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29.11.10

Ele não me pertence. part I

Para ouvir :After Hours- Velvet Underground

 - É verdade Madu, eu o amo, e muito.
Porra, já tá amando? Ficou com o cara na semana passada e já ama. E diz isso logo pra mim, que o amo a 4589 décadas.
Amo aquele cabelo bagunçado, aquele timbre de voz, o sotaque. Amo cada coisa naquele imbecil inútil que senta do outro lado da sala na faculdade. Amo desde o primeiro dia de aula, que ele passou por mim cantarolando Beatles e com um perfume forte misturado com cheiro de cigarro Light.
-Mudando de assunto, ele está vindo ai – disfarçou – Então Madu, vai fazer o que hoje à noite?
Me matar talvez. Talvez coloque minha cabeça na privada e de descarga, só pra sentir a sensação. Ou fique na minha varanda ouvindo ‘Let it be’ e segurando o choro, enquanto como aquela panela de brigadeiro.
- Oi guria – deu um selinho estalado na bochecha do ser que o ama tanto – oi Madu – sorriso torto.
- Oi. Não vou fazer nada hoje Júlia. Alias, tenho que terminar meu TCC.
- Ah, que pena. Porque estávamos pensando em sair não é mesmo Dan?
- Não, não estávamos. Também tenho que terminar meu TCC. Quero minha casa e meu note book hoje.
Segurei um sorriso. Minha vontade era subir na cadeira e gritar ‘ HAHAHAHAHA NÃO ESTAVAM NÃO AHAHAHAHAH’. Mas me contive. Fiz isso na imaginação, e isso já me bastava.
- Vou indo. Graças ao meu jeito nerd recluso , já to liberada da ultima aula, beijos aos que ficam.
Um beijo na Julia , e um beijo no Dan. Um beijo estranho , parecia que ele puxava o rosto e a boca para ficar mais perto da minha. Talvez seja viajem. Minha TPM no auge e os remédios que eu tomo pra conseguir levantar da cama nesses dias , talvez me provoquem alucinações .Isso deveria estar na bula. Vou ler quando chegar em casa.
Metrô lotado , casa. Nenhum som é melhor que o da fechadura da porta da sua casa abrindo pra você passar.
Banho , ouço meu celular tocar.
-  Madu , tem show daquela banda que você gosta hoje . Bora ?
Por que não iria ? e meu TCC ? ah , foda- se. To precisando sair mesmo. E hoje é sexta.
Pego a primeira roupa que vejo no armário. Um pouco abarrotada , e com cheiro de perfume , mas   vai ela mesmo. Uma maquiagem tosca. Tudo bem , eu estava me sentindo tosca.Hoje eu iria deixar a música agir em mim.
Interfone do prédio. Pego o elevador sozinha ,  entro no carro azul da Bia.
A casa de show está lotada. Achamos um lugar. Quando o vejo.
Rindo alto e conversando com um amigo.Ai ele me vê.
Pronto , a  noite mudou completamente.
- Oi Madu .
- Oi - eu estava de costas , mas sabia quem era. Eu conhecia essa voz , esse sotaque.Me virei – sozinho ? Pensei que a Julia viesse contigo.
- Você é a segunda pessoa que me pergunta isso. Ela espalhou que estamos casados ou algo assim ?
- Não – eu ri sem graça.E eu só conseguia pensar :lindo.lindo lindo lindo.
- Vem guria , vem sentar comigo.
Ele pegou a minha mãe e me puxou até outra mesa , deixando o amigo dele sozinho ( mas depois ele sentou - se com a Bia).
- Você não ia ficar em casa pra terminar o TCC guria ?
- Ia né , mas isso eu faço amanhã.Ou quando eu chegar... Não to afim de ficar até muito tarde não.
- Fica ... comigo ... por mim – ele sorriu e eu fiquei sem ar – sempre quis falar melhor com você , te conhecer melhor, mas você ta sempre com a louca da Jú por perto ...
- Louca ? – eu ri com desdém – mas pra ficar com ela tá de bom tamanho a sanindade mental né ?
- Não é isso guria , eu fiquei por ficar ... e UMA vez , ao contrário do que ela está falando por ai. Você nunca me deu bola – ele riu.
E conversa consumiu 2 garrafas de vinho.
-Nossa , 3 da manhã – eu disse finjindo espanto – tenho que ir.
- Eu te levo pra casa guria.
 Ele me levou (com a mão nas minhas costas) até o seu carro pequeno e azul.Sempre quis entrar no carro dele , por que sei que ali dentro teria o cheiro dele mais do que em qualquer outro lugar.E de fato tinha.O cheiro do perfume forte ainda era intensivicado pelo couro do banco.
- Eu não sei onde é sua casa Madu – ele disse assim que ligou o carro – mas sempre tive curiosidade de saber.
- Eu te guio – disse sentido o sangue no meu rosto – vire a direita.
E assim foi , por coordenados confusas (a mão que escreve ou a outra ?) e erros que eram seguidos de crise de risos , até que ele ligou o rádio.
No rádio tocava Los Hermanos e meu coração ia no ritmo da bateria.O silêncio era total. E ai , chegamos.
- Bem , chegamos – eu sai do carro e me espantei quando o vi saindo também – obrigada pela carona.E agora você já sabe onde é minha casa.
- Sim – sorriso torto safado.Meu Deus , daí me ar- posso entrar para usar o banheiro ? Sabe , todo aquele vinho ...
- Claro , vem comigo.
Ele acionou o alarme do carro e me seguiu.Abri o portão de ferro pesado do prédio , e entramos no elevador.Devia ter ido de escada.
Foi instintivo : nos beijamos.E continuamos nos beijando os 14 andares , que era tempo demais pra falar que não nos demos conta do que estávamos fazendo.E eu não parava de pensar : ele não te pertence Madu ... ele é dela.
Elevador para.Nós paramos.Abre a porta.Nós saímos.Nos olhamos.E voltamos a nos beijar.
Não entendi como a porta se abriu , se eu a destranquei , se ele a destrancou ou talvez até a tenha deixado aberta antes de sair.Não entendi como quando me dei conta estava na cama com ele.Mas não culpo o vinho.
Durante toda a noite , não pensei como seria segunda na faculdade.Não pensei se aquilo
iria durar ou se seria só aquela noite.Não pensei o que a Júlia acharia dessa história.Eu apenas fiquei com ele , e fui dele.E o meu mundo era só nos dois até a manha chegar , e o sol deixar tudo claro.

3 comentários:

Clauber Nascimento disse...

\o/
quanto amor uahuehauehau

@jessica_mancha disse...

ah já tava com saudades das postagens, e valeu a pena esperar! UAHSUHUHS lindo, lindo :D

Gabriela Santos disse...

amo seus textos!