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20.10.14

¿por qué no me amas?


Para ouvir: Pra você dar o nome - 5 a seco
Ela estava a passeio na Espanha e acabou o encontrando.Havia anos que eles não se viam, mas se falavam regularmente; sempre papos triviais, como o tempo, a família, a faculdade.Se encontraram em uma praça, ela sentada lendo um livro e ele andando a toa.Ela jurava que foi de proposito: eles haviam se falado uns dias antes, e quando ela disse que estava na Espanha ele respondeu com um "Quem sabe a gente não se encontra por aí?".Pelo que ela sabia, ele não estava na Espanha.Devia estar mochilando em algum país próximo na Europa, porque é só o que ele faz depois que trancou a faculdade e veio gastar o dinheiro dos pais.A mentalidade de burguês nunca havia mudado, e o olhando de longe, ela percebeu que tampouco o que ela um dia sentiu por ele.
Ele acenou para ela e sorriu, aquele sorriso típico de alguém que sabe que é bonito e usa toda a sua beleza para conseguir o que quer.Se você olhasse de perto, ele não era tudo isso.Tinha um maxilar marcado e olhos bonitos, mas se você começasse a reparar, o queixo era torto e não o nariz parecia que não pertencia a aquele rosto.Ainda assim, ele andava como se fosse o homem mais bonito que já tinha pisado na face da terra.E convencia muito bem.
Enquanto ele andava na sua direção, ela não pode deixar de notar que todas as mulheres ali presentes viravam o pescoço para vê-lo.Revirou os olhos involuntariamente.
Ele lhe deu um beijo no rosto, o de sempre, quente e perto da boca que a fazia acreditar que ele a queria.Começaram a conversar de tudo que ela tinha visto, de tudo que ainda queria ver e de quantos dias ainda ficaria no país.Ele -convencido como sempre - insistiu que conhecia cada parte da Espanha como a palma da sua mão e que poderia ser o guia dela no tempo que restava de sua estada lá.Ela precisou pensar um pouco, mas decidiu que seria bom.Pensou consigo mesmo que teria que fazer uma força inumana para voltar ao Brasil e não ficar sofrendo pelos cantos, mas pensaria nisso depois, no quarto do hotel sozinha e longe de toda a confusão que ele trazia a ela.
Ela concordou sorrindo e ele disse que seria bom passar mais tempo com ela; que sentia falta dos velhos tempos e a abraçou como se ela fosse a pessoa mais importante do mundo inteiro.Ela sentiu o coração disparar.Ficaram conversando mais um tempo e ele disse que iria a um banheiro público, mas que logo voltaria e eles iam comer no melhor pior restaurante de toda a Espanha.
Ela ficou sentada no banco o vendo se afastar, e por força do habito de pensar e falar em Espanhol, se pegou  perguntando a si mesmo em voz alta:
¿por qué no me amas?

6.10.14

Prédio.

Para ouvir: Mary Lambert - She Keeps Me Warm

Ela olhava para ele com ares de desprezo, mas por dentro, tudo estava desmoronando.Talvez, desmoronando não fosse a melhor palavra, o certo mesmo seria dizer que tudo estava se construindo.
A cada cliente que ele atendia e dava aquele sorriso - um deles na verdade, Levi tinha tantos deles que ela sempre ficava se perguntando o que cada um queria dizer - algo dentro dela mudava.Um tijolo subia como que por telocinese dentro dela, e pouco a pouco, esses tijolos estavam construindo alguma coisa.Em apenas uma semana que se conheciam (só isso mesmo? parecia que havia se passado uma vida desde que ela o encontrou dentro de seu quarto, todo perdido) já havia ali um belo alicerce de uma cosia que levava todo jeito pra ser um prédio de mil andares.A cada sorriso, a cada olhada que ele dava a ela, todo terno e brincalhão, paredes inteiras eram feitas.
Ela ficava lá, sentada na mesa de perto da janela, apenas observando ele trabalhar.O cabelo que era um loiro avermelhado, sempre tão bagunçado e já marcado de tanto ele puxar para trás com as duas mãos, estava escondido por uma touca verde e ela não conseguia parar de pensar em como queria ver aquele cabelo novamente.Acendeu um cigarro, deu um trago devagar e pensou que seria bom ir lá dar um oi.Estava pensando nisso enquanto olhava os carros passando lá fora quando sentiu alguém se aproximar da mesa.
- Oi - ele disse, com um de seus tantos sorrisos e já sem a touca verde.Ela sentiu sua perna ficar mole, e a cabeça rodou um pouco.Efeito do cigarro talvez.
- Oi bonito -  disse assumindo sua pose de autoconfiança.Por fora, não estava nem prestando atenção nele.Por dentro, havia um letreiro de led vermelho piscando e gritando bem alto o quanto ele era lindo - estava aqui ensaiando ir lá te dar um oi, mas vi que você estava trabalhando muito.
- Três e quinze - ele disse apontando para o relógio que ficava em cima do balcão da loja - horário do almoço.
- Ah, que bom que aqui vocês param pra comer - ele riu - Tava pensando em comer onde?
- Não sei.Estava pensando em chamar uma moça sentada aqui pra comer alguma coisa comigo, mas não pensei direito onde comeríamos.
- A é?  - ela bateu o cigarro no cinzeiro da mesa devagar e o olhou com os olhos baixos (tática que sempre funcionava) - então vai depender de quem você vai chamar.Se for chamar aquela senhora com um cardigã amarelo sentada do outro lado da sala - ela apontou o dedo com cigarro na direção - acho que ela gostaria de comer em um restaurante com um menu cheio de nomes estranhos e tal.Se fosse chamar aquela mocinha de camiseta da Hello Kitty sentada daquele outro lado - ela repetiu o gesto na direção da menina que devia ter no máximo 11 anos - acho que levá-la aquela sorveteria dentro do campus seria uma boa escolha.Resta saber se aquele senhor que está com ela aprovaria um cara igual você levar a sua filha para tomar um sorvete.
- Um cara como eu? - ele riu e puxou os cabelos pra trás com as duas mãos - que tipo de cara eu sou?
- Ah, esse tipo de cara.Cara bonito, com cara de má companhia e que costuma deixar as mulheres tontas.Tipo esse carinha aqui.
- Que carinha aqui?
- O cigarro - ela sorriu seu maior sorriso.Outra técnica.
Ele riu e sentou-se na cadeira ao lado dela.
- E se eu quiser chamar a menina de jeans e blusa cinza fumando perto da janela? Onde você acha que seria bom leva-la?
- Pro seu quarto.
Seguiu-se um silêncio gostoso.Ao contrário dos silêncios tensos de quando você deixa claro sua intenção por alguém e essa pessoa demora a responder, Levi era muito transparente.Ela ficou apenas curtindo a cara de espanto dele, e vendo, pouco a pouco, um de seus tantos sorrisos se formar em sua boca.Dentro dela, um andar inteiro foi construído - com acabamento e tudo.

15.1.14

Carta de Frida Para Diego.


Sr. mío Don Diego:
 
Escribo esto desde el cuarto de un hospital y en la antesala del quirófano. Intentan apresurame pero yo estoy resuelta a terminar ésta carta, no quiero dejar nada a medias y menos ahora que sé lo que planean, quieren herirme el orgullo cortándome una pata... Cuando me dijeron que habrían de amputarme la pierna no me afectó como todos creían, NO, yo ya era una mujer incompleta cuando le perdí, otra vez, por enésima vez quizás y aún así sobreviví.
No me aterra el dolor y lo sabes, es casi una condición inmanente a mi ser, aunque sí te confieso que sufrí, y sufrí mucho, la vez, todas las veces que me pusiste el cuerno...nó sólo con mi hermana sino con otras tantas mujeres...¿Cómo cayeron en tus enredos? Tú piensas que me encabroné por lo de Cristina pero hoy he de confesarte que no fue por ella, fue por ti y por mi, primero por mi porque nunca he podido entender ¿qué buscabas, qué buscas, qué te dan y qué te dieron ellas que yo no te di? Por que no nos hagamos pendejos Diego, yo todo lo humanamente posible te lo di y lo sabemos, ahora bien, cómo carajos le haces para conquistar a tanta mujer si estás tan feo hijo de la chingada...
 
Bueno el motivo de esta carta no es para reprocharte más de lo que ya nos hemos reprochado en esta y quién sabe cuántas pinches vidas más, es sólo que van a cortarme una pierna (al fin se salió con la suya la condenada)... Te dije que yo ya me hacía incompleta de tiempo atrás, pero ¿qué puta necesidad de que la gente lo supiera? Y ahora ya ves, mi fragmentación estará a la vista de todos, de ti... Por eso antes que te vayan con el chisme te lo digo yo "personalmente", disculpa que no me pare en tu casa para decírtelo de frente pero en éstas instancias y condiciones ya no me han dejado salir de la habitación ni para ir al baño. No pretendo causarte lástima, a ti ni a nadie, tampoco quiero que te sientas culpable de nada, te escribo para decirte que te libero de mí, vamos, te "amputo" te mi, sé feliz y no me busques jamás. No quiero volver a saber de ti ni que tú sepas de mí, si de algo quiero tener el gusto antes de morir es de no volver a ver tu horrible y bastarda cara de malnacido rondar por mi jardín.
Es todo, ya puedo ir tranquila a que me mochen en paz.
 
Se despide quien le ama con vehemente locura,
 

Su Frida