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4.8.12

Sobre eu, você e Marcelo Camelo.


 Para ouvir ao som de Marcelo Camelo.Qualquer música de qualquer cd.

- Não chora vai, não posso ver homem chorando.
Ele sorriu no meio das lágrimas.
-É que é foda sabe?
-Te entendo. Mas não chora.Toma, eu tenho lenço de papel na bolsa. Enxuga as lágrimas e olho na estrada.
Chovia. E chovia demais, o céu estava cinza e ninguém estava na estrada. O rádio tocava alguma música que eu não conseguia prestar atenção. Aliás, não estava prestando atenção em muita coisa, embora estivesse bem ciente dele ali, com aquele perfume que gruda no nariz, na roupa e em todo lugar.
- Eu vou ligar pra ela – ele disse pegando o celular.
- Não vai ligar pra ninguém – eu peguei o celular da mão dele e sentei em cima – olho na estrada. Quero chegar viva.
Ele ficou quieto e voltou a dirigir. E ficou em silêncio. Às vezes, limpava uma lágrima. Comecei prestar atenção na música e percebi que ela fazia todo sentido.(Meu amor é teu, mas dou-te mais uma vez).
Os pingos da chuva batiam no vidro com força. A chuva estava começando a ficar assustadora e barulhenta. E ele não falava nada. Pela sua cara, por dentro ele chovia mais do que lá fora.
O silencio já durava quase meia hora.Eu não tinha nada de bom pra falar.Ele também não.Marcelo Camelo falava por nós dois naquele carro (As vezes eu só quero descansar.... desacreditar no espelho,ver o sol se pôr vermelho).
 - Sem sol –eu disse, meio sem esperanças dele continuar o assunto.
- A única coisa vermelha no raio de 14 km é você - ele finalmente falou.A voz parecia melhor.
- Pensa que é o sol se pondo.Pensa que eu sou seu sol.
(Acho graça que isso sempre foi assim.Mas você me chama pro mundo, e me faz sair do fundo de onde eu tô de novo.)
- Você chama pro mundo e me faz sair do fundo de onde eu tô de novo.Camelo fez essa música pra você? – ele sorriu, provocando.Sempre fazia isso.
- Pra nós – eu sorri e olhei pra ele.
Ele não tirou os olhos da estrada e não sorriu.Camelo continuou falando por nós. (Tudo que eu fizer vai ser pra ver aos olhos dela...vai sobrar carinho se faltar estrada ou carnaval...)
- Vai sobrar carinho se faltar estrada ou carnaval – eu cantarolei junto.
Ele sorriu.
- Estrada não vai faltar.Ainda vamos demorar pra chegar.
Sempre odiei andar de carro, mas naquele momento, eu estava bem.Em paz, sentindo o perfume dele e ouvindo música boa.Não precisava de mais nada.Poderiamos ficar naquele carro pra sempre.
- Não tem problema.
 A chuva parou e inesperadamente o sol apareceu meio tímido e rosado no horizonte.
( Eu vim mas trouxe o sol)
- O sol.
- Eu vim mas trouxe o sol – eu sorri – tenho sorte com essas coisas.
Coloquei o celular dele no porta luvas.
- Esquece isso aqui.Por um tempo.Hoje você vai ter paz.
O silencio continuou até entrarmos em uma ruazinha esburacada e pararmos em frente uma casa antiga.
- Chegamos – ele disse parando o carro e me olhando - Rancho de família.
Havia uma placa no portão onde se lia ‘Rancho Minas Gerais”.Eu sorri e peguei na mão dele.Como se quisesse falar "força, a vida continua" mas na verdade pensando "você tem que ficar bem menino, pra/por mim".
Camelo conclui no rádio. (Se encontrar algum destino para solidão tamanha.Se faltar a paz,
Se faltar a paz, Minas Gerais.)
- Se tiver carinho, ninho – ele cantarolou quando entramos em casa e colocou a mala dele em cima da cama de um dos quartos.
Eu entrei no quarto do lado e fiz a mesma coisa.
- Se tiver vontade, chama – eu sorri.
Ele veio e me abraçou.Um abraço tão forte e tão apertado.
- Você vai ficar bem.Se faltar a paz, Minas Gerais – eu sorri e dei um beijo no rosto dele.
Você vai ficar bem.E eu te amo.
(Cada qual para o seu canto,cada um pro seu lugar nenhum  (...)Não há razão pra sermos dois (...)Mas vai, razão, me diz porquê,por quê razão? Por quê nenhum...Pois não, razão, me diz que não.Mas há razão pra sermos dois em um).

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