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22.3.12

Clichê.

Para ouvir:Pra ficar comigo - Ira!


- Sei lá, eu a queria, e ela não.Depois ela me queria e eu não.É um saco isso tudo.
- Porque você tá falando de mim na 3º pessoa?
-Sei lá, talvez falando assim seja mais fácil a gente entender.Ou ver como é patético.
- E agora quem quer quem?
- Acho que ninguém se quer.Ou ambos nos queremos igualmente.É tudo estranho.
- Nós somos estranhos.
- Tudo no nosso relacionamento é estranho.
-Menos o sexo.
- É.
-Bom.
-Muito bom.
-Estranhamente bom.
- Bom de um jeito estranho.
-É.
Uma tragada lenta e um gole no café.Tudo ao redor parecia meio monótono, meio sem cor, meio chato e pedante.Era uma daquelas cafeterias chiques na principal avenida da cidade, aquela que você pede um café ou um cappuccino e eles escrevem seu nome no copo.E que você tira foto pra colocar em uma rede social.
Tudo era monótono e cinza, menos ele.Tudo era meio chato e pedante, menos ele.Alias, ele era um pouco pedante, mas isso compelia tanto charme que era impossível ficar irritada.Quando ele te olhava meio de canto de olho com cara de você-fica-mais-bonita-de-boca-fechada então, você sentia que nada no mundo poderia ser mais bonito.Não que ele tenha falado isso pra mim, e eu nem acho que ele pense,pois sempre diz que eu sou tão linda que é meio contra as leis do mundo eu ser inteligente como sou, mas ele tem essa cara sabe, de sou-bem-mais-inteligente-que-você (o que não é de todo mentira).
E por alguma razão, mesmo se conhecendo no show da nossa banda preferida e tendo dado o primeiro beijo na nossa música preferida, e saindo de lá já usando as palavras 'mundo' e 'perfeita' e 'também' e 'saudade',e termos todas as coisas que alguém quer ter em comum com alguém,e todos falarem que formamos um casal lindo, e o sexo sendo incrível, nunca damos certo.
Primeiro teve isso dele me querer e eu não o quis.É verdade.Pedras jogadas em mim da cintura pra baixo,por favor.Não o quis por alguma razão que na verdade nem eu sei o porque.Mas era uma época em que eu estava submersa em Vinícius de Moraes (lendo e ouvindo) e estava naquela vibe boemia e estava só querendo ficar em bares toda noite com meu malboro e curtindo bossa nova com uma boca diferente por noite, ou as vezes boca nenhuma.E ele era (e é) aquele tipo de cara que você sabe que passaria três vidas do lado, quieta numa rede, vivendo de saliva e amor.E eu não estava disposta.
E ai, quando minha vida de boemia cansou, a falta dele ficou horrível.Os bares já não me agradavam , e sempre que a gente se via eu tinha vontade de implorar pra ele ficar (Explicando : mesmo na minha fase boemia, sempre nos víamos).E ai eu o queria pra mim e pra minha vida.E claro que ele não queria , um pouco por orgulho, um pouco porque havia uma outra pequena na vida dele (nada sério, não o recrimine por falar dela na minha cama)
E ai agora chegamos aqui, em uma tarde fria no final de abril , em uma cafeteria chique e pedante.O romance com a outra pequena não deu certo, e não vou mentir que fiquei triste.Ele me chamou por algum motivo para vir aqui tomar café e eu aceitei.Qualquer coisa pra ficar um pouco com ele.
- Sabe, eu fiquei pensando hoje de manhã, o porque eu tinha me apaixonado pela outra.
- Ela era linda.
- Era.
- Então.
- Mas não sei,era uma beleza meio obvia.E ela nunca tinha lido um livro.Você acredita nisso?Eu apaixonado por uma guria que nunca leu um livro.
- Você lê livros pela população inteira.Tenho certeza que a média de leitura nacional é tirada por você.Você dividido todos os habitantes do Brasil.
- Aproximadamente 190.732.694 pessoas.
- Tá, o quanto de livros que você lê por ano dividido por 190.732.694 pessoas.
- Aproximadamente.
-É.
- Enfim, não sei o que vi nela.
- Ham?
-Nela.Na outra.
- Ela era bonita.
-Você também é.
- Acho que sim.
- E lê.
- Bastante até.Não seus clássicos, mas leio.
- E o sexo é ótimo.
- É.Com ela não era?
- Não.
-Porque?
- Não sei.Muita pressa, pouco toque.
-Entendo.
- Enfim.Não deu em nada.
- Infelizmente.
-Sério?
-O que?
- Que você lamenta não ter dado certo com a outra.
- Não.
- Imaginei.
- Sabe, talvez eu te queira agora de novo.
- E eu sempre te quis.
- Não, por um tempo você quis a outra.
- Acho que nunca a quis de verdade.Era só uma maneira de passar menos tempo com você na cabeça.
- Tá.Então partindo da suposição que você me quer também , quer dizer que depois de tanto tempo estamos no mesmo ponto?
- No ponto 'como consegui ficar tanto tempo sem você?"
- Sim.
- Estamos.
Pegou o celular e tirou uma foto dos copos com os nossos nomes.
- O que você tá fazendo?
- Clichê.Vou começar com um clichê pra fazer o outro.
- Que outro?
- O de mudar o relacionamento no facebook.
- "Um relacionamento enrolado"?
- Não mais.Vamos desenrolar isso pequena, de vez.Agora a gente namora.
- Pra sempre.
- Pra sempre - concordou ele beijando minha mão.

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