* Como presente do meu aniversário de 18 anos de vida , me dou a repostagem do meu conto favorito (:
Para ouvir:11 y 6 - Fito Paez
“Todos passageiros do vôo 159 com destino a Lisboa, embarque no portão cinco”
Eu não sei se é a coisa certa a fazer. Fugir dos problemas , ir para um país que eu não conheço , que eu não conheço ninguém.
Mas seria uma vida nova. Deixar pra trás brigas com a família, e faculdade que eu tanto odiava, e o serviço que me dava gastrite. Sim, minha vida era um inferno.
Deixar pra trás a pessoa que eu tanto amava. A pessoa que me fez sofrer tanto nesses últimos anos com promessas e juras (falsas) de um amor profundo e tosco.
Me arrependo de ter o conhecido. Estava em um bar com amigos , matamos aula na sexta feira.A melhor coisa da faculdade é isso: Sempre achar um motivo para não ir pra aula na sexta.
Ele entrou no bar com a cabeça baixa e um cigarro na mão. O braço era cheio de tatuagens, e o cabelo bagunçado. Se sentou em uma mesa no canto , olhando para o nada , tragando com calma. Parecia perturbado. O celular dele tocou duas vezes em cinco minutos. Com o barulho que estava não conseguia entender o que ele dizia , mas conseguia ler seus lábios :‘ não precisa , estou bem aqui’.
Eu não conseguia parar de olhar pra ele, e por algum motivo, era recíproco.
- Ana, vamos embora?
Eu não queria ir embora. E ele não parava de olhar.
-Podem ir pessoal. Eu vou dar um tempo aqui.
- Ok. Divirta-se.
Eu não sabia muito bem porque tinha ficado. A cerveja gelada talvez. Ou a música tocando. Eu não sabia. O fato é que eu queria ficar ali olhando aquele homem parado olhando para mim.
Um tempo depois, percebi que ele não viria até mim. Talvez estivesse esperando alguém , ou queria fumar em paz.Resolvi pagar a conta e ir fumar lá fora.
- Olá.
Uma voz linda, com um sotaque perfeito. Me virei e dei de cara com o ser que estava me olhando a tanto tempo.
- Olá pessoa - não sabia o que dizer. Estranho.
- Tem outro desse ai? – disse balançando cabeça para meu cigarro – os meus acabaram.
- Claro – peguei um do maço e entreguei – Mas você não deveria fumar. Faz mal a saúde – ri forçado.
- Foda –se - um sorriso torto.
Pronto. A noite toda com cigarros , cerveja , conversa e música. Acabamos no seu apartamento, achando a vida toda muito doida.
Se pudesse voltar no tempo... Teria ido embora com meus amigos. Não seria difícil , seria ? Eu apenas iria pra casa, Teria dormido, e seria muito mais fácil.
Não ia precisar tomar essa decisão agora.
Minha bolsa de mão treme. Ai meu Deus , meu celular não.A Beatriz deve ter contado pra ele que eu ia embora. Ela faria tudo pra eu ficar no Brasil.
Mensagem: Não vá embora. Fique, vamos conversar, vamos viver juntos.Só nós dois dessa vez.É sério.
Por que eu acreditaria? Já ouvi essa história milhões de vezes.
“Todos passageiros do vôo 159 com destino a Lisboa, embarque imediato no portão cinco.Ultima chamada”
Eu vou. Levantei com as pernas bambas , peguei minha mala e subi na escada rolante. Entreguei a passagem para a moça, e antes de dar o passo para minha vida nova, uma olhada para me despedir de tudo.Afinal , não era definitivo.Eu poderia voltar quando me sentisse melhor, não é mesmo ? Quando tivesse esquecido o cheiro dele , ou talvez , quando ele tivesse morrido.Uma morte lenta e dolorosa.
Chocada, o vi olhando para mim de lá de baixo. Com a blusa verde de moletom que eu adorava, com o cabelo bagunçado que eu tanto amava. Tinha uma lágrima escorrendo no rosto que tinha abarba por fazer.
Acenei um adeus tímido, e me segurei para não descer correndo para os braços dele. Ele me olhou e sussurrou ‘ não vai’ e sabia que eu entenderia, pois sabe que me aperfeiçoei bastante na arte de ler lábios.
‘ Não vai Ana. Eu te amo’ uma lágrima rolou e outras nasciam naqueles olhos castanhos pequenos.
‘Tarde demais tigrão. Adeus’ . Me virei e fui embora, para minha nova vida. Pensando que, pela primeira vez em quase três anos, senti verdade nessas três palavras que eu ouvira tão pouco.