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14.10.12

"Quando Caetano me beijou"



Para ouvir: Black - Pearl Jam
 
Já era a 4° ou 5° vez que eu e Caetano saíamos, e ainda não tinha acontecido nada.Nós sempre ficávamos bem próximos, riamos de besteiras, ele me dava a blusa no final da noite quando esfriava,e o clima estava ali, mas nada.Eu já estava começando a me conformar com posto de melhor amiga, que você sai para ir no cinema quando não tem muito o que fazer no sábado a noite.Eu só não entendia o porque das mensagens de bom dia, das músicas compartilhadas no mural daquela rede social.Todas as outras noites eu ainda tinha esperança que ele me olhasse e visse que eu sou sim uma menina legal, até um pouco bonita e com potencial para namorada, mas essa noite eu já não tinha esperança alguma.Primeiro, porque ele me chamou para ir em um bar de motoqueiros, que toca metal e mal tem espaço para você se mexer.Não era nada romântico,nada que inspirasse um primeiro beijo (a menos que começasse a tocar “Always” do Bon Jovi ou “Crazy” do Aerosmith, mas não era provável que isso acontecesse) .E segundo porque também iriam alguns amigos dele.Se ele não me beijava quando estávamos sozinhos, no cinema, assistindo uma comédia romântica fofa e tocando uma música propicia, porque ele iria me beijar em um bar amarrotado, tocando música pesada e com vários amigos por perto?Era oficial: eu estava na friendzone.Mas o que fazer? Ficar longe daquele cabelo no queixo era difícil demais, então por mais que eu prometesse para mim mesma que nunca mais sairia com ele, era só meu celular vibrar um convite que eu estava abrindo o guarda roupa para ver o que eu tinha de mais legal para impressiona-lo.Alias, mulher tem dessas, acha que uma blusa vai fazer o cara se apaixonar.
Como combinado, nos encontramos em frente a estação de trem.Ele disse que o bar ficava perto, o que era verdade se você está acostuma a fazer uma peregrinação pelo Chile para chegar nos lugares.Ele disse que os amigos estariam já no bar, e fomos conversando sobre o dia pelo caminho ( daria tempo de casarmos e termos filhos de tão ‘perto’ que era esse bar) .Chegamos, os achamos e os cumprimentamos.Eram 3 homens e 2 mulheres, não contando eu e Caetano, e já logo de cara percebi que uma delas ficou muito animadinha com a chegada dele, cochichando com a amiga e mexendo no cabelo.Mulher tem 6° sentido para essas coisas, sabemos quando alguma piranha está interessada no nosso homem em 3 segundos (se ela for discreta).Sentamos em uma mesa do lado de fora porque graças a tudo Caetano tinha amigos fumantes também, o que significava que eu não precisaria deixar ele e a piriguete ruiva (eu tinha falado que ela era ruiva? Pois bem, ela era ruiva.Mamãe sempre me ensinou a não confiar em ruivas.Talvez por isso eu tenha pintado o cabelo de vermelho) sozinhos na mesa.O bar era legal , diferente do que eu pensei, com alguns discos velhos na parede e cerveja bacana.Caetano sentou do meu lado, como de costume, e a piriguete sentou do lado dele.
Pedimos cervejas e começamos a conversar.Caetano tinha uma amigo (ainda tem, Caetano não morreu e esse amigo também não) que tinha o apelido de Ross hoje em dia eu sei que é porque a ex dele o trocou por uma garota).A questão era que Ross era muito legal e começamos a conversar sobre marcas de cigarro e coisas do tipo até que ele levantou para ir ao banheiro e eu percebi o quanto Caetano estava animado com o papo com a piriguete ruiva.E ela estava pirigueteando como uma piriguete que se preze , com direito a perna cruzada, risada alta de toda e qualquer coisa que ele falava e elogios sobre a textura do cabelo e tecido da camisa.E ai eu percebi que era a noite onde eu estava sendo friendzonezada oficialmente.Pensei que começaria a tocar “Anna Julia”(hino da friendzone)  e eu ganharia uma faixa, uma coroa, iria no palco discursar sobre o ocorrido e desejaria a paz mundial no final do discurso, mas nada disso aconteceu.
Acendi um cigarro e fiquei quieta fumando, enquanto ouvia os ‘HAHAHAAH’ da piriguete e achando que Ross estava demorando demais no banheiro.Ross era legal e bonito, não tão bonito como Caetano, mas se o plano dele era me deixar na friendzone e pegar a piriguete ruiva, ele não ligaria eu pegasse o Ross, não é mesmo?
Ross voltou do banheiro e continuamos a conversar, até que Caetano cutucou meu braço e pediu para eu ir com ele até o balcão (que ficava dentro do bar) para comprar cigarros.Obedeci e fui.
- Parece que você se deu bem com o Marcelo – ele disse em um tom meio emburrado e olhando para a frente.
- Marcelo? Quem é Marcelo?
- O Marcelo.Ah, você deve ter o conhecido como “Ross” – ele fez aspas com os dedos no ar.
- Ah sim.Ele é legal, e engraçado – e não me deixa de canto para conversar com nenhuma ruiva, pensei em acrescentar.Mas eu era bff não é? Não é papel de bff falar essas coisas - e me contou que faz faculdade com você.
- É, faz sim – colocou as mãos no bolso e chutou uma tampa de long neck para longe com o all star surrado.
- E você está se dando bem com ruiva – minha vez de dizer como quem não quer nada.
- A Cíntia .Ela é legal sim, e engraçada – ele me olha nos olhos – e ruiva.
- E ruiva – eu constato.Graças a tudo, era chegada a nossa vez no balcão.Eu compro um maço do meu blue ice, ele do filtro vermelho e seguimos para a mesa.
Antes de chegar, a pessoa que estava no som resolveu sacanear e enfiou um “Black” do Pearl Jam no meio da nossa cara.Ouvimos alguns “ows” femininos de algum canto da sala, e alguns casais foram para o meio do bar dançar.Era uma cena legal, ver caras de jaqueta de couro e cabeludos se acabando nos braços de alguma menina bem menor do que eles, ao som de uma banda grunge que provavelmente eles detestavam.
Estávamos chegando na mesa quando Caetano passou na minha frente e colocou o maço de cigarros dele perto da carteira que estava na cadeira.Pegou o meu e fez a mesma coisa e pegou na minha mão.
- Vamos dançar?
Opa.Você não dança “Black” com a sua bff.E ele também não vai dançar comigo, já que eu não sei dançar.Mas quando vejo, já estamos no meio do bar, no meio de tantos casais e tantas jaquetas de couro.No meio de coturnos , estava o all star azul do Caetano, e no meio de tantas tachinhas, estava minha corrente dourada.
- Eu não sei dançar – disse rindo, estando até um pouco a vontade, graças a intimidade que eu já tinha com meu novo melhor amigo.
- Eu te ensino, vem cá – ele trouxe meu corpo junto ao seu e colocou uma mão no meio das minhas costas.Com a outra, colocou minha mão em seu ombro, e depois pegou minha mão livre e a segurou com força, perto do seu rosto – até aqui foi fácil – olhou nos meus olhos e sorriu .E eu estava meio tonta com a proximidade – agora se concentra em mim.Eu me concentro na música.E eu te guio.
Era realmente fácil, não sei se porque ele era muito bom ou porque eu estava completamente confortável de estar ali, aninhada no seus braços.Nos não falamos.Eu encostei a cabeça no seu ombro e fechei os olhos, desejando que aquela música nunca acabasse.Por um momento, abri meus olhos e olhei em direção a mesa, onde a piriguete ruiva olhava e cochichava com a amiga.Certamente muito puta por ter perdido o homem dela.
A música acabou.O som voltou a passar alguma banda que eu não gostava muito (Megadeth, pelo que estão falando).Ele me abraçou com força.Nós rimos.
Eu me soltei dele e fui em direção a mesa, e por algum milagre divino, Caetano pegou minha mão enquanto eu virava.
- Vamos dançar mais essa – ele disse olhando para o chão.
- Mas não é uma música lenta – me arrependi da frase logo depois que eu terminei de pronuncia la.
- Tudo bem... só fica mais um pouco aqui.
Eu sorri.Ele me colocou na posição de dança, com muitos olhares espantados e alguns “ows” femininos de algum canto.
E ai, na metade do refrão, ele me beijou.E eu rasguei a faixa de BBF mentalmente.

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