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30.5.11

Você não tem novas chamadas.


Para ouvir:Só hoje-Jota Quest

Eu só queria que um dia meu celular tocasse e eu reconhecesse quem era pelo toque. Queria olhar assustada para o visor e ver seu nome.Suspiraria e atenderia com cara de interrogação.”Oi” ,você falaria.Meu coração ia disparar com o som da tua voz que eu não ouço há meses.”Oi”, eu responderia segurando o choro.Você me perguntaria como eu estou.Eu perguntaria como anda a sua vida (torcendo para ouvir um “sem você não existe vida”, embora eu saiba que nunca vou ouvir isso de você).Ficaríamos nesses papos genéricos até você lançar “ sabe... porque não saímos?Como amigos.Vamos conversar um pouco, estou com saudade do som da sua risada.”
Marcaríamos de você vir me buscar as 8 de uma sexta feira. Você chegaria 8:10.Eu ficaria pronta 8:30.Eu desceria com o coração na boca, sentindo o deja vu mais gostoso da minha vida.Eu ia ver seu carro e meu coração iria quase parar.Você estaria encostado na porta direita, com os braços cruzados.Com cabelo arrumado e jeans (só porque sabe que eu adorava quando você se arrumava assim).Eu sorriria pra você e atravessaria a rua olhando pra baixo, fingindo arrumar a calça e se equilibrar no salto  (vermelho, que eu compraria especialmente pra você.).
Eu ia te abraçar e me embriagar com seu cheiro que sempre misturava amaciante, sabonete e algum perfume com nome de carro. Você não iria ver, mas enquanto te abraçava , eu fecharia os olhos.E torceria pra você estar fazendo o mesmo.
Entraríamos no carro e ficaria um clima estranho. Até você ligar o rádio e algum cantor antigo começar a berrar desafinado com um sotaque roceiro.Eu riria e falaria : “Você ainda ouve isso?” e você responderia “Gosto da letra.”
Brincaríamos com isso, riríamos de alguma coisa do passado. Minha mão estaria gelada.
Você pararia o carro em frente aquela cantina italiana com a toalha quadriculada que um dia ficou prometido que iríamos.
Sentaríamos em uma mesa e isso lembraria quando chegamos ao ponto de ser um daqueles casais que comem em silêncio. Você olharia pra mim como se soubesse o que eu penso.Riríamos tímidos.
Comeríamos conversando sobre a vida. Eu perguntaria o que anda fazendo.O que viveu sem mim.O que foi ruim e o que foi bom viver sem mim (se é que algo foi bom ou se algo foi ruim).Você responderia olhando pro lado.Riríamos de alguma coisa que eu ia falar pra quebrar o gelo.Falaríamos sobre as gatas lembrando das travessuras delas.Talvez um “bons tempos” seria sussurrado de alguma parte.Ou de ambas.
Terminaríamos de comer. Iríamos para o carro.Talvez tivesse que partir de mim o pedido.Partiria, com certeza , e sem o menor problema. “Não me leva pra casa não” eu falaria, com medo de ouvir uma recusa. Você não responderia.Mas viraria o carro para outra direção.
E sentiríamos que o tempo não passou. Ou que passou, mas que foi só quando você foi viajar, ou quando eu ia passar o final de semana fora.Seria só saudade, só tesão acumulado, só saudade do gosto da saliva.Seria só a certeza de juntos, nesse momento somos um só, e que infelizmente (ou felizmente) o que sentimos um pelo outro não vai morrer tão cedo.Pelo menos digo por mim.
Depois, ficaríamos abraçados fingindo que não existe nada lá fora. Fingindo que o mundo acabou e só nós sobramos.Que nossos problemas nunca existiram.E eu perguntaria como foi sentir o gosto de outra saliva.Como foi sentir outro corpo no seu.E se sentiu saudade do meu cheiro como eu senti saudade do seu.Perguntaria como foi o primeiro dia que você acordou sabendo que eu não era mais sua.Se bateu o mesmo desespero que em mim.E se você daria seu salário de um ano pra viver um dos bons dias que vivemos, do mesmo jeito que eu daria o meu.
Nos vestiríamos, e o caminho de volta seria silencioso. Ambos saberiam o amor que sentimos.E ficaríamos pensando se não valeria a pena tentar mais uma vez.Pensaríamos em silêncio.E chegaríamos a conclusão que não valeria.E essa conclusão seria tingida de mágoa e tristeza.Nos despediríamos com um beijo comprido.Talvez um “eu te amo” escaparia de alguma parte.De mim, sem dúvida.Eu sairia do carro ainda com esperança de você me puxar e me pedir em casamento, falando que a vida sem mim é preta e branca e que você não tem vontade pra nada.Mas minha resposta seria o silêncio.Eu atravessaria a rua e pararia no portão , esperando seu carro sumir da minha vista.Viraria e uma lágrima cairia do meu olho.Entraria em casa me esforçando pra sentir teu cheiro em mim.E pronto.
Assim, voltaríamos a viver nossa vida, um longe do outro, sabendo muito bem a falta que um faz pro outro. Mas também sabendo que não vale tentar mais uma vez.
E eu continuaria vivendo sem você sabendo que é melhor assim.Como eu sei.Mas não perco a esperança de ouvir minha cantora favorita cantar em alguma noite fria.

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