Quando eu era mais nova, tinha um professor que sempre antes
de passar a matéria, colocava uma frase.Um dia ele chegou na sala e escreveu
"Muda! Que quando a gente muda o mundo muda com a gente." Eu lembro
que na época, com 12 ou 13 anos, achei a frase muito confusa e não parei para
tentar entender.Ontem, dia dezessete de junho de dois mil e treze, eu entendi o
significado dessa frase.
Eu sempre fui a favor do protesto.Sempre achei que é assim
que se consegue as coisas: se fazendo ouvir.As matérias de escola e agora de
faculdade que falavam/falam sobre política e todos os movimentos dela sempre me
interessaram muito e eu nunca entendi muito bem o porque.Eu não entendia o porquê, até ontem.
Apesar de sempre ser a favor do protesto, no começo disso
tudo não tinha vontade de ir para rua.Não, na verdade, não tinha coragem
mesmo.Eu ficava me imaginando lá, no alto dos meus 1,57cm , perdida no meio de
uma névoa de gás lacrimogêneo e apanhando.Ninguém gosta da ideia de apanhar
(salvo Anastasia Stelle).Passei dias inteiros lendo sobre tudo e me informando
sobre tudo dos protestos, porque apesar de não ter coragem, eu já estava com um
orgulho do tamanho do continente de tudo que tava acontecendo.
Pois bem.Ontem de manhã eu ainda não pensava em ir.Porém,
durante a tarde, com todas as manifestações e tudo que eu vi, e senti que
PRECISAVA estar lá.Eu sabia que dia dezessete de junho de dois mil e treze iria
entrar para a história, isso estava no
ar.Todos estão respirando revolução e isso é LINDO! A cada foto, cada pessoa,
cada amigo, cada ídolo meu que falava que ia pra rua, minha angustia aumentava.Ficou
de um tamanho insuportável no final da tarde.
Eu não fui pra rua.Graças a uma prova semestral que se eu
perdesse, provavelmente me faria perder o ano e consequentemente a bolsa na
faculdade.Peguei o trem com um nó na garganta e no peito.
Fui acompanhando todas as notícias com os olhos cheios de lágrimas.Viver
isso, essa revolução, o povo saindo de casa para protestar os direitos que a
muito estavam esquecidos, é a coisa mais linda que eu já vi na minha vida.Ao
parar em uma estação um grupo de jovens entrou e o vagão todo ficou com cheiro
de vinagre.Segurei o choro.Tinha vontade de ir com eles, deixar a prova de lado
e ir lá, mudar o Brasil.Queria dar parabéns para eles, e dizer para me
representarem, porque eu queria estar lá de alguma maneira.Desceram na estação
que dava acesso ao metrô sentido Av.Paulista e o cheiro de vinagre foi com
eles.
De repente, eu senti raiva.Senti raiva de todo mundo do trem
que olhou feio quando eles entraram. “ELES ESTÃO LUTANDO POR VOCÊ TAMBÉM!!!!”
eu queria gritar.Senti raiva de todo mundo que parecia estar alheio de tudo,
dos jovens no vagão rindo uns com os outros, de todo mundo que podia estar
protestando mas preferia chegar em casa para ver tv. O caminho que eu faço
andando até a faculdade costuma levar 30 minutos, mas eu queria chegar logo e
ver o que estava acontecendo.Fiz em 15 e fui procurar me informar.Abri o
twitter (a mídia nesse caso somos nós) e eis minha surpresa “INVADIRAM O
PLANALTO!”.Não me contive.A alegria não cabia em mim.E era uma alegria com
raiva, raiva de só poder assistir a história sendo feito e não fazê-la também,
senti raiva da faculdade que marcou uma prova e raiva de todo mundo que não
quis fazer um boicote a prova e ir para Paulista.Maldita prova que ainda
começaria as 9 da noite, impossibilitando complemente minha ida.Acompanhei tudo
até o celular não aguentar mais.Todas as fotos, todas as notícias.Como eu, muita
gente da faculdade queria estar lá também e o assunto foi esse.Fiz a prova sem
muita cabeça.
Eu precisava estar lá.Eu preciso ir para um protesto.Parece
que tudo que eu vivi até hoje foi para isso.É um sonho ver isso acontecendo, tanta
gente se convencendo que tá tudo errado mesmo e por isso tá saindo as ruas pra
gritar.Gente que tá mudando e com isso, tá mudando a história.
Apesar de não estar lá de corpo presente, eu estava em espírito.Muito mais na Av.Paulista
do que na faculdade.E estou lá ainda.Não parem com esses protestos.Continuem
até algo concreto mude.Nós demos um passo imenso rumo a um país
melhor.Protestem amanhã e depois e depois e sempre.Eu estarei presente em
todos, assim que essas malditas provas acabarem.Continuem com isso, fomos
ouvidos e estamos começando a ser levados a sério.Não vamos parar.Vamos fazer
história e mudar o país, que tem filhos que não fogem a luta.