choro e sempre diz a mesma coisa: 'sonhei com você de novo'.Eu, meio sonolento, escuto tudo que ela tem pra falar, um pouco prestando atenção e um pouco pensando em como ela está enquanto descreve seu sonho pra mim.Deve estar com um coque desgrenhado, com a franja na testa e fumando devagar.Pela voz está chorando, então deve estar com uma caixa de lenço de papel ao lado do maço de cigarro.Provavelmente com aquela blusa branca grande que cobre até metade da coxa e que meu deus, como ela fica sexy com aquela blusa.Está sentada na cama, olhando a janela,e chorando.Linda como sempre foi, e triste, como está nos ultimos meses.
"Vai, bota um casaco que eu passo ai pra gente tomar aquele sorvete de iogurte que você tanto ama" digo já descendo para tirar o carro da garagem."Você é louco" ela ri no meio do choro "são três e meia da manhã"."Você me acordou três e meia da manhã, não vou mais conseguir dormir então me deve essa.Bota um casaco um tênis e termina teu cigarro que eu tô passando ai em dez minutos" eu ligo o carro "tá,legal"  ela suspira "só não corre".
Três e meia da manhã as ruas são vazias.Velvet Underground me faz companhia até a casa dela que não é muito longe da minha.Assim que paro o carro na calçado do seu prédio a vejo descendo as escadas.Estava mesmo com um coque desgranhado na cabeça, que faria qualquer outra garota parecer minha tia-avó de 60 anos que mora no interior,mas que nela ficava lindo.
Ela vinha descendo com aqueles olhos inchados que eu já conhecia bem a um tempo."Meu Deus, você não dorme bem a meses" disse quando ela entrou no carro."É bom te ver também" ela diz em tom irônico enquanto me abraça.
Ela cantarola um pouco da melodia de "After Hours" olhando para a janela, o que me lembra a cena de 500 days of Summer, que eu havia assistido uma centena de vezes um pouco por culpa ela, e um pouco porque o filme era realmente bom (embora ela nunca vá saber disso).Me lembra a cena da Summer cantarolando The Smiths no elevador, que foi o suficiente para o Tom cair de quatro por ela.A cena toda é uma grande mentira na verdade, se fosse uma menina feia que não tivesse os olhos lindos da Zooey Deschanel e nem franja escondendo a testa, o nome do filme seria 25 seconds of Summer e acabaria assim que ele saísse do elevador.
"Você tá quieto" ela sussurra se ajeitando no banco "aconteceu alguma coisa?"."É só sono pequena, não se preocupe." ela me olha com cara de recusa "não me chama de pequena".Porém após dizer isso sorri e suspira.O cd do Velvet acaba e Marcelo Camelo toma conta do carro.Eu cantarolo baixinho e ela se aproxima para ouvir."Vou fazer um CD com essa música pra você" eu digo tentando prestar atenção na estrada "pra te acalmar esteja você morena aonde for".Chegamos ao quiosque 24 horas e paro o carro.Saio e abro a porta pra ela, mas antes de dar um passo a frente ela me abraça e sussurra no meu ouvido "a única coisa que me acalma é você".
Sentamos na mesa de sempre e eu vou pegar seu iogurte. "Um de abacaxi pra mim e um natural para guria da mesa" digo para o atendente."Ela é sua?" ele me pergunta admirando um pouco bobo ela tragando e mexendo nos guardanapos da mesa "Sim, é minha" eu digo olhando para a mesma direção.Pego os sorvetes e sento na mesa.Ela tem olhos lindos mesmo inchados e com olheiras de várias noites mal dormidas."não olhe para minhas olheiras" ela me diz rindo "eu tô horrível, eu sei"."Eu nunca te vi horrível, mas você está mesmo precisando dormir".Terminamos os sorvetes com poucas palavras e na volta para o carro ela me abraça e me beija aquele beijo só dela, com gosto de desespero,despedida e tesão."Me leva para sua casa" ela me diz com cara de desespero "eu preciso passar a noite com você"."Não precisa" eu digo a abraçando "você só precisa dormir".
"Dormir com você" ela diz com a cabeça no meu peito, e eu não consigo negar.O caminho todo para o meu apartamento é silêncioso e constrangedor.Porém quando chegamos ao quarto é tudo ao contrário.Ainda em cima dela, assopro a franja colada na testa pelo suor. "Eu amo você" ela sussurro beijando meu queixo.Eu também de amo pequena.Talvez para sempre.
"Vou pegar um taxi para casa" ouço horas depois enquanto ela deita em cima das minhas costas "daqui a pouco tenho que ir para um casamento tirar fotos e preciso de um banho".
"Eu te levo" digo levantando da cama. "Não precisa, sério.Continua dormindo porque eu já te incomodei demais hoje" e me beijou de novo, com gosto de despedida e pasta de dente.
"Passei um café fresquinho pra você e tem um maço do seu cigarro em cima da mesa" ela me diz já na porta "tchau".
"Ei pequena" eu grito e acho que ela não ouviu até eu ver um pedaço de sua franja na porta entreaberta "Será que um dia a gente ainda dá certo?"
"Olha" ela responde mordendo o lábio "acho que a gente já tentou o suficiente e viu que não.Mas eu sou sua de qualquer forma.Bom dia, eu amo você."

24.11.11

8

 "If I could be who you wanted all the time. All the time."

Para ouvir: Fake Plastic Trees - Radiohead

Quando você foi embora levou tudo.Eu pensei que tinha levado só as coisas ruins, mas depois de 3 batidas no relógio do ponteiro pequeno, percebi que tinha levado as partes boas também.Você foi embora e me levou junto.Porque essa é a unica explicação de eu ter mudado tanto.Eu não vejo meu sorriso sincero desde que você se foi com aquela ameaça estúpida.Não dá,não sai,não adianta.E eles tentam, tenho otimos amigos que tentam isso, mas não sai.Ele foi com você, e agora eu não sei onde está.Bom, se está com você, nesse momento meu sorriso está na cama de outra, com outro cheiro e outro corte de cabelo.Você sabe que nunca vai se livrar de mim né?Pode queimar todas as minhas coisas e nossas fotos.Pode nunca mais ouvir nossas músicas mas, querido, eu estou ai.Você me levou junto.
Eu estou sempre do seu lado.Te apoiando em tudo mesmo que você não saiba.Eu estou sempre a tua frente prevendo todos os teus passos.Atrás de você eu sempre estive, mas no momento estou quieta e me encondendo atrás das árvores.
E eu tô sempre aqui também , não a eu que você conheceu, mas a nova eu.Aqui sempre segurando o choro e querendo ficar dentro de casa pra sempre.Aqui sabendo que você não merece um quinto de tudo que eu sinto, mas querendo pegar o carro e ir te chamar no seu portão azul e implorar pra você voltar pra mim a todo momento.Aqui sempre procurando detalhes seus em outras pessoas, que no final só me irritam.Aqui no colo de outros e ouvido milhões de 'vai passar, você sabe que vai passar, uma hora passa, tudo tem seu porque, dê tempo ao tempo,Deus sabe o que faz, o que tiver que ser vai ser, ele não te merece, poxa não fica assim" e todo o resto.Mas eu sei (e no fundo, eles também) que isso não vai passar.
Enfim.
Guarde meu sorriso sincero com carinho.Por que ele é teu, e só teu.

22.11.11

 Para ouvir:Snuff - Slipknot

Sempre achei que esse amor era coisa de quem não tinha nada melhor para fazer. Eu só o sentia porque estava infeliz naquela vida pacata. Só por isso. Resolvi então agitar a vida pacata. E comecei a sair mais de casa, enxergar as pessoas ao meu redor, mais viagens, mais baladas. Amor é coisa de gente pacata e agora que eu tinha uma vida agitada, poderia, finalmente, mandar esse amor embora. Tchau, coisinha besta.
Nada feito. Só piorou. Acordava e ia dormir com ele engasgado aqui. Ficava inconformada. Mas aí concluí: amor é coisa de quem tem tempo pra pensar nele. Claro, mesmo com a semana agitada entre faculdade e trabalho, eu fico em casa o fim de semana todo, alegando cansaço, no silêncio das minhas coisas, claro que acabo pensando besteira. Aquele papo de mente desocupada casa do diabo, sabe? Amor do diabo. Fui procurar Jesus.
Depois de dez passes e de ler todo o Evangelho Espírita, achei que ficaria tudo bem. Ficou nada. Eu só parei de sonhar que botava fogo no apartamento do ser amado ou que arrancava os olhos de todas as mulheres do mundo. Parei, talvez, de odiar o amor. Mas o amor, na verdade, ficou lá. Duro que nem pedra. Daqueles que não vão embora nem com reza brava.
Amor adolescente, pensei. Com certeza, se eu virar mulher, esse amor bobinho passa. Amor de menina boba. Tratei, então, de virar mulher. Quem sabe mudando o visual, esse amor não se mudava de mim? Nada feito. Cabelo novo, roupas novas, sapatos novos, novas contas pra pagar. E o mesmo coração idiota. O mesmo amor de sempre. Coisa chata, não?
Ah, que que é isso! Amor deve passar com um novo amor, não? Olha lá aquele menino bonito te olhando, o outro que escreve bonito, o outro que te faz rir um monte, tem também aquele ali, com mão firme. Nada. Nenhum deles foi capaz de me salvar, de substituir minhas células cansadas em sentir sempre a mesma coisa. Nenhum foi capaz, nem por um segundo, de me levar para passear em outros tormentos. Ou outras alegrias. Qualquer outra coisa que seja.
Aí veio a idéia brilhante. Será que se eu mergulhasse de cabeça na estupidez desse amor, não me curava? Será que se eu, por um minuto apenas, parasse de sentir tudo isso de dentro da grandiosidade que eu inventei para tudo isso e enxergasse de perto como tudo é tosco e pequeno, eu não me curava? Só piorou. De frente para ele e suas constatações tão absurdas a respeito de tudo, só consigo sentir ainda mais amor. E quanto mais e maiores motivos para não sentir, ele e a vida me dão... Adivinhem? Sim, o amor cresce. Irresponsável, sem alimento, sem esperança e de uma burrice enorme. Ainda assim, forte e em crescimento.
Mas esse amor, ah, esse amor é coisa de quem não ama a própria vida. Se um dia, um dia eu pudesse realmente ser uma Jornalista. Ou até, nossa, se eu pudesse trabalhar na televisão sabe? Esse amor iria embora, claro. Nada feito. Estou aqui graças a minha maior qualidade: a fé. Sim, isso só não funciona pro amor, mas pra todo resto na minha vida acreditar sempre funcionou. Tudo certo com a minha vida. Ou quase tudo certo. Ainda sinto esse amor ridículo. Essa coisa infernal que me vence todos os dias, todos os minutos. Quantos bons contatos me admiram e me elogiam. Ainda bem que alguém além de mim acredita em mim. É tanta coisa boa acontecendo, tanta gente boa se aproximando que tá na hora de acordar. Enxergar. Receber.
Taí. Tá bom. O amor venceu. Você venceu. Venceu. Venceu. Venceu. E eu acabo de descobrir, simples assim, a única maneira de me livrar desse sentimento: aceitando ele, parando de querer ganhar dele. Te amo mesmo, talvez pra sempre. Mas nem por isso eu deixo de ser feliz ou viver minha vida. Foda-se esse amor. E foda-se você.
[Tati Bernardi]

10.11.11

"O elemento ex"

Para ouvir : Um cara de sorte - Detonautas

- Você tá linda.
- Você acha mesmo? Não sei... O vestido não está muito curto?
- Você tá linda Lia.
Eu teria que estar não é mesmo? Afinal, é a minha festa de aniversário e praticamente uma festa de despedida. Finalmente fiz meus sonhados 21 anos e consegui a cidadania na Espanha que sempre quis.Passaria um tempo lá, que pode variar de 6 meses a 6 vidas.Meu espanhol nem é assim tão ruim e tenho certeza de que lá eu aperfeiçoaria.Eu amo o frio e vou adorar o clima de Madri.Claro que sentirei falta daqui e dos meus amigos, mas sabe quando a sua vida já te deu no saco? Quando você fica meses sem conhecer gente nova e parece que tudo é chato e repetitivo. Está na hora de mudar e está tudo decidido.Amanhã a tarde pego meu vôo e vida nova, finalmente.
A festa estava planejada desde que a documentação saiu definitivamente (cerca de um mês atrás). Escolhi o lugar pra fazer e a lista de convidados só tinha gente bonita legal e amada.Amada até demais se for contar o nome de um ser.Ele.
 "O elemento ex" como diria o episódio de uma das minhas séries preferidas. Enviei o convite para o e-mail de todo mundo.Para o dele também.2 vezes.Convidei todos os seus amigos que também são meus, e para os que são mais meus amigos do que dele pedi ajuda."É só o que eu quero Vi.Eu quero vê-lo pela ultima vez.Talvez pela ultima vez na vida.Me ajuda por favor."
Na verdade, se for pensar bem, não posso nem chama lo de ex. Nunca namoramos oficialmente. Uma aliança gravada nunca repousou tranquila no meu dedo anelar direito, e a corrente que eu usava com uma câmera fotográfica que significava ele pra mim só era uma coisa minha.Status de relacionamentos nunca foram mudados em nenhuma das redes sociais que ambos possuíam.Conheço sua família pra quem fui apresentada como "uma amiga da faculdade".A mãe dele um dia me perguntou com ares afimartivos enquanto eu o esperava sair do banho para ir ao show da nossa banda preferida " Você o ama não é mesmo?" disse do meu lado enquanto eu olhava boba para uma foto dele enquanto ainda era um bebê.Fingi não ter ouvido e mudei de assunto.
Foram quase dois anos nessa de frequentar sua casa como amiga e sua cama como amante. Nunca exigi nada dele um pouco por medo de perde-lo e um pouco por achar que uma hora ou outra ele iria perceber que me amava.
Foi quando fui até a casa dele pegar um livro da faculdade que tinha esquecido no final de semana, que sua mãe me contou com toda a delicadeza e medo, percebendo que aquilo doeria "ele está com aquela menina loira... eu realmente esqueci o nome dela. Alias não gostei nada dela. Não lembro o seu nome, mas lembro muito bem que ele a apresentou como cargo de namorada e eu quase indaguei seu nome, porém ele saiu antes disso.”.
Eu não lembro muito bem como cheguei em casa, o fato é que eu estou aqui agora, com as malas prontas e desejando ve-lô mais do que qualquer outra coisa na vida.
Eles começaram a chegar e eu não consegui esconder de ninguém que eu queria que ele estivesse lá. Parabéns e desejos de boa viagem eram despejados em cima de mim.Depois que algum tempo, tirei o olhar da porta e fui me divertir.
- Parabéns Lia!
- Na verdade meu aniversário é só amanhã.
- Nada dele não é?
- Nada.
- Sabe? - disse me abraçando - ele está perdendo uma ótima festa.
Desisti. Bebi, dancei , me diverti verdadeiramente com todo mundo que foi.Como eu sentiria saudade deles.A noite passou, a festa acabou.Antes que me desse conta estava com o microfone na mão fazendo um discurso.No fim da festa, abraços, lágrimas ,risos promessas e pedidos de visitas.Fui de carona de volta para casa.
- Ele não veio - ela me disse segurando minhas mãos.
- Não - disse contendo as lágrimas.
- Eu te amo Lia. Vou sentir sua falta mais que tudo nesse mundo.Em dezembro vou pra Espanha te ver.
- Obrigada por tudo Vi. Vou te esperar gatona.As baladas não serão as mesmas sem você.
Em casa, tirei o vestido, o sapato. A maquiagem foi para o ralo com a água quente do chuveiro e algumas lágrimas.Coloquei aquela camisa velha tão confortável e sentei na poltrona perto da janela acendendo um cigarro." Acabou - pensei tragando devagar - acabou de vez algo que nem começou direito.Meu celular toca.
De: Ele.
07/07     04:06 AM
Feliz Aniversário guria.Que você seja muito feliz na sua nova vida... e me desculpa por tudo.

2.11.11

Volta.

Para ouvir:Com ou sem você - Strike

Chovia.Ninguém me atendia no celular e eu sinto que minha gripe iria evoluir pra uma bela pneumonia.Mesmo assim eu não ficaria dentro daquele carro.Tentei mais uma vez no celular.Nada.Tá, o fato de ser duas e quinze da manhã deve influenciar em alguma coisa nisso.Mas eu não ligava.Não nos falávamos a o que, mais de um ano.Eu tinha me segurado demais e agora eu precisava disso pra ficar em paz comigo mesma.Termina esse cigarro e vai Marcela.
Abri a janela e joguei o filtro rosa do cigarro na rua.Abri a porta e sai do carro.As gotas de chuva estavam grossas e frias, e até atravessar a rua, eu já estava bem molhada.
Em frente ao portão eu perdi um pouco a coragem.Aquele botão pequeno do interfone que gritava pra mim o número 7 nunca me pareceu tão grande.Apertei uma vez.
Meu cérebro pedia um cigarro e gritava SAI DAI SUA LOUCA.Meu coração batia num ritmo tão frenético que falava meio gago SE É O QUE VOCÊ QUER, PROSSIGA.
Não tive resposta.Apertei a segunda vez.
Eu estava começando a enxergar a situação.Lá estava eu, as duas e quinze da manhã, ensopada atrás de alguém que eu não via/falava a mais de um ano.
Apertei a terceira vez.Tá , se não tivesse resposta eu iria embora.Mas era demais pensar que eu não o veria hoje.Eu precisava.
- Oi - me atendeu uma voz de sono.
- Oi ,Caetano? É a Marcela.
- Marcela ? O que...
- Desce.Preciso falar com você.
- Tá chovendo.
-Eu não te perguntei como está o tempo Caetano.Desce por favor.
Desligou o interfone.Eu já estava preparada pra dar meia volta e ir embora quando o vejo descendo as escadas.Meu Deus, parece que a cada dia que passa ele fica mais lindo.O cabelos estava maior e ... sem dúvida tinha mais tatuagens.E caralho como eu senti falta daquele rosto nesse tempo.
- Você tem sérios problemas guria - ele disse forçando uma cara de bravo.
- Eu também não vim aqui pra você me falar o que eu já sei.
- Então você veio pra que ? Meu Deus, você tá toda molhada.
- Eu sei.
- Eu te convidaria pra subir, mas minha namorada está lá em cima.
- Tá, já tá bem difícil eu estar aqui, então se você parar de falar e deixar eu fazer o que eu vim aqui pra fazer.
- Tô quieto.
- Volta.
- Pra onde?
-Pra mim.Pra minha casa, pra minha cama.Pra minha estante que tá vazia sem seus livros.Volta pro lugar de onde você nunca devia ter saído.
- Já faz mais de um ano.
- Eu sei.
- E você ouviu a parte do 'minha namorada está lá em cima'.
- Ouvi.
- Sua resposta é essa.Se cuida, eu sei que qualquer chuvinha você fica bem doente.Vai pra casa e toma um banho, não morre não tá.
Foi embora.
Eu estava em um torpor tão grande que acho que não percebi o que houve.Voltei para dentro do carro, acendi o cigarro e dirigi sem música até meu apartamento.Sem uma lágrima derramada.
Estacionei o carro, entrei , tomei um banho, tirei a roupa molhada e já deixei separada a carteirinha do convenio que eu sabia que teria que usar no outro dia.Fiz um chá quente que tomei olhando pro nada.Quando deitei na cama o sol já estava tímido lá fora.O céu estava laranja e as pessoas começavam a sair pra trabalhar.
Deitei tentado não pensar em nada, tentando esquecer o que tinha acontecido.Você tentou.Agora pode dizer que fez tudo que podia.Você havia errado em te-lo traído e estava pagando por isso nesse um ano.Foi uma traição besta "mas se você me amasse nunca teria feito isso".Sai da minha cabeça amor.Vou te chamar de amor nos meus pensamentos pra sempre, aproveitando que ninguém ouve , e que você pode ser meu pra sempre neles.
Eu estava pegando no sono quando o interfone tocou.Deve ser o porteiro falando que eu deixei o carro na vaga errada de novo.
- Eu já desço pra tirar o carro Sr.João.
- Doida.
- Caetano?
- Só vim ver se você tá viva depois da chuva de ontem.
- Tomei um banho e aquele chá que eu sempre tomo, mas tô com aquela dor nas costas, então vou dormir um pouco e vou no médico mais tarde.
- Deixa eu subir pra fazer um chá decente, porque o seu é horrível.
Abri o portão.Eu o conhecia muito bem e sabia que se ele veio até aqui pra fazer o chá, era isso o que ele faria.E iria embora.
Subiu com uma mochila.Me abraçou forte .Se não fosse pela minha dor nas costas, seria o momento mais perfeito da minha vida.
- O que tem na mochila?
- Psiu.Deita que eu vou fazer o chá pra você.Cadê seu remédio?
- Acabou ...
- Tá - entrou no meu quarto e saiu de lá com travesseiros e um cobertor grosso- então você fica ai que eu vou na farmácia comprar - arrumou os travesseiros nas minhas costas e jogou o cobertor por cima de mim - eu trouxe aquele filme com o cara que faz o vampiro que você tanto gosta - pegou o controle em cima do da tv e colocou o filme pra rodar - eu já volto.
Fechou a porta com cuidado levando a chave.

- Seu porteiro ainda me conhece - ele riu.
Ouvi barulhos na cozinha.
- O que você tá fazendo?
- Seu chá.
Alguns minutos depois ele voltou com uma caneca de chá quente.Me deu a caneca, sentou se comigo e coloco meus pés em seu colo.Como nos velhos tempos.
Eu queria, e queria mesmo prestar atenção no filme, mas ele estava lá.Comigo.Depois de um ano ele estava na minha casa, fazendo o chá que eu tanto amava e cuidando de mim do mesmo jeitinho.Eu sempre me odiei por te-lo traído, mas hoje o ódio de mim mesmo estava no ápice.Porque eu tinha a absoluta certeza que depois do filme ele me daria um beijo na testa e iria embora.Eu nunca quis que o filme demorasse tanto.
- Obrigada.Por vir aqui cuidar de mim... Pelo chá.Obrigada.
- Assiste o filme guria.
O filme acabou e eu chorei no final.Na verdade, na hora eu não sabia se eu chorava com o final do filme ou pelo final dele.Eu sabia que seria a hora da despedida e meu Deus, como isso iria doer.
- Tá melhor ?
- Sim - disse me arrumando no sofá- e tem como não estar?
Ele levantou e levou a caneca para cozinha.
Depois, sentou no mesmo lugar que estava , pegou o controle da minha mãoe e começou a zapear os canais.
- Cadê os meus canais de jogo e luta?
- Cancelei - disse olhando pra ele apoiando a cabeça no braço que estava apoiado no sofá - eu não gostava daquilo.E não tinha ninguém aqui pra ver.
- E seu outro namorado? Ele deveria gostar de luta.
- Não teve nenhum outro Caetano.Depois de você, não teve ninguém.
- Só durante né - ele disse levantando do sofá- bom acho que você já acorda melhor.Dorme um pouco guria, você não dormiu desde a hora que chegou.E eu tenho que resolver uma coisas também.
Ele pegou a mochila que estava no chão e foi tirando alguns livros (que eu conhecia muito bem) de dentro dela.Colocou exatamente no espaço que eram deles antigamente.
-Ainda faltam alguns, eu volto mais tarde pra trazer.
- Volta? - eu perguntei levantando do sofá.
- Você pediu lembra? Voltei.Agora liga pra tv a cabo e pede meus canais de luta e jogo de volta amor.Porque eu tô voltando pra ficar.
-Eu ligo depois - disse o abraçando com força-  agora minha cama andou me contando que está com saudades de você e desse seu cheiro - disse começando a beijá-lo.
- Calma amor.Ainda temos muito o que conversar - e voltou a me beijar - mas isso pode esperar um pouco ...
- Pode - eu disse tentando tomar ar - isso e a ligação pra tv a cabo.

21.10.11

Nossa casa.

 Para ouvir: You and Me - Lifehouse

- Bom - disse ele sorrindo e com os olhos brilhando - aqui é nossa casa pequena.
Entrei naqueles 3 comodos tão sonhados por nós.Era pequeno - alias, não tinha nem espaço para nós direito.Tinha o chão de um piso que prometia atingir graus abaixo de zero no frio,mas que no calor manteria a casa fresquinha.Tinha janelas brancas com  persianas azuis que eu percebi que ele havia comprado, já que no nosso primeiro encontro as citei.AS paredes eram todas brancas e ele espalhara algumas de nossas fotos por ela.Haviam fotos nossas pela casa inteira.O banheiro tinha um boxe do tamanho de um pote de bolacha, que parecia não caber ninguém, mas que teria o tamanho exato para o nosso amor e para nossos gemidos.Na cozinha havia um fogão, uma geladeira a pia e um pequeno armário acima disso. Encostada na parede em frente havia uma mesa de madeira rústica com duas cadeiras.Uma rosa vermelha em cima dela.
O quarto era feito exatamente para cama.Era uma cama de casal comum com um edredon com girassóis, que eu havia comprado no nos no primeiro mês de namoro.Não tinha dado falta que ele sumira do meu guarda roupa.Havia um guarda roupa com ares de não caber nem metade das minhas roupas, e pelo visto meus sapatos teriam que ficar embaixo da cama.Quando dei a falta do espelho e fui fazer um comentário, ele entrou no quarto e apontou atrás da porta.Era pequeno, mas tinha uma boa iluminação e não ocupava espaço nenhum.A sala era a menor parte da casa e contava com 5 móveis ao todo: um sofá de dois lugares verdes , uma mesa de centro na mesma madeira rústica da mesa da cozinha, duas poltronas do mesmo verde que o sofá e uma estante para livros que sem dúvida era a maior coisa que havia naquela casa (ocupava uma parede inteira).
O cheiro de casa nova se mesclava ao cheiro de vida nova.
-Esse é seu palácio princesa - ele sussurrou no meu ouvido enquanto me abraçava as costas - não chega nem perto do que você merece, não é metade do que é a casa dos seus pais e acho que a casa inteira é do tamanho do teu quarto, mas é seu.É meu também, é nosso.
- Não tem televisão? - apontei para uma das poltronas.
- A gente afasta uma delas e compra uma.Também não tem mesa para computador, mas você não sabe quantas vezes te imaginei sentada nessa poltrona com seu notebook no colo, escrevendo seus textos que ainda vão te deixar famosa.A cozinha mal cabe nós dois mas sei que vai caber você me esperando quando eu chegar do serviço, com um beijo nos lábios e o cheiro daquele arroz soltinho que só você sabe fazer.Fiz essa estante com as medidas da parede pra você guardar todos os seus tantos livros - me mostrou a mão com alguns curativos- e vou te dizer que deu trabalho.Esse é só o começo pequena.Mas quero começar com você.Bem vinda a nossa casa.
- É perfeito - foi só o que eu conseguir disse antes de pular em cima dele e começar a beija-lo, sentido que ele me levava até a cama com edredom de girassóis.Realmente era perfeito.

14.10.11

O som de sua risada.

Para ouvir : Perfeita Simetria- Engenheiros do Hawaii

Vamos, não me olhe assim , eu sei que você já passou por isso.A vida é feita desses momentos, onde você não sabe o porque, mas sabe que aconteceu por um porque, e sabe que aquilo ainda vai dar em alguma coisa.Não me olhe com essa cara de 'você já é bem grandinho pra esse tipo de coisa" pois esse tipo de coisa não se guia por idade.
Aconteceu em um dia normal, aqueles dias que você levanta da cama com vontade de não existir.Tomei meu café e sai de casa ouvindo a música de sempre.
O dia só mudou um pouco quando entrei na sala e a vi.E os dias começaram a mudar a partir de então, sempre levantava com vontade de existir para ela.
Ela tinha o riso fácil, mas um riso que sempre parecia forçado.Tinha olhos melancólicos que sempre pareciam estar brilhando de alegria, mas que quando você olhava de perto , via que estavam cheios de lágrimas.Fumava como se sua vida dependesse disso e estava sempre ouvindo música.
Apesar de tudo, nunca estava sozinha.Sempre com muitas pessoas, sempre com um riso forçado/educado no rosto.Sempre parecendo que não pertencia aquele lugar.E eu? Eu sempre a observei, com vontade de pega la no colo e dizer "chora menina, chora todo esse choro contido que tá dentro de você.Vamos ensopa minha camisa xadrez, eu não ligo. Seu lugar é aqui pequena, aninhada no meu colo enquanto seus amigos com cara de inteligentes discutem Machado de Assis ou uma música de elevador.Chora e depois sorri pra mim esse seu sorriso fácil, que pela primeira vez vai ser sincero e vem pro meu mundo, com papos menos inteligentes e com cigarros sem gosto de fruta, mas com tantas músicas quanto o seu e com mais amor do que qualquer outro."
Foi quando peguei seu isqueiro que ela havia deixado cair, e ela sorriu um sorriso caloroso, que percebi que sempre tinha procurado aquela menina nas boemias sem razão de ser, nas letras das músicas das minhas bandas preferidas, nos shows com música boa e cerveja ruim.Mas ela estava ali, e sentava ao meu lado na aula de literatura, e que seria assim pelos próximos 4 anos.
Quando conversávamos sobre alguma coisa da aula, era algo rápido e superficial.Sempre dava um jeito de faze-la rir e um dia a vi comentando com uma amiga 'eu gosto dele, ele me faz rir".Desde então passei a faze-la gargalhar.Embora as vezes o riso parece forçado (o que eu já mencionei que era normal) eu gostava do som dele.
Na verdade eu gostava em tudo dela.Sempre procurava um assunto só para poder faze-la rir e ouvir o som de sua risada.Adorava quando ela debatia com o professor sobre o ultra romantismo que ela considerava o melhor e mais revolucionário movimento literário e como ela mudava o tom de voz e mexia várias vezes no óculos estranho durante as conversas.Adorava o jeito impaciente de bater a caneta na mesa quando alguém começava a extrapolar de conversas e risos toscos durante a aula.Adorava o cabelo vermelho que sempre parecia mais vermelho no começo do mês.
Foi quando ela apareceu na faculdade com um blusa da minha banda gaúcha preferida.O assunto perfeito que começou no intervalo das aulas, se extendeu até um bar depois da faculdade e me rendeu seu numero de telefone.Com o numero de seu telefone eu conseguia ouvir o som da sua risada sem que eu quisesse.
E começamos a conversar mais e ir mais para barzinhos depois das aulas.Porém seu olhar melancólico nunca mudou.O riso comigo parecia menos forçado.Mas ela sempre parecia estar segurando o choro.
Foi quando realmente chorou na minha frente que eu percebi que queria ela pra sempre.A abracei e ela me contou o que parecia que não tinha contado para ninguém.Eu a queria para sempre e ela queria outro.Porém, sentia algo por mim que nunca conseguiu entender desde a primeira vez que me viu 'algo quente, caloroso.Como se você fosse me abraçar e tirar toda a dor que eu sinto".
Nos beijamos.Ela tinha o beijo calmo, com gosto de cigarro de cereja e estava cheirando shampoo.Foi embora deixando um 'até amanhã' junto com a blusa que esquecera aqui.
Agora estou aqui, rolando na cama e conversando com você e esperando ansiosamente o amanhã que ela me prometera.Vai , não me olha assim.Se o que ? Sim , estou disposto a tirar a dor dela.Quero ver como são aqueles olhos sem lágrimas e mais do que tudo no mundo ,quero aquele sorriso fácil pra mim.

7.10.11

Despedida.

 Para ouvir:Feito pra acabar - Marcelo Jeneci

- Vamos, eu conheço um lugar por aqui.
Aquilo não poderia acabar bem.Não tinha a minina chance de isso acabar bem.Não havia nenhuma probabilidade ao meu favor , mas em qual mundo uma ariana respeita o conceito de chance e acredita em probabilidades?
- É longe ? - perguntei torcendo para que não fosse.Eu ajo por impulso, sempre foi assim.Mas os impulsos desaparecem quando se tem algum vácuo de pensamento.A razão chega com o tempo, e esse tempo eu não queria ter.
- É perto.Bem perto.
Paramos em frente a um prédio antigo.A rua ainda estava molhada pela chuva que caíra antes, e o ar estava com aquele cheiro de chuva.Alias, cheiro de asfalto quente molhado.Típico de verão.Porém, o vento estava gelado.As 3 da manhã, o que você esperava Cecília?.O vento é sempre frio as 3 da manhã.
O carro parou e ele desligou o rádio.Sem música, pude sentir a razão voltando lentamente.Tentei afasta-la, olhando para aqueles olhos.Os olhos mais lindos de que já se teve notícias.Ele percebeu e sorriu, um sorriso malicioso que estava em total desacordo com o seu rosto angelical.Não que isso o deixasse feio, muito pelo contrário.Só deixava a razão mais longe.
Coloquei o salto vermelho pra fora do carro e o vento frio foi como um balde de água fria.Parece que alguém estava tentando me fazer acordar de tudo aquilo.Me encolhi tentando voltar ao torpor que me encontrava.Senti algo quente nas minhas costas.
- Toma, é melhor você colocar isso.O vento está glacial - colocou a jaqueta de couro nas minhas costas.
- Não, não precisa - disse só por educação.De fato estava frio,e eu não sabia se ainda teríamos que andar muito.
- Apenas aceite - disse colocando os braços sobre meu ombro.
Caminhamos assim até o outro lado da rua.O perfume dele fazia com que a razão não se aproximasse muito.Ela estava ali, só esperando uma fenda na armadura de pele e perfume que ele formara ao meu redor.Não tente dona razão.Acho que dessa vez você perdeu mesmo.
Ele me soltou para abrir um portão grande de ferro e eu temi que senhora razão se instalasse em mim naquele momento.Mas não, ou ela havia desistido ou ficou pro lado de fora do prédio.Lá dentro estava escuro ( a pouca iluminação que havia vinha de uma grande janela no fim do corredor) mas dava pra reconhecer uma escada a poucos passos.Lá dentro não fazia frio.E não havia nenhum resquício de razão.
Subimos a escada em silêncio e paramos em frente a uma porta.O número era 347.Fiz os cálculos mentalmente como sempre.Já havia um 7. 3+4 =7.Dois setes no mesmo numero.Era o sinal que eu precisava.
Ele abriu a porta e me fez sinal com a mão para eu entrar primeiro.Entrei.Não tive tempo para me virar ou para olhar o apartamento (que parecia muito bem decorado a primeira vista que durou 51 centésimos de segundo).Só senti as mãos na minha cintura é a saliva no meu pescoço.Já não existia mais nada.De longe ouvia que a chuva recomeçara com força total, o que me dava algumas horas a mais nesse apartamento quente.Senti suas mãos tirando a jaqueta que se encontrava sobre meus ombros.Me rendi.Abri os olhos e o vi de olhos fechados.Não havia mais o que fazer,a não ser sentir tudo o que eu estava guardando a tanto tempo.Tudo nele era lindo.A pele branca dava o contraste perfeito para o preto da tinta das tatuagens.O cabelo bem preto e sempre bagunçado.O xadrez verde , os jeans apertados e rasgados.O gosto de cigarro na boca.Senti o colchão nas minhas costas.
Acordei horas depois (não sei falar ao certo quantas, porém já fazia sol).O sol batia nas minhas costas e ardia.
- Bom dia pequena - ele sorriu.Escorado na janela do quarto (que eu não havia notado na noite anterior) com uma regata branca, os mesmos jeans da noite anterior e uma caneca nas mãos - pensei que tu não fosse acordar nunca.
- Podia ter me acordado - disse me levantando devagar.Mesmo com o cuidado , tudo girou ao meu redor - que horas são?
- Quase dez.
- Que dia da semana é mesmo?
- Domingo.
Deitei de novo.Ouvi ele deixando a caneca em algum lugar.Ligou o rádio ao fundo que tocava Beatles.
- Penny Lane - sorri de olhos fechados.Ele me abraçou.
- Eu sei que é a sua favorita.
Aquilo não daria certo.
-Acho melhor eu sair logo daqui - me virei para ele.
- Fica - ele deu um beijo na minha testa - você é linda quando acorda.
Corei.Aquilo não estava certo, mas havia mais alguma coisa a se fazer?
- Eu vou embora amanhã - ele disse olhando nos meus olhos - porque isso demorou tanto tempo para acontecer?
- Não sei.Mas preferiria que não tivesse acontecido - abaixei os olhos para tentar ser forte.
- Não fala assim pequena.Isso foi a melhor coisa que podia ter acontecido.Vou me lembrar disso todas as noites.Eu volto pequena.Não quero perder você... já passamos tempo demais um sem o outro.
- Eu não vou te esperar - disse falando o óbvio - é tempo demais.
- Não tô pedindo para você me esperar.Não precisa parar no tempo , viva sua vida da melhor maneira possível.Vamos nos falar todos os dias e se for pra acontecer , vai acontecer quando eu voltar.Mas - ele riu e bateu o dedo no meu nariz- vou torcer para você estar sozinha.Vou sair do avião e ir direto para seus braços.Espero que não haja ninguém no meu lugar.Porque esse lugar é meu pequena.Você sempre soube disso.
O abracei, achando de um jeito imbecil que se eu o abrasasse, poderia impedi lo de ir.E recomeçamos tudo o que fizemos na noite anterior, ambos tentando esquecer que alguns anos passariam até ele voltar ao lugar dele.Que era dele,nós sempre soubemos disso.

5.10.11

Paixão.

“Confia em mim, ele vai te encontrar. Mas siga sua intuição, não perca tempo e beleza com rapazes feitos para outras garotas. Só pelo andar da carruagem você já sabe quem vem dentro.”
Gabito Nunes

Para ouvir:Todo amor que houver nessa vida - Cazuza

Tô com saudade de me apaixonar.Daquela coisa boa, que te faz rir de boba a todo momento, que o ele não sai da sua saliva (seja com a língua ou com o nome).É claro, meu coração ainda tem algumas taquicardias quando vê/ouve/lê/sente algo daquele que por anos foi meu.Mas isso não é paixão, isso se enquadra no amor.E na categoria de amor que a gente deixa lá no fundo do peito, que ninguém sabe que existe e que só é revelado nos momentos em que você está em poder do álcool ou de alguma música/filme que toca lá no fundo.E que você sabe que vai ficar lá, bem no fundo pra sempre.Mas isso não é paixão.Eu quero sentir de novo o coração batendo na glote, onde você se pega pensando nos momentos mais íntimos ao longo do dia.E cora de vergonha.E tenta se concentrar no que estava fazendo antes , mas  a mente é tomada pelo cheiro do outro, pela textura do toque, pelas palavras ou ruídos emitidos.Você olha para o celular e se pega rindo quando vê que as horas estão iguais.Logo você, que sempre achou isso uma idiotice descabida, está ai, toda derretida.E ai você aguarda ansiosamente o seu celular tocar, ou o telefone da sua casa, ou a janela do MSN piscar, ou alguma coisa pra sua @.E quando algo chega, você se pega rindo sozinha novamente.
Saudades de quando a gente acorda com vontade de viver, e de viver o dia bem rápido só pra ver a pessoa no final dele.Ou para vê la naqueles dois dias no final de semana , onde parece que você tem que viver o mês inteiro para que eles cheguem.
Saudades de chegar em casa com o cheiro todo dele, e ter vontade de ir pra cama com a mesma roupa só para o cheiro não se perder.Saudades de ter pra quem mandar mensagem as 3 da manhã de 'só estou com saudades'.Saudades de ter pra quem oferecer as frases melosas do meu Caio f abreu, e vontade de conseguir ler o ultimo capítulo do livro do Gabito (O amor quando novamente o encontramos).Saudade de sexo depois de acordar, com o cabelo ainda bagunçado.
Saudades de ter pra quem correr quando tudo parece estar desmoronando.Saudades de um "alô?" mudar a cor do mundo todo.De quando a saliva da pessoa tem o melhor gosto do mundo.Enfim , saudades de estar apaixonada.E de isso não doer.Isso um dia acontece.Tem que acontecer uma vez, pra todo mundo.

Untitled*


Para ouvir:The Boy With the Arab Strap - Belle & Sebastian

Acordei cinco e meia da manhã pra me arrumar.Precisava disso , porque estava me sentindo um lixo.
A escova eu tinha feito antes de dormir , então escolhi a roupa.Uma saia cintura alta verde , com uma baby look azul. Head band da cor da saia e uma sapatilha da cor da camisa.
Maquiagem. Pronto , estava linda.
Saindo de casa , percebi que tinha esquecido uma coisa : meu amuleto.Tá , eu sei que não disse que o usaria na escola , mas eu precisava dele.Voltei correndo pro meu quarto e o peguei.Era incrível como me sentia melhor com aquele pingente , era quase mágico.Um filete extremamente fino de ouro branco formando uma clave de sol.Era sem dúvida a coisa mais linda que eu já havia ganho.
Sai de casa e fui caminhando pra escola ao som de ‘ Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band
Cheguei na escola e fui recebida pela Jess , que tinha trocado o cabelo lissérimo castanho claro até a cintura por um channel de bico bem cortado e um preto azulado.Tinha ficado lindo, seus olhos irritantemente azuis agora pareciam mais irritantemente azuis ainda.
O aula passou como tinha que passar.A professora de português tinha um ar ríspido; sempre teve. Esse ano estava pior. As (más) línguas dizem que foi por que o marido a largou por sua secretária gostosona de 25 anos, mas a historia ainda não estava confirmada (exceto pelo fato dela agora usar um anel de diamante falso no lugar da aliança).Ela fez chamada oral de "Alice no país das maravilhas".Pelo menos uma nota boa esse ano.
Na hora da saída , fui andando com a Jess.Demorei mais do que de costume quando o fichário da Jess caiu e as 1547899565248599  folhas se espalharam pelo pátio.Ajudei ela a pegar e fomos as ultimas a sair da escola.
E ele estava lá.Lindo , com um sorriso branco de tirar o fôlego,a Jess o viu antes de mim e me beliscou. ME abraçou e sussurrou no meu ouvido “chegando em casa me ligue e conte TUDO”.
Fui até ele.
- Olá estranho.
- Estranho – ele sorriu – Já esqueceu de mim ? Desculpa não ter vindo antes , estamos ensaiando muito.Mês que vem tem um show muito importante pra nós , vamos abrir o show de uma banda bem famosa.Estamos ocupados com a set-list nova e tudo isso.
- Imagina ... mas confesso que pensei que você não viesse mais.
- Claro que eu viria. Posso te acompanhar até em casa ?  - ele perguntou tirando o fichário da minha mão – esse aqui eu levo.
- Eu só aviso que minha casa é muito perto daqui.
-Tudo bem.
Silêncio.
- Então você é novo por aqui mesmo ?
- Sim.Minha mãe morreu a um tempo atrás – ele deve ter percebido minha cara de “sinto muito”  - não , não sinta muito , não faça essa cara.Não gosto dela.Meu pai resolver largar a cidade e vir pra cá.Mas viaja muito , ele é produtor e está sempre fora de casa.Então minha casa é a casa do Duda porque fico muito lá.
- Entendi ... bom , chegamos.
- Já ?
- Eu disse que era perto ... Não gostaria de entrar para tomar uma xícara de café  ?
- Aceito o convite , mas não tomo café – ele disse e riu.
Abri o portão da minha casa e percebi que tudo estava silencioso.Quando entrei , o cheiro do bolo da minha mãe invadiu meu nariz. Tinha um bilhete na geladeira.
 Ana amor ,
Sua vó não está bem , vamos ficar hoje com ela.
Tem bolo no formo e comida na geladeira.Se precisar comprar alguma coisa , tem dinheiro no lugar de sempre.
    PS : tem um presente pra você no seu quarto.

- Parece que não tem ninguém em casa.
- Sim ... bonita casa você tem.
- Bom , vamos lá em cima que eu quero ver o tal presente. Ai te mostro a casa.
Mostrei a sala , e expliquei o porque tem contoneiras na mesa de centro – porque mesmo com 5 anos , meu irmão vive batendo ali – subimos , mostrei o quarto da minha mãe , todo em branco e só um vaso de vidro com rosas vermelhas e 3 portas retratos vermelhos ( uma foto minha , uma do meu irmão, e uma de nós dois juntos) de outra cor.O quarto do pestinha  inteirinho do homem aranha , incluindo cortinas e tapetes.E o meu.
Meu quarto era minha parte preferida da casa.Todo em branco , com uma bay-windows que dava pra rua. A cama bem no meio do quarto , com um adesivo grande de um clave de sol preta do lado.O chão era de carpete felpudo bege , e na parede de frente pra cama tinha o guarda roupa roxo pegando a parede até um certo ponto.Quando ele acabava , começava um espelho grande.
A mesinha do computador em frente a janela , com a minha foto na frente da torre Eifel em um porta retrato roxo.
Em cima da minha cama , na cocha branca grossa , estava  uma caixa branca com fitas roxas.
- Tão sugestivo  - ele disse e riu – seu quarto é incrível.
Eu sai correndo e abri a caixa.E lá estava ela , a câmera profissional mais foda do universo.Eu tremia.Tinha escolhido ir pra Paris no lugar dela ano passado , pensei que nunca ganharia.
- Olha , além de música você gosta de fotografia ?
- Sim ... acho que todas as artes em suas mais variadas formas me fascinam.Agora sorria.
Tirei uma foto e coloquei a bateria pra carregar.Coloquei a caixa dentro do guarda roupa e sentei na cama.Cadu sentou se do meu lado.
Foi instantâneo , instintivo : nos beijamos.E não foi um beijo comum (embora eu duvidasse muito que algum beijo dele era comum) foi um beijo ... intenso. A palavra era essa.O beijo mais doce e mais intenso que eu já tinha provado.Mas , do nada , ele se afastou.
- Eu fiz alguma coisa errada ? – era tão eu fazer isso.Ter aranhado a nuca dele com a minha unha , ter mordido forte demais , ou qualquer coisa assim.
- Não imagina. Mas é melhor pararmos .Porque ... bem , estamos sozinhos.Na sua casa , no seu quarto , e digo mais , na sua cama.E você , linda desse jeito na minha frente , com esse beijo maravilhoso ... não sei se posso me segurar.
Eu nunca pensei que ouviria isso de um menino.Confesso que passou na minha cabeça isso , mas sabia que eu ia parar quando ficasse demais ... eu estava me apaixonando cada vez mais por ele.
- Desculpe.Então , vamos descer e comer o bolo da minha mãe que , sem brincadeira , é o melhor da cidade.
Ele ficou comigo a tarde toda.Comemos o bolo ,conversamos sobre tudo e ficamos assistindo televisão na sala. E nos beijando, claro.Como qualquer começo, nossas bocas pediam uma a outra.E nos atendíamos (muito bem) o desejo delas.
- Já são quase sete horas pequena.É bom eu ir  pra casa , senão daqui a pouco a empregada chama a polícia – ele disse levantando do sofá , me puxando pela mão.Parou na minha frente e olhou nos meus olhos  - foi uma tarde incrível.
- Eu concordo – dei um selinho nele – te levo até a porta.
No portão , ele me abraçou.E não de um modo normal , foi aquele abraço que parece que o mundo gira devagar sabe? Eu sei que isso é letra de música , mas a sensação é exatamente essa.
- Me dá o numero do seu celular Ana ... Não quero perder o contato com você ... nunca mais.
Passei meu telefone pra ele e nos despedimos.Subi pro meu quarto pra mexer na câmera , e vi a foto dele.Ele era tão lindo.Não podia entender o que eu tinha pra ele gostar de mim.Aliás , nem sabia se ele gostava não é ? Nem sabia se o veria de novo.Admirando a foto , meu celular toca.
A mensagem com o número desconhecido dizia  ‘ Foi uma tarde realmente incrível.Ouça Belle & Sebastian por mim? Sinto que vc vai gostar pequena."
Não consegui mais me conter.Eu estava completamente apaixonada por ele.E nada mais podia mudar isso.
* "Untitled" é a tentativa de um """"livro"""" que eu comecei a escrever com uns 15 anos e hoje encontra se com 27 páginas escritas perdidas por toda parte no meu computador.Perdi mais da metade dele várias vezes,reescrevi, e perdia de novo com pendrives queimados e tudo mais, então desisti dele.Como eu ainda não havia dado um nome a ele, ficou Untitled mesmo.

22.9.11

"Festa"

Para ouvir: Amor para recomeçar- Frejat

Música.Bebidas.Sorrisos forçados.A aniversariante linda de morrer.Eu em um canto,e  ele no outro.Com a nova namorada.Eu juro que não vou saber responder o que eu estava sentindo
aquela hora.Mágoa, por ele já estar com outra em tão pouco tempo.Dor, porque eu o amava.Dor , porque eu achava que ele me pertencia, e que OLHA MINHA FILHA TIRA ESSA LÍNGUA DA GARGANTA DELE.Vontade de ir embora , deitar na minha cama e chorar tudo que eu não tinha chorado esses meses.
- Você é mais bonita - disse a aniversáriante me abraçando com força - e eu te amo você sabe né.Ele só tá aqui porque é amigo do Vitor.Me deu um beijo no rosto e foi fazer sala (um aniversáriante nunca se diverte de verdade nas festas).
 Ele me olhou e por um segundo eu achei que queria estar do meu lado.Achei até que você fosse levantar e vir falar comigo.Mas logo virou a cara  e continuou a conversar com sua nova namorada.
As músicas ainda estão amenas.Rogério Flausino ainda não entrou em cena, e o que predomina agora é Dinho Ouro Preto e todo seu equilíbrio.
- Quer uma bebida?
- Quero sim , obrigada-  respondo no automático.Desculpe, nem lembrei que você estava ai.É , você é o típico amigo estou-aqui-mais-sempre-esperando-que-você-abra-a-porta-da-sua-casa-me-recepcionando-só-com-uma-camisa-velha-de-banda.Você é bonito.Tem várias no seu pé, mas insistiu em me acompanhar num sábado a noite a uma festa de aniversário de alguém que você nem conhece, só porque eu disse que meu ex estaria aqui.Está com aquele xadrez impecavelmente passado (obra da sua mãe,provavelmente) e recolocou o piercing na boca.Está com aquele cheiro de cigarro misturado com perfume, e está gentil comigo.Acho que sabe que estou segurando uma boa crise de choro com todas as forças.
- Sabe - você diz sentando do meu lado- ela é até bonita.Eu a pegaria se não tivesse nada pra fazer as 3 da manhã de um sábado.
- Isso é um elogio? - eu pergunto sem muito humor e olhando para o chão.
- Não - ele diz me entregando o copo de bebida - seria um elogio se eu dissesse "eu andaria de mão dada com ela em um dia de festival na cidade".
Eu dou risada.Mais por educação do que por achar alguma graça de fato.Você entende, puxa assunto com alguém do seu lado para se distrair.Não consigo prestar muita atenção, mas parece que o assunto gira em torno de músicas ou séries de tv.
Tento disfarçar a cara de 'me matem por favor' na hora dos parabéns.Afinal, eu de fato amo a aniversáriante.Só não gosto muito desse ser imbecil que ela chama de namorado, mas até ai, infelizmente eu não posso fazer nada.Gosto menos dele ainda agora que é o culpado de me fazer olhar para o meu ex e sua nova namorada que está com um belíssimo sapato rosa, enquanto eu me encontro com um vestido preto e um sapato vermelho estratégicamente feito para deixar meu pé pedindo socorro.Enquanto ela está com um cabelo impecavelmente preso em uma trança , os meus estão como sempre.Minha maquiagem está como uso todos dias e parece que ela se arrumou para entrega do Oscar.Mas acaba sendo não é?O Oscar é você.Sem trocadilhos, é claro, afinal, o seu nome nem de longe lembra o da estatueta dourada.Mas você é o prémio dela.E ela sabe disso, pois está com aquele sorriso falso com aquele ar de superioridade caracteristico.Eu sou mulher, sei dessas coisas.Acredite.
O parabéns acaba, toda a melação do primeiro pedaço de bolo(AH QUE SURPRESA, PRO IMBECIL DO MEU NAMORADO).Pelo menos parecia que tudo estava acabando.E ai, a linda da aniversáriante coloca nossa música pra tocar.Não sei se de propósito, ou porque estava se pegando com o namorado no sofá e a música romântica 'esquentária' o clima.
- Tá - eu disse levantando do lugar onde estava - é demais pra mim.Vou lá fora fumar.
Você percebe que eu levantei mais continua conversando com alguma aleatória-que-não-faz-diferença-nenhuma-aqui.Já , ele , ou não vê, ou finge que não viu.Abraça a namorada com mais força quando eu passo do lado deles procurando a primeira porta pra sair e poder fumar em paz(ou janela pra me jogar).
Enquanto Quinn Fabray e Sam Evans faziam sua parte melhorando uma música já muito boa, a nicotina fez efeito no meu cérebro.Meu coração enfim parou de pular do meu peito.Um cigarro depois, minha mão já quase não suava mais.
Porém assim que ouvi a introdução caracteristica daquela música do Fito, não me segurei.Parece que toda a mágoa, o ódio e a dor vieram parar nos meus olhos e tudo explodiu.Não conseguia segurar a tempestade que emoções que explodiram dentro de mim.
Senti alguém me abraçando e nem sequer olhei pra ver quem era.Só , segundos depois reconheci que era você pelo cheiro de cigarro recem fumado e o abraço macio que sempre me dava quando via o nome de outro nos meus olhos.E eu chorei.Muito, sem lembrar que estava maquiada, que eu seria o principal comentário lá dentro.Chorei e só sentia suas mão nas minhas costas, me apertando com força, um pouco para não deixar que eu caísse (novamente) no precipício em que eu estava a poucas semanas atrás, um pouco para abafar o barulho de meus soluços.
- Sabe o que dói - eu disse levantando a cabeça e olhando nos seus olhos - ele nunca me amou de verdade Miguel.E todo mundo me falava isso mas eu nunca acreditei - dei um trago no meio dos soluços- como eu fui imbecil.
Você me abraçou com mais força do que nunca.E , um segundo depois , estava me beijando.Não sei porque , quando ou por quanto tempo,mas correspondi seu beijo.Eu não precisava disso aquela hora.Precisava de um abraço e um 'vai passar pequena' , mas o beijo me fez bem.Não sei porque , mas fez.
- Desculpe - você disse ainda segurando meu rosto entre as mãos- mas seu dignissimo ex e sua namorada barbie tinham aparecido.Eu não queria que eles te vissem assim.
- Obrigada - eu disse olhando no seus olhos- mas não acho que essa maquiagem borrada tenho sido disfarçada com o beijo.
- É , acho que isso não deu para disfarçar - não soltou meu rosto.Ficou olhando nos meus olhos por muito tempo, até que me beijou de novo.E apesar de não ter sido nenhuma surpressa dessa vez, continuou me fazendo bem.Soltei o cigarro e coloquei a mão na sua nuca.Segurei o riso quando você se encolheu quando passei as unhas dentre o seu cabelo.Achei ridiculamente doce isso.Não esperava essa atitude de você.
- Sabe - você disse passando o dedo em uma lágrima recém rolada do meu olho, que provocou um caminho preto de rímel no meu rosto - mesmo você chorando por outro, e com a cara toda borrada de maquiagem, eu ainda passearia de mão dada com você em dia de festival na cidade.Eu iria com você para o desfile de 7 de setembro.E não te trocaria nunca por uma barbie como aquela.Vai passar pequena.Eu tô aqui.

18.9.11

Passando.

 Para ouvir:Sober - Kelly Clarkson

Tô escrevendo pra dizer que está passando.Claro,ainda não estou 100% bem e aquela nossa música ainda não passa desapercebida.Mas as noites não estão mais tão frias e eu consegui jogar nossas fotos fora.Pois é, fique feliz por mim.E eu também te escrevo pra agradecer, porque você que fez isso.Porque eu só olhei pra cima e vi a luz no começo do poço quando descobri que você já chama outra de sua (bem ,não de sua, já que você a chama do mesmo jeito que me chamava).A cena de você na cama com outra, beijando ela e dizendo todas as coisas que falava pra mim, exatamente no mesmo tom de voz e com aquele sorriso torto que eu tanto amava passou pela minha cabeça milhões de vezes.De propósito.Porque cada vez que ela passava na minha cabeça,me dava mais força pra escalar o poço que eu estava a tanto tempo.E foi assim.Eu subi rápido, e assim que sai dele acendi um cigarro.Por que o cigarro ultimamente é a cola mais eficaz pro meu coração, e meu amigo mais presente também.Fui,tomei banho arrumei o cabelo e fui me encontrar nos braços de outro.E quer saber? Pela primeira vez eu não pensei em você a noite toda.Não comparei os beijos (e nem poderia pois o seu ficaria bem abaixo) e não quis que fosse você a pessoa com os braços no meu ombro.Pois é, vitória finalmente.Então, só quero que saiba que tá passando.Parece que Caio f tem razão, afinal.

7.9.11

Três e quarenta e sete da manhã.

Para ouvir:Lisos Abraços - Megh Stock

"Estranho, meu celular tocando essa hora.Deixa , deve ser algum amigo bebâdo me ligando.Mais, de novo? é melhor eu atender..."
O sono não me deixou sair da cama de primeira.Pensei melhor uma, duas , três vezes e ai o celular parou de tocar.Pensei em voltar pra cama mas antes mesmo do meu corpo conseguir pensar na possibilidade de se mexer de novo, ele começou de novo.
- Alô.
- Oi.
Eu conhecia aquela voz.E puta que pariu, como conhecia aquela porra de voz.Meu coração acordou num salto, e senti um arrepio da minha cintura até a nuca.Passei de zumbi há medalhista olimpida depois de um triatlon em menos de 2 segundos e só por causa de 2 letras.
- Oi, tá me ouvindo?
- Tô sim - talvez fosse o sono, ou o choque,mas eu não estava muito animada em responde-lo.
- Tá.Eu preciso falar com você.Preciso mesmo sem brincadeira.Você tá em casa?
- Tô sim... quer dizer, eu acho que tô.Aconteceu alguma coisa?
- Não, não aconteceu não.Alias, aconteceu sim mas... tô indo ai tá bom?
Desligou.Demorou um segundo pra eu poder ligar os fatos: ele estava vindo pra cá.Tive que pensar mais mil vezes, parando em cada palavra e imaginando uma cena pra ver se o cérebro entendia.E L E - V I N D O - P R A - C Á.Pulei da cama.Meu maço de cigarro estava na gaveta ao lado , já preparado para emergências.Levantei da cama e me olhei no espelho.Rímel até a bochecha e cabelo bagunçado (alias, estava em um estado de calamidade total).Mas, passei 5 anos com ele.Ele já me viu assim várias vezes.
Lavei o rosto pra tirar o excesso do rímel e prendi o cabelo com um grampo.Coloquei os óculos e uma blusa de moletom antiga que eu tanto amava que cobria a parte de baixo do meu pijama.
Fui para varanda e estava no ultimo trago quando vi o carro preto estacionando na porta do prédio.Como de costume ele não buzinou.Por um momento tudo parecia ser como era antes.
Desci e o vi dentro do carro.É engraçado, mas nunca consigo lembrar o rosto dele.Não é culpa dos meses que estamos separados nem de todo o choro que pode ter borrado as imagens na memória, mas quando estávamos juntos também era assim.Não é aquela coisa de ver na rua e não saber quem era, mas os detalhes do rosto dele sempre me fugiram.Talvez por isso meu coração gritasse sempre que eu o via.Era algo como 'tenta gravar essa imagem ai mulher, porque ela me faz uma falta que tu não tem noção."
Entrei no carro e o som tocava Ira!.Ele estava com a jaqueta de couro que eu havia dado pra ele no nosso 3° aniversário, e eu percebi que algo estava errado.
- Você tá com a jaqueta da sorte - disse fechando a porta com cuidado.
-É - ele disse olhando no meu olho - te acordei? Perdão.Mas eu precisava falar com você boneca.
Pegou no meu ponto fraco.Ele abaixou o som e respirou fundo.
-Aconteceu que eu preciso de você.Que eu te amo e nada nem ninguém vai mudar isso.Você é a única pessoa que me conhece de verdade, me conheceu na pior época da minha vida e me apoiou.Ficou do meu lado.Eu te amo pequena.E cada dia longe de você só me provou isso , que nenhuma outra é tão perfeita quanto você, nenhuma outra tem seu cheiro de shampoo e nenhuma fuma teu cigarro de cereja.Nenhuma outra deixa a casa toda avermelhada quando vai pra varanda tomar sol.Nenhuma canta desafinado quando Chico Buarque toca no celular.Alias - ele riu e olhou pro rádio - acho que nenhuma outra tem Chico Buarque no celular.E bom , eu tive que vim falar agora porque não queria deixar a oportunidade passar.Vem , tá frio do jeitinho que você gosta.Vamos lá pra casa e eu te faço chocolate quente,aquele do jeitinho que você gosta, a gente assiste aquele seu filme favorito que tem a Natalie Portman pela 14° vez e dorme junto.Volta pra mim boneca.
- Deixa eu te perguntar Gustavo - eu disse olhando pra fora- o que aconteceu com a sua namorada? Aquela que você esfregou na minha cara 2 semanas depois da gente ter terminado.Aquela sabe? Que você levou no meu bar favorito no dia que tocaria minha banda favorita.O que aconteceu com ela?
- Não deu certo - ele disse olhando pro nada.
- Quem terminou Gustavo?
- Ela - ele disse com desespero - mas deixa eu te explicar - pegou a minha mão - ela terminou comigo porque percebeu que eu só to com ela pra esquecer você...
- Gustavo - eu disse chegando perto do rosto dele e colocando o dedo na sua boca- não precisa falar mais nada.Boa noite.E não me procure mais, por favor.
Sai e bati a porta do carro, com a sensação que deixei todo o peso de 50 toneladas que eu carregava nas costas desde que ele terminou comigo dentro daquele sedan preto.

1.9.11

Padaria.

Para ouvir:Dave Matthews Band - You & Me

 Ele era lindo.Muito mais do que lindo.Tinha um sorriso só dele e um olhar tímido que derretia qualquer uma.Entrava sempre no mesmo horário naquela padaria com a parede de azulejo que era minha parada obrigartória toda manhã.Ele era simpático ,até mesmo quando estava chovendo e o jeans dele estava completamente molhado.Sempre sorria pra senhora que chegava depois dele, sempre cedia o lugar dele na fila pra ela.As compras variavam ,mas eram basicamente um maço de cigarro light, um cappucino quente e um chiclete (de menta era seu preferido, mas quando não tinha ele pegava de morango).Sentava sempre na mesma mesa, escorado no vidro, colocava os pés sobre o banco e lia um jornal.As vezes um livro.Semanas atrás ele estava lendo uma antologia de Vinícius de Moraes.Lindo e com bom gosto.Ele tomava o café e tragava devagar.Quando não lia nada, estava com fone de ouvido e ficava batendo os dedos sobre a mesa de madeira escura.Eu sempre fiquei atenta pra tentar saber que música era, mas nunca descobri.O unico defeito era carregar um orifício prata na mão direita.
Essa semana ele entrou e não sorria.Seu all star vermeho nem estava molhado, mas ele não sorria.A manhã de outono estava bonita,um sol amarelo, mas ele não sorria.Ele estava sem a roda nos dedos, em seu lugar só havia um pedaço de pele mais claro, como se a aliança fizesse parte dele.Pediu um maço de cigarro com filtro vermelho.Algo não estava bem.O ultimo maço de cigaro vermelho repousava em cima da minha mesa.Ele não comprou cigarro naquela manhã.No lugar do capuccino, um café expresso sem açucar.No lugar do chiclete, bala de hortelã.Não leu jornal.Não ouviu música.Tirou um cigarro do bolso (que deve ter sobrado do outro dia) e tragou o mais devagar possível.Eu podia jurar que seus olhos estavam mais molhados que o normal.Cruzamos o olhar e eu sorri (um sorriso caridoso).Ele sorriu surpreso e desviou o olhar, olhando para o lado de fora.Havia um casal abraçado.Ele olhou e abaixou o olhar.
Eu peguei minhas coisas e quando passei do seu lado, deixei o maço de cigarro de filtro vermelho na sua mesa.Sorri e disse 'você está precisando mais do que eu."
Atravessei a rua e peguei meu onibus.
No outro dia , sentei no mesmo lugar.O estoque de cigarros de filtro vermelho já havia sido reposto.Comprei o meu e pedi meu croassaint de chocolate com chocolate quente como de costume.Ele entrou e de novo não sorriu.Pegou dois maços de cigarros de filtro vermelho , um cappucino e chiclete de menta.Sentou-se no mesmo banco, sem música, sem jornal.Tirou a aliança do bolso do seu jeans surrado e ficou fumando e olhando para ela, rodando em cima da mesa.Uma lágrima rolou.Ele olhou no relógio, levantou-se e veio em minha direção.
- Você salvou minha vida com isso guria - me devolveu o cigarro - obrigada.
Ia saindo quando eu tomei coragem e soltei:
- Na verdade - eu coloquei o maço na minha bolsa- eu te deixei mais perto da morte por cancêr.
Ele parou, como se precisassem de um tempo para assimilar que eu estava falando com ele.Virou-se sorrindo pra mim.
-Mas eu estava pensando em uma morte mais rápida - disse vindo em minha direção - um caminhão ou um onibus talvez.
- Perto daqui tem uma linha de trem - sorri - acho que pode ser mais rápido.E mais garantido também.
Ele estendeu a mão :
-Prazer menina do cigarro do filtro vermelho chocolate quente e tatuagem de coração no dedo.
Estendi sorrindo:
- Prazer moço do cigarro light e da antologia de vinicius de moraes.
-Sabe - ele sorriu e sentou ao meu lado - existe coisa mais patética que um homem chorando? - ele riu um sorrisso triste.
- Na verdade , sim - eu disse me inclinando para falar mais baixo - o cara que trabalha na padaria que olha pra bunda de todas as mulheres que entram - apontei discretamente.
Ele sorriu.E ai ficou aquele silêncio, onde você poderia cortar a tensão com uma faca.
- É verdade o que dizem ? - ele disse olhando pro casal caracteristico do outro lado da rua - que tu só tem um amor na tua vida toda? Só uma metade da laranja? - olhou nos meus olhos.
- Eu acho que é sim... mas eu também acredito que se for mesmo o amor da sua vida, não acaba.É aquela história que "o que é verdadeiro não volta,o  que é verdadeiro fica."
-Querido John - ele riu.
-É - eu ri - enfim.Mas sabe no que eu acredito? A dor um dia passa - eu me levantei - pode demorar,mais passa.
- Você acha mesmo?
- Acho - eu me inclinei e dei um beijo no rosto dele.O cheiro de perfume e cigarro continuam sendo a melhor combinação de cheiros que existe no mundo - passou pra mim.Então vai passar pra você também.
Fui indo até porta quando ouvi:
- Salvou minha vida de novo guria.Até amanha.