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31.7.12

Velha amiga Saudade.

Para ouvir: Por onde anda você - Vinícius de Moraes

Oi Saudade! Tudo bem?Quanto tempo você não aparece aqui... Quem é vivo sempre aparece né? Mas ei, volta aqui, eu não te convidei para entrar.Mas já que entrou mesmo ,você não vai demorar muito né?É só uma visita pra uma velha conhecida, para saber como andam as coisas,não é mesmo?
Não fique toda magoada, nós fomos sim melhores amigas durante o que, um ano? Mas deu, Saudade.A tua amizade nunca me fez muito bem.Você sabe, quando estávamos juntas, eu vivia chorando e sem vontade pra nada.Fiquei verdadeiramente feliz quando você foi comprar cigarros y no volvio.E foi um tempo legal, embora meio conturbado e estranho.Eu não estava sentindo sua falta, evitava tocar no teu nome com medo que você ouvisse e decidisse voltar para dormir e acordar comigo de novo.Pois é, como você pode ver , minha hospitalidade com você acabou.Mas já que você tá aqui, fica mais um pouquinho... porque você é a única certeza de que tudo foi verdade um dia.Não ria da minha cara sua mau educada... depois de todo esse tempo sem toca-lo, falar ou sequer vê-lo, minha mente tá começando a acreditar que tudo isso foi um delírio meu.Mas não foi não é saudade?Aconteceu mesmo não é?Nós existimos mesmo, não é verdade?
Se eu tenho visto o Medo? Ah sim, esse está aqui sempre.Ele vive saindo comigo, principalmente quando eu saio com alguém interessante.O Medo é um amigo presente.A Solidão? Tá bem, firme e forte.Nos falamos todos os dias, ela continua com aquele jeito sarcástico sabe?Rindo da nossa cara.Agora deu pra ficar amiguinha do medo também e eu tô começando a achar que nunca mais vou achar ninguém que faça eu ficar verdadeiramente feliz com uma ligação de bom dia.Nunca mais tipo, morrer sem isso.E ai só vai me restar você Saudade.
Mas enfim, como você pode ver, estou bem sem você.Termine seu café e vá embora.Não fique magoada, é melhor pra nós duas essa distancia... porque quando você tá perto, eu só penso em um jeito de te matar.Alias, aproveita que você já tá indo embora, e leva a Solidão junto.Com o Medo eu me entendo.Tchau Saudade.Uma visita rápida não faz mal, pode vir me visitar as vezes, desde que vá embora tão rápido quanto está indo agora.

21.7.12

O que acontece na praia fica na praia - (fim.)

Para ouvir : King of pain - Alanis Morissette


Acordei um tempo depois, com ele ao meu lado, dormindo. Tão lindo, e calmo.Tudo estava meio surreal e eu não conseguia distinguir a realidade.E ai eu ouvi barulho na casa.

- Chegou gente – ele disse sem abrir os olhos.
-Vish.
Ele se levantou, se vestiu e como se nada tivesse acontecido, ligou a televisão e deitou do meu lado. Eu coloquei a roupa e fui ao banheiro lavar o rosto.
Enquanto tentava desembaraçar os nós do cabelo, ouvi a voz do Guto no quarto.
- Pequena... Ah, oi Caetano. A Ana tá melhor?
- Tá sim cara – ele disse com a maior calma e naturalidade do mundo – eu coloquei ela no banho quando cheguei e a febre baixou. Ela dormiu e eu acabei pegando no sono também, por isso nem voltei lá pra praia.
- Ah... tá beleza... A gente tá começando a arrumar as coisas... Se puder vem dar uma força.
-Beleza cara, to indo já.
Ouvi a porta fechando. Sai do banheiro e ele olhou pra mim e sorriu.
- Tá tudo certo. Você tá melhor né? Vou lá ajudar eles a arrumarem a bagunça.
Eu ia dizer “ok” e não sair da porta do banheiro. Eu ia falar “tá, ai lá” e fingir que o que tinha acontecido não foi nada, eu ia sair do quarto com cara de doente e falar que eu acabei de acordar.Eu ia mesmo.Mas alguma força maligna me fez dar dois passos até ele e o beijar.Assim, do nada, como se fosse a coisa mais normal do mundo.
- Vai lá – eu o abracei.
- Ãhn... Ana? Posso te pedir uma coisa?
- Pode sim - o soltei e dei um passo para trás.
- É... Não comenta o que aconteceu não tá?Pra não ficar um clima estranho com ninguém, não ficar estranho com o Guto, não atrapalhar no serviço... É como dizem, “o que acontece na praia fica na praia”.
Ele me deu um beijo sem gosto na boca e saiu do quarto. E ai eu não posso explicar o que senti na hora, se mais ódio dele, ou mais ódio de mim, ou mais nojo dele ou nojo de mim por deixar isso acontecer quando eu até sabia que ele não vale nada.Quer dizer, ele enfiou isso na minha cara o final de semana inteiro, que não presta, que não é legal, e ai ele chega um dia e só porque se mostra um pouco preocupado eu vou pra cama com ele.Eu sou uma idiota.
Assim que ele saiu eu senti que começaria chorar, mas me segurei. Não hoje, não dessa vez, não nesse quarto e nem por esse cara.Não valia a pena.Peguei o celular que estava dentro da gaveta o final de semana todo, coloquei uma música pra tocar e acendi o cigarro.Não agora Ana.Em casa Ana.
Comecei a arrumar as malas tentando ignorar que alguns momentos antes, o Caetano, aquele, do trabalho, lindo e com as camisas xadrez mais lindas do mundo estava naquele quarto comigo. E tentar esquecer que ele era um idiota completo.
Ai o Guto entrou no quarto.
- Você tá melhor Ana?
Hum, Ana.
- Tô sim Guto... Obrigada por se preocupar.
- Tá- ele olhou ao redor – já estamos quase acabando de arrumar as coisas. Você tá com seu carro né? Então não vou te oferecer carona.
- Não precisa, eu vim sozinha no carro, mas se quiser eu deixo alguém em casa.
- Não, não preciso – ele disse sentando na cama – eu levo. Ana, posso te fazer uma pergunta?Que alias, nem é uma pergunta, posso constatar uma coisa?
- Claro que pode Guto – traguei devagar, esperando ele perguntar o que eu já sabia o que ele perguntaria. Ele me conhece.Sabe quando eu to segurando choro ou algo do tipo.
- Você e o Caetano... – ele procurava palavras pra perguntar mexendo em um fio solto do edredom – quer dizer, rolou né? Ele me disse que você dormiu e ele também acabou pegando no sono, mas eu sei o que vem antes dessa parte... Então, pode falar pra mim, juro que fica entre nós. Rolou alguma coisa né?
- Aham – eu disse sentindo um soco no estomago. Queria chorar.Queria deitar no colo dele e chorar e fazer drama (porque é isso que eu sei fazer de melhor) e sentir o mundo acabar e o que ele me disse doer de novo.Mas não podia.Eu fiz, não fiz?Foi bom, não foi?Aguente as consequências agora Ana. Sozinha – mas não foi nada de mais...Sabe, carência de um lado, ego ferido do outro... Ai rolou.
- Mas você tá bem?
- Sim – eu menti – porque não estaria?
- Sei lá... Esse cara é meio escroto... Ele chegou na Julia antes de vir pra cá, ela deu um fora e ele saiu todo nervosinho.Por isso ninguém veio atrás, porque ele tava puto.Mas enfim, se você tá bem, tudo bem.Vou colocar as malas no carro.
Ele saiu do quarto com a cara mais decepcionada do mundo e isso acabou comigo de vez. Sem choro.Terminei de arrumar as malas, a cama, e sai do quarto.
Todos já estavam prontos, a casa arrumada e as malas no carro. Eu disse que estava melhor umas 25 vezes, agradeci todo mundo pela viajem, sussurrei no ouvido da Julia que depois queria falar com ela, dei um abraço apertado no Guto e menti, falando que tinha que chegar em casa mais cedo para levar minha mãe para um lugar que eu não lembrava onde era.O Caetano veio me cumprimentar por ultimo, me deu um abraço, disse com o tom risonho ‘marcaremos mais coisas juntos’ e mordeu a minha orelha, disfarçadamente (se é que isso é possível).
Eu entrei no carro e sai o mais rápido que pude. Dirigi sem chorar por quase 20 minutos, mas ai, quando o rádio começou a tocar “Dig a pony”,música que sempre embalou minhas piores fossas, o choro veio.
Não era bem tristeza, era ódio e nojo.Não chovia, o céu estava azul e com poucas nuvens.O sol também não esquentava, mas u pouco me importava com o clima.E eu subi a serra chorando, copiosamente.Um motoqueiro do meu lado perguntou se eu estava bem .Um senhor me perguntou se eu precisava de ajuda.Não preciso moço.Só preciso pegar meu amor próprio, que ficou lá na praia.Como toda a merda que aconteceu esse final de semana.

20.7.12

O que acontece na praia fica na praia - part VII



Para ouvir: Me and Mrs,Jones - Amy Winehouse
Consegui relaxar depois de um tempo e percebi que o frio tinha diminuído um pouco.Sai da banheira, e me troquei.Quando abri a porta do banheiro ele estava lá, em pé.Me pegou no colo e me levou até a cama.
- Não pisa no chão gelado depois de sair do banho, você já não ta bem.
Ele me deitou ,me cobriu e deitou do meu lado.Assistia algum programa ruim de domingo na televisão, que pouco me importava.Eu percebi que ele também tinha tomado banho nesse tempo, estava sem areia no corpo e com cheiro de shampoo.Com uma camisa xadrez e uma bermuda leve, tão lindo que quase passava minha febre só de olhar pra ele.
- Você ta melhor?
- Um pouco.
- Eu vou ficar aqui com você – ele disse se aproximando um pouco – tenta dormir, você vai acordar melhor.Tá com sede? Eu sempre tenho sede quando to com febre.
- Não, eu to legal – disse virando pra ele – pode voltar pra praia se quiser.
- Eu já disse que vou ficar aqui.Passou a briza de praia agora também- ele colocou a mão na minha testa - parece que sua febre ta baixando.Tenta dormir.
Não consegui nem debater; logo peguei no sono.Acordei com a sensação que tinha dormido por séculos, e ele ainda estava do meu lado, lendo um dos meus livros.O frio tinha passado, e eu estava com sede.
- Que bom que você acordou – ele disse soltando o livro – ta melhor?
- Com sede – eu admiti com vergonha.
- Eu sabia – ele sorriu e me deu um copo de água que estava do lado da cama – seu desejo é uma ordem.
Tomei tudo em um gole só.
- Você quer mais?Eu vou buscar.
- Não precisa.Obrigada.
Silêncio.Ele deitou e ficou de frente pra mim.
- Ta, estamos aqui.Vamos conversar.Me conte sobre o coração.Como ele está.
Sempre me testando.
- Agora? Ta acelerado.
ISSO ANA, PARABÉNS,PORQUE NÃO FALA QUE A CULPA É DELE TAMBÉM?
- Porque?
- Sei lá.
- O meu também ta.
Ai caralho.
- Porque?
- Sei lá.
Eu sorri e percebi um clima estranho e logo percebi: estávamos sozinhos em casa.Na cama.Mas não ia rolar nada né?Somos amigos, não somos?
- Você é bonita.Nunca tinha reparado nisso.
Levo isso como um elogio?
- Obrigada.Você também, é bem bonito até.
- “Bem bonito até” – ele riu e virou o rosto para o teto – engraçado, ninguém veio ver porque eu to demorando tanto.
- Nem o Guto.
- Eu estava me referindo a ele mesmo.
- Loira de biquíni – eu disse rindo.
- Não sei... – ele virou pra mim de novo – ele parecia preocupado mesmo com você.
- Não estava.Eu conheço o Guto, é só carência, ou necessidade de cuidar.Logo passa.
- Mas não rolaria nada entre vocês mesmo?
- Se me perguntasse isso a uns 10 anos atrás ...– eu ri – mas hoje não.Hoje ele é um irmão mais velho.Só isso.
Silencio.
- Eu acho que o cara é louco por você.Na boa.
- Ninguém é louco o suficiente a ponto de ser louco por mim Caetano – eu disse sentando na cama.
- Eu duvido- ele constatou, em voz baixa, como se fosse pra si mesmo - Você ta com frio? – se sentou também – quer mais algum cobertor?
- Não, to melhor – senti um clima tenso.De repente, era obvio que aconteceria alguma coisa ali.Sabe quando dá um ‘click’ e seu coração acelera?Pois é.Ele ficou olhando pra mim por um tempo e eu sorri sem jeito.E ai ele me beijou.
E era o beijo mais perfeito do mundo, com gosto de pasta de dente e cheiro de banho recém tomado.Meu cérebro não funcionava mais, meu estomago não existia, minhas pernas formigavam e minhas mãos, nem sei onde estavam.Eu estava beijando ele.Ele, por algum motivo na face da terra, me beijou.Talvez tenha fetiche por mulher doente, ou tenha tomado um fora da Júlia, ou algo do tipo.Estava lá me beijando.E eu não queria que aquele beijo acabasse nunca, por medo dele perceber o que estava fazendo e fosse pra praia de novo.Mas ele não parava.E eu também não.
Foi quando eu percebi que estávamos deitados em uma cama e sozinhos em casa.E ai, de ‘alegria instantânea de ficar com o cara que eu sou completamente afim’ passei para ‘ eu paro isso tudo ou deixo continuar?”
Mas percebi que não existia a opção de ‘parar isso tudo”, era tarde demais.O toque dele dava choque, cada lugar que a mão dele tocava formigava.Eu estava sem ar simplesmente como beijo dele, e por mais que fosse ‘errado’ eu não queria sair daquela cama tão cedo.Mas, eu não estava fazendo nada errado não era? Eu não namoro, ele não namora,estamos sozinhos em casa e já somos bem grandinhos e sabemos o que estamos fazendo.Ou o que vamos fazer.
Foi inevitável, com toda a química que tivemos.Podia não ser obvio enquanto conversávamos, mas ela ficou evidente no toque.Ele fazia exatamente o que eu pensava sem eu nem precisar falar.Parecia que o mundo fazia sentido enquanto eu estava naquela cama.A cabeça não parava um segundo, e eu não pensava mas em parar.Deixa continuar.O que acontece na praia fica na praia, não é mesmo? Eu só não sei se quero que isso fique só por aqui.

19.7.12

O que acontece na praia fica na praia - part VI


Para ouvir: Time After Time - Cyndi Lauper


Para alegria de todos, o dia amanheceu com sol. Não AQUELE sol, mas você sabe como paulista é quando está na praia : qualquer solzinho amarelo serve. Ainda mais sendo domingo, ultimo dia que ficaríamos na casa.
Acordei com o quarto com luz amarela e fiquei animada, mas assim que coloquei o pé no chão percebi que não estava bem. Parecia que um piano tinha caído em cima da minha cabeça, e eu senti tanto frio que minha boca começou a tremer.
Coloquei uma das mil blusas que tinha levado e sai do quarto com um cobertor nas costas.
-Bom dia bela adormecida! – gritou o Guto assim que sai do quarto – já estava indo te acordar. Vamos, coloca seu biquíni e vamos pra praia.
- Não tô no clima Guto – eu disse sentando em uma das cadeiras na cozinha – podem ir, vou comprar um remédio e tomar, se melhorar eu encontro vocês tá?
- O que você tem Ana? – perguntou Marcela saindo do banheiro só com a parte de cima do biquíni e um shorts mais parecido com um cinto. Senti frio só de olhar pra ela.
- Acho que tô com febre...
- Ela sempre tem isso quando vem pra praia – Guto disse levantando do sofá e colocando um sapato – vou na farmácia comprar teu remédio. Continua o mesmo de sempre?
- Sim. Pega dinheiro na minha carteira.
- Relaxa pequena – ele se aproximou e me deu um beijo na testa – já volto.
Ele saiu pela porta e eu não consegui contar até 2 para ouvir o coro de ‘1mmmmmmmmmmmmmm’ de todos os presentes. Eu senti o sangue no rosto e fui procurar leite na geladeira.
- Parece que seu ‘caso antigo’ é bem preocupado com você.
Caetano. Ai Caetano. Você tem problemas.
- Papel de amigo de infância.
-Então você nem vai pra praia hoje com a gente?- ele disse fingindo procurar algo na gaveta da pia.
- Não dá – eu disse indo para pia colocar achocolatado no meu leite- se eu melhorar vou mais tarde.
-Que pena – ele disse ficando na minha frente, mas ainda com um dos braços na pia – seria legal te ver de biquíni.
Se virou e foi embora. Pra que ser tão louco? E pra que ser tão lindo?
Alguns minutos depois o Guto voltou com o meu remédio. Todos já estavam prontos para ir pra praia, só eu deitada no sofá com dois cobertores assistindo desenho.
- Podem ir, eu vou ficar aqui com a Ana – disse o Guto sentando no sofá.
- Mas nem por decreto – eu disse me sentando rápido demais, o que acabou me deixando meio tonta- ai. Vai pra praia Guto. Vá ver garotas. Isso é uma ordem.
- Eu não vou pequena  - ele se ajeitou no sofá – vou ficar com você.
Senti o risonho olhar do Caetano para mim.
- Vai Guto, sério. Eu vou ficar vendo desenho, depois vou dormir um pouco. Se acordar melhor eu vou encontrar vocês.Agora vai.Se diverte por mim. Alias, vão logo vocês, aproveitem que são jovens e cheios de saúde, essa minha época já passou. Qualquer coisa eu apareço por lá mais tarde.
Por fim todos concordaram. Me comprimentaram com beijos abraços e ‘melhoras’, e eu brinquei falando que estaria viva quando eles voltassem, não precisavam se despedir. Caetano me deu um abraço e sussurrou no meu ouvido ‘apareça de biquíni, por favor.” E foi embora.
Fiquei assistindo desenho e cai no sono no sofá mesmo. Um tempo depois acordei com mais frio ainda, e um pouco de enjôo. Peguei outro cobertor no quarto e tomei o remédio de novo. Acabei pegando no sono outra vez e acordei com a porta da frente batendo.
- Você tá melhor? – eu ouvi de um cômodo da casa.
A dor de cabeça estava tão grande que eu não consegui abrir os olhos pra ver quem era.Só gemi um  ‘uhum’ e coloquei a cabeça no travesseiro de novo.
- Você tá melhor? – a voz estava mais perto. Senti uma mão gelada na minha testa- caramba Ana, você tá queimando de febre. Tomou seu remédio?
Gemi outro ‘uhum’ ainda não distinguindo a voz. Era um homem, mas não era o Guto (a mão dele nunca era gelada, e ele voltou com essa de me chamar de ‘pequena’), então sobrava o Beto ou o Caetano. Então por eliminação ficamos com Beto, porque  por que diabos Caetano estaria aqui?.
- Beto, eu tô bem, pode voltar pra praia– eu tentei falar, mas a garganta dava sinais que estava falhando também.
- Vish, já tá delirando.Sou eu, o Caetano.
O que diabos esse homem tá fazendo aqui?
- O que você tá fazendo aqui? –pergunto sem tirar cabeça do travesseiro e forçando a garganta.
- Eu vim pegar a carteira que tinha esquecido.Mas agora não dá pra te sozinha aqui, você ta ardendo em febre, pode convulsionar.Vai tomar um banho gelado agora.
- Caetano volta pra tua praia e me deixa eu paz – eu disse.Já não basta você não me querer, agora quer ficar aqui bancando meu pai? Pfvr né menino.
- Não Ana, eu to preocupado de verdade.É sério, você já tomou remédio e a febre não baixou, você não é mais criança, não agüenta febre alta.Vai pro banho.E depois vai pra cama, eu vou arrumar lá pra você.Vem, eu te ajudo.
Ele me pegou no colo, assim, como se não fosse nada.Eu senti o cheiro de água do mar, cheiro que eu sempre odiei, mas que ficava tão bom na pele dele.Ele estava sem camisa, senti a pele quente.Clichê, mas é verdade.
- Você ta muito quente mesmo Ana.Seu quarto tem banheiro né?Tem banheira lá?
Segurei as piadinhas sobre a observação de ‘ser muito quente’ e balancei a cabeça afirmando a pergunta da banheira.Senti ele me colocando na cama.
- Fica ai rapidinho, vou encher a banheira.
Estava muito frio, e eu estava sentindo que desmaiaria a qualquer momento.Ouvia meu coração latejando na cabeça, um pouco pelo frio, um pouco pela dor, um pouco pela proximidade do Caetano, um pouco pela raiva de tudo isso.Eu tremia de frio e só queria um cobertor ou ele me esquentando.
- Agora vai pro banheiro Ana.
- Deixa eu dormir – eu disse gemendo (e fazendo um pouco de manha.Mulher adora fazer manha).
- Sério, vai.Eu te jogaria na banheira, mas não sei se você trouxe outras blusas.Levanta vai.Não me faça tirar sua roupa.
Não seria má idéia.
Levantei e fui para o banheiro, sentindo mais frio do que eu achei que fosse possível.Ele foi atrás e fechou a porta.Tirei a roupa batendo os dentes e entrei na banheira.A água não estava de todo gelada, parece que ele tinha ficado com dó de mim e deixado ela um pouco morna.A sensação não era boa, mas eu sabia que era pro meu bem.Ouvi o barulho da cama e o som da tv ligada.Tentei relaxar na água, mas o frio não deixava, e meu pensamento estava na cama, junto com ele.Porque ele está fazendo isso? Podia ter voltado pra praia, com as meninas de biquíni, a Júlia e tudo mais.Por que está aqui, cuidando de mim?Nem somos tão amigos assim, não é?

18.7.12

O que acontece na praia fica na praia - part V

Para ouvir: Com ou sem você - Soulstripper

A noite esquentou e decidimos fazer um luau. Levamos as coisas para praia, o Beto tomou conta do violão.
Fiquei conversando com a Marcela em um dos raros momentos que ela estava longe da língua do Gabriel.Conversando sobre nada, fingindo que não tinha ligado pra noticia que ela me dera mais cedo.Podia fingir que não liguei, mas não podia fingir não estar vendo ele indo atrás da Júlia em qualquer lugar que ela fosse.Paciência, a vida é assim.
O Guto ia de 5 em 5 minutos perguntar se eu estava melhor.Eu dizia que sim, embora estivesse com um pouco de dor de cabeça.Acho que realmente não tinha passado a fase de ter febre na praia.
Foi uma noite gostosa, com muitas risadas e meu ciúme a flor da pele.Sempre que olhava pra ele sorrindo, a pergunta ‘por que não eu?’ aparecia na minha cabeça, como um mantra.E isso me deixava chateada, mas coloquei um sorriso no rosto e fingi que estava tudo bem.Vida de mulher é assim, sorrir com o salto machucando, sorrir com sutiã soltando, sorrir com maquiagem borrando, sorrir com cólica matando,sorrir com imbecil causado...
Lá pelas tantas, sentei perto do mar pra ficar um pouco sozinha.
- Você não costuma ser quietinha assim – ele diz sentando do meu lado.
- Só estou pensando um pouco Caetano.Tô normal.
- É, você tem esse jeitinho mesmo.
- Qual jeitinho?
- Esse seu.Quando você ta quieta, a gente consegue perceber que ta prestando atenção em tudo.Você é a típica ‘come quieta’ – ele sorriu.
- Pois é... de boba só tenho a cara – “e o coração” pensei comigo mesma.
Silêncio
- Porque você não dá uma chance pro cara lá?
- O Guto?
- É... ele parece ser bem afim de você.
- Não é não – eu finjo dar risada, mas na verdade a vontade é mandar ele calar a boca – não sei o que deu nele pra estar com todo esse cuidado comigo... mas como eu disse, é só ele achar uma loirona de biquíni que isso passa.
- Se você ta falando – ele dá de ombros.
- Eu sei do que to falando – eu sorrio – mas e você, to percebendo os olhares pra Júlia.
- Impressão sua.
- Impressão... aham, sei! Assume logo bonito.A Júlia é incrível, é completamente compreensível.
- Bom, quem sabe.
Silêncio.
- Será que amanha rola praia? – ele disse pra puxar assunto- ultimo dia aqui né, seria bom...
- Acho que amanha rola sim.. Ta uma noite gostosa... Amanha o sol aparece e as garotas de biquíni aparecem com ele.
- Uhu – ele diz fingindo animação.
Depois disso, começamos a conversar sobre outras coisas inúteis, como o jeito que a lua interfere na maré, ou a campanha do time dele no campeonato, ou sobre como o pessoal do escritório era desanimado e nunca fazia nada.
- Mas agora que eu sei que você conhece o Gabriel, a gente marca de fazer alguma coisa no final de semana e tal...
- Pode chamar ... ai eu chamo o resto do pessoal também agora que você já conhece todo mundo, pelo menos eles não ficam se pegando e a gente sem graça.
- Pode ser.
É impressão minha ou senti um ar de decepção? Mulheres só ouvem o que querem ouvir.
- Levo algumas amigas pra você se quiser.
- Pode ser.Eu levo uns amigos também se você quiser.
- Pode ser.Bom, eles já estão levando as coisas, vou lá ajudar.
- Vai lá.
Ele fica sentado sozinho na areia e eu me seguro pra não ir lá e gritar “ Você nunca percebeu que eu só quero você e pronto? Que mane amigo seu, vai só você que pra mim ta ótimo! Conversa comigo a noite toda, me leva pra casa depois e me beija um beijo calmo com gosto de ‘dorme bem’, que pra mim ta ótimo.Que mane amigos Caetano, eu to aqui, olha aqui pra mim!”.Mas me seguro, e me contento em acender um cigarro e virar mais uma dose de tequila.

17.7.12

O que acontece na praia fica na praia - part IV


Para ouvir:Pedrinho - Tulipa Ruiz

Para a tristeza de todos, o dia amanheceu com uma chuva torrencial.Nas raras vezes que a chuva dava trégua, o ar soprava tão frio que desencorajava todo mundo a colocar o nariz pra fora de casa. Nada de praia, sol, nem garotas (eu não consegui não sorrir ao pensar na ultima parte da frase.)
- Mas que sol lindo hein gente?? – eu disse assim que sai do meu quarto – Vai, vamos logo pra praia, não vamos perder tempo!
Ninguém achou muita graça.
- Acordou bem-humoradinha né Ana? – Marcela me lançou um olhar raivoso.
- Olha Marcela, você mais do que ninguém aqui tem motivos para acordar bem-humorada – eu disse sentando do lado da Júlia e colocando os braços sobre ela – não é não Julinha? – ela riu – se VOCÊ não está bem humorada, porque eu estaria?
Dessa vez todos riram.
- Engraçadinha – ela disse com raiva.
- Ok gente, não tem sol, o que faremos? – perguntou a Júlia um pouco mais animada.
- Dormir – eu disse sonolenta.
- Ah tá frio – interveio Caetano, tão lindo, com vozinha de sono – tem um mercado aqui perto Marcela? – ela balançou a cabeça afirmativamente no meio de um beijo e outro com o Gabriel – então ta, fondue.Quem topa?
Todos toparam, e antes que eu me desse conta estavam indo para o mercado comprar as coisas.Eu decidi ficar em casa, fui arrumando as coisas e lavando a louça.Eles voltaram logo e dessa vez a Marcela que foi pra cozinha cortar as coisas e fazer o fondue, e eu fui ajuda-la.
- Sem graça o amigo do Gabriel né?
- Hum.
- “hum” o que? Ele meio sem gracinha.
- Não acho... eu já o conhecia, ele trabalha comigo.
- A é? Nossa, que mundo pequeno.Ele conhece o carinha que você é afim então.
- É ele.
- Oi?! – ela disse quase se cortando.
- Cuidado com essa faca mulher! Pois é... o amigo do teu namorado é o cara que eu to afim.
- Vish.
- O que foi ?
- Más notícias – ela disse olhando no meu olho.
- Ai.O que foi?
- Ele comentou com o Gabriel que tá pensando em chegar na Júlia.Que achou ela legal e linda e tudo mais.
Ai que vida linda.
-Tudo bem.Eu sabia que não ia rolar.
- Triste.
- Pra mim principalmente.Vou deitar um pouco tá? Acho que tô começando a ficar com febre.
- Você não ficou triste não é?
 - Claro que não – eu menti – tá tudo bem.Sério.
Fui para o quarto.Claro que eu fiquei triste.Por que não eu? Porque não eu? Eu que almoço com ele todo dia, eu que ajudo ele no trabalho, eu que dou risada das piadas dele, eu que tô ali, babando por ele de segunda a sexta das 8 as 18? Tá, a Júlia é linda e legal, mas por que ele não olhou pra mim?
Deitei na cama e liguei a televisão, esperando me distrair.Claro que não era nenhuma tragédia, mas sabe, ego ferido dói.Estava passando um filme água com açúcar típico de sábado a tarde.Fiquei quietinha, deitada e cai no sono.
Acordei com a porta do quarto fechando.
- Pequena, tá acordada?
- Agora tô – pela voz e pelo apelido, reconheci que era Guto – tá tudo bem?
- Tá sim.... é que a Ma disse que você veio deitar porque achou que tava começando a ficar com febre... vim ver se você precisa de alguma coisa e te trazer um pouco de fondue.
- Não, acho que eu tô bem – disse sentando na cama- foi só impressão.Mas já que você tá aqui passa esse chocolate pra cá vai.
Ele sentou na cama e me deu o potinho de chocolate e o de frutas.Chegou mais perto (mais perto do que precisava) e colocou a mão na minha testa
 - Você tá um pouco quente mesmo.Não quer que eu vá comprar um remédio?
- Não precisa Guto, eu tô bem, sério.
- Então tá – ele disse se aconchegando do meu lado na cama – o que você tá assistindo?
- Olha, até eu dormir tava passando uma comédia romântica bonitinha com a Natalie Portman, mas agora eu não sei...- eu disse com a boca cheia.
- Posso ficar aqui com você?
- E desde quando você precisa pedir Guto? – eu disse rindo – claro que pode.
E a tarde toda foi assim.Ficamos vendo inúmeros filmes deitados, comendo fondue (quando acabava ele ia pegar mais) e rindo de tudo que o outro fazia ou falava.Como nos velhos tempos.Era tão fácil ficar perto do Guto.Ele era tão legal e tão familiar... e ai eu entendi o porque tinha me apaixonado por ele anos atrás.

16.7.12

O que acontece na praia fica na praia - part III

Para ouvir: Oh Darling - The Beatles
- De onde você conhece o Gabriel?
Caetano me pergunta sentando do meu lado.Já escureceu e agora estamos na sala, jogando conversa fora e esperando a Júlia terminar de cozinhar.
- Estudei com a Marcela – eu falo indo um pouco para o lado, pra dar espaço pra ele sentar – e eles tão se pegando a um tempo né.
-Entendi.O cara ta apaixonadinho.
- Que bom, porque ela também tá.E se ele magoar ela, vou ser obrigada a mata-lo.
- Não, ele tá curtindo ela sim.
- E você, conhece ele de onde?
- A gente cresceu  na mesma rua.
-Entendi.
Silêncio.Começo a observar o que está acontecendo ao redor.Marina e respectivo namorado conversam calmamente (milagre).Júlia está na cozinha.Marcela e Gabriel estão se pegando em algum lugar remoto (porque depois de tantos pedidos, eles pararam de se pegar na frente de todo mundo), Guto e Beto jogam pôquer (embora perceba que o Guto está mais interessado no que está acontecendo comigo e com o Caetano do que no jogo.A cerveja na minha mão esquentando.O silêncio começa a ficar constrangedor.
- E o seu namorado Ana? Porque não veio?- ele pergunta como quem não quer nada.Tem essa mania, de jogar essas coisas do nada, pra poder ver minha reação.Tipo quando do nada me perguntou se eu o achava bonito, ou quando do nada pega na minha mão.Só pra testar, você sabe.
- Não veio porque não existe - eu sorrio e dou um gole na garrafa de cerveja que estava na minha mão - e a sua?
- O mesmo problema.
- Entendo. - eu falo olhando para o lado.
- Pois é. Mas tenho certeza que você não tá namorando única e exclusivamente porque não quer- ele olha nos meus olhos e curva a cabeça pra mim - tenho certeza que tem um monte de marmanjo atrás de você.
- Olha se achar um, por favor me avise! Porque tô procurando viu.
- O cara ali do outro lado - ele olha para o Guto- tá bem interessado nas direções que você anda.
- O Guto? Esse não conta.Caso antigo.
- 1mmmm, agora eu percebi o porque ele não tira o olho daqui.Só cuidando do que é dele – ele sorri com tom provocador.
- Não! Você entendeu errado! Nada aqui é dele não - digo depressa (e com o tom de voz meio desesperado até) tentando consertar o estrago - é só que a gente cresceu junto, e eu fui apaixonada por ele quando era novinha, e disse uma coisa que agora ele surta quando a gente tá junto e/ou quando tá bêbado. Amanha vamos pra praia e ele acha alguma menina de biquíni e fixação passa.
- Opa, quero uma também.
- Garota de biquíni? - eu pergunto fingindo não ligar.
- Sim - ele sorri torto e toma um gole da minha cerveja.Quando vai me devolver, faço o sinal com a mão que ele pode ficar.Perdeu a graça mesmo.
- Bom, como diria uma banda que eu gosto, "quantos amores de verão cabem em um verão?" - dou de ombros, fingindo não ter ligado.Mas a verdade é que eu estava quase indo para o meu quarto e colocando um biquíni, só pra eu ser a primeira menina de biquíni que ele vai ver, só pra ver se isso muda alguma coisa.
- Em um verão eu não sei,mas em um final de semana, veremos.
- Boa sorte - eu falo e levanto do sofá em que estávamos sentados - eu vou ver se a  Júlia precisa de ajuda com o jantar.
Levantei o odiando pra sempre. Caramba, ele sabia que eu era afim dele, porque falar essas coisas?Ele sabia,não sabia? Não estava na cara? Levantei totalmente desencanada e raivosa.Mas antes de chegar na porta da cozinha, já tinha esquecido tudo.O cheiro que vinha da cozinha era simplesmente incrível.Encontrei a Júlia cortando cebolas.
- Precisa de ajuda gatinha?
- Preciso Ana, corta esse queijo em cubos pra mim por favor.Como estão as coisas lá na sala?
- Tudo sob controle.Estava conversando com o Caetano até agora.
- Algo bom?
- Ele falando de garotas de biquíni.
- Idiota.
-Eu já disse que o fato dele não me querer não o faz idiota.
- Realmente.O faz burro.E viado.E idiota.Quando terminar ai refoga a carne por favor?
Homens, aprendam uma lição: Você pode ser incrível, lindo, inteligente, engraçado ,fofo, romântico, fiel e tudo mais, mas se em algum momento da sua vida você não quiser uma amiga nossa, automaticamente passa a ser qualificado como "idiota", "imbecil" ou "viado".Aceite, é a lei da vida e da amizade entre mulheres (amizade de verdade, aquelas não tão amigas assim vão achar interessante o fato de você não querer a “amiga”, e tentar fazer você ficar a fim dela).
Ajudei a terminar o jantar e colocar a mesa.A lasanha da Júlia não durou nem 20 minutos, e depois de comer, fomos dar uma volta na praia a noite, aproveitando que a lua tinha saído pra dar as caras.
Deixei todo mundo ir na frente.Coloquei o fone de ouvido, acendi um cigarro e fui andando devagar, pensando na vida.Deixei na minha cabeça os únicos 4 homens que nunca me decepcionaram : Paul, John,George e Ringo.Estava uma noite gostosa , e foi bom andar só com os meus pensamentos.Uma hora ou outra eu me pegava pensando em como seria legal ele se soltar do pessoal e ficar uns passos atrás comigo, pra conversarmos sobre a noite ou o que eu estava ouvindo, e como seria legal se ficássemos conversando o resto da noite na varanda da casa, e como seria legal se ele me desse um beijo antes de ir dormir.Logo tudo isso passava, a gente tem esses surtos de criatividade quando tá querendo alguém assim desse jeito.Claro que ele não foi conversar comigo, ficou o tempo todo junto do grupo.Ficamos um tempo sentados na areia , conversando e vendo o Beto entrar na água de roupa e tudo, mas ele não se aproximou.Na volta pra casa me perguntou o porque eu estava tão quieta, eu respondi que estava ouvindo música e foi tudo o que conversamos durante a noite.
Chegando em casa, decidimos ir dormir para acordar cedo no outro dia e aproveitar o sol (todo mundo estava muito confiante que o sol iria aparecer no outro dia).Nos despedimos e cada um foi para o seu quarto.
No meio da noite senti sede e fui pra cozinha pegar um copo de água.Levantei meio sonolenta, e fui tateando a parede até achar o interruptor.Acendi a luz e fui até a geladeira.Enchi um copo com água e quando virei para voltar para o quarto percebi que Guto estava na varanda, sentado na mureta sozinho,com os fones de ouvido e olhando pro céu.
- Tá tudo bem? - eu pergunto chegando perto e colocando as mãos no ombro dele.
- Agora tá - ele coloca as mãos em cima das minhas e me puxa pra mais perto - o que você tá fazendo acordada essa hora?
- Acordei com sede - tirei as minhas mãos das dele e sentei na sua frente - vim pegar água e te vi aqui.
- Você trouxe se remédio pra febre? Eu sei que você sempre tem febre quando vem pra praia.
- Ah, eu tinha mesmo, mas quando eu era criança, acho que passei dessa fase... que bonitinho você lembrar disso - eu bagunço o cabelo dele- mas enfim, vou dormir.E você devia fazer o mesmo, amanhã a gente vai cedo pra praia, se sair sol.
- Não to botando muita fé nesse sol não.
- Eu também não – eu sorrio- vamos? Dormir.Praia.Sol.Garotas.Biquínis.Peitos.
- Pode ir pequena , vou ficar mais um pouco aqui.
- Ok - dei um beijo no rosto dele e fui entrando em casa, pensando o quão estranho foi ele lembrar que quando éramos mais novos, sempre que nós viajávamos (sempre viajávamos juntos, com a família um do outro) eu tinha febre.E o quão estranho foi ele me chamar de pequena, apelido que ele me deu na volta das aulas da minha 6° série, tínhamos ficado as férias sem se ver , e quando me viu, percebeu que tinha crescido e estava um pouco maior que eu.
Deitei na cama e fiquei pensando, que nessa época, eu já era apaixonada por ele.É estranho pensar em todos os suspiros que eu já dei por ele, todas as cartas que eu nunca entreguei e todas as músicas que fizeram sentido na época.Lembrei que quando ele me chamava de “pequena”, a cor do meu dia mudava.Ai ele me chamava de “pequena” e continuava a frase com “e aquela sua amiga, a loira?”.Isso acabava comigo.É estranho pensar como isso acabava comigo, quando agora eu não consigo sentir nada pelo Guto.Agora, ele é tipo um irmão mais velho lindo.Nas época, parecia que o mundo ia acabar e hoje não é nada.Paixões de criança tendem a acabar assim mesmo não é?
Adormeci me fazendo essa pergunta.

15.7.12

O que acontece na praia fica na praia - part II


Para ouvir: How Will I Know - Glee Cast
Entro na casa e vou direto pra garagem , pra poder ajudar com as coisas.E ai eu o vejo.E é ele.Ele, ele mesmo, o amigo da Gabriel é o cara que eu to afim.Eu juro, pode ser clichê mais é verdade.E ai eu não sei se fico feliz por que vou passar um tempo com ele longe de todo mundo do trabalho, ou se fico triste porque vou passar todo esse tempo querendo ele pra mim e ele nem percebendo, ou querendo não perceber.E ele me vê e sorri.E minha mão fica mole e eu deixo a mala cair.
- Opa Ana, quer ajuda ai? – Gabriel comenta sem perceber o quanto de drama essa situação tem.
- To bem sim, me deu cãibra.
- Ana? Caramba, como esse mundo é pequeno! Tudo bem ?
- Vocês se conhecem?
- Sim... errrr, ele trabalha comigo Gabriel.Tudo bem sim Caetano, e você?
- Tudo certo.
- Errr, ta vem comigo que eu te mostro o quarto ta? Como você foi o ultimo a chegar, pegou o mais longe do banheiro, sinto muito.
- E o que isso significa?
- Mais fila pro banho – eu sorrio- mas vamos, eu te mostro.
Ele me segue e eu subo a escada com cuidado, pra não cair em cima dele (embora essa fosse minha vontade desde a primeira vez que eu o vi).
Era um quarto pequeno e com as paredes amarelas, no final do corredor do andar de cima.Um pouco longe de tudo.Pensei rapidamente que seria bom, porque ai não ia acordar de madrugada e ir bater na porta dele com alguma desculpa idiota, só pra vê-lo com carinha de sono.
- Aqui Caetano.Como eu disse, longe de tudo e sem banheiro.Mas tudo bem, se a fila do banheiro estiver muito grande, eu te empresto o do meu quarto.
Eu disse isso mesmo???????
- Eu vou agradecer – ele sorri o sorriso mais lindo do mundo – mas ta ótimo, pensei que fosse chegar e nem teria um quarto pra mim.Bom, vou arrumar minhas coisas.
- Ok, eu vou descer ta? Termina ai e junte-se a nós lá atrás.Tem algumas coisas de comer e álcool, mas eu nem sei se você bebe, você bebe?
- Socialmente.
- Ótimo.Então junte-se a nós e nos mostre como é isso.Te espero lá embaixo.
Deixo ele se arrumando e vou pra fora da casa.Sento em  uma cadeira próxima a piscina para organizar meus pensamentos e respirar fundo. A Júlia senta do meu lado.
- Você tá bem Ana?
A Júlia é um doce.E linda.É daquelas suas amigas quietas e que te olham e sabem exatamente quando você tá precisando de alguém ali do lado.Eu sou mais próxima da Marcela, mas é com ela que eu me dou melhor.
-Lembra o carinha do serviço?
- O bipolar?
- Ele não é bipolar – eu dou risada- ele só não me quer.
- Ele não sabe o que quer na verdade.Um dia ele acorda e quer confete, ai fica do teu lado o dia todo jogando conversa fora.Ai no outro dia que tá bem, te ignora.
- Então, ele não me quer.
- Tá.Mas, o que tem ele?
- Ele tá aqui.
- O QUEEEEEEEEEEE? – ela fala um pouco alto demais – O QUE ELE TÁ FAZENDO AQUI????????
- Em primeiro lugar, calma.Fala baixo.Ele é amigo do Gabriel.Tá aqui, naquele quarto amarelo dos fundos.Todo lindo e cheiroso como só ele consegue ser.Tá aqui.
- E como você tá?
- Ainda não sei se isso é bom ou se é ruim.
- Quem sabe não rola alguma coisa?
- Não vai.
- Ah Ana,você sabe o que dizem... o que acontece na praia, fica na praia.

14.7.12

O que acontece na praia fica na praia - part I


 Para ouvir: Tempestade - Marcelo Jeneci

Arrumar as malas nunca é legal.Não é e pronto.Não importa se você ta indo pro melhor lugar do universo, arrumar a mala é sempre um saco.
Praia nesse final de semana de chuva, sério mesmo? Sério.Me arrastaram pra essa viagem e aqui estou, fazendo as malas, que pela quantidade de roupa que tem aqui parece mais que eu vou pro pólo norte do que pra praia.E eu que só queria ficar em casa pensando no lindo do trabalho.
O celular toca e é a Marcela pela 17° vez perguntando se eu vou mesmo.Vou mulher, já disse que vou.Só fumar um cigarro e dar um jeito nisso que eu chamo de cabelo e to indo.
O Guto insistiu para eu ir com ele, mas preferi ir com meu carro.Caso chova muito, posso vir pra casa a hora que bem entender.Ou se o lindo do trabalho me ligar chamando pra fazer alguma coisa (não, ele nunca fez isso,mas custa sonhar?) eu posso voltar pra cidade também.A estrada colaborou, não tinha transito.Acho que ninguém quis se arriscar a ir pra praia com esse tempo cinza.Eles não tem os amigos que eu tenho.Sortudos.
Não foi difícil achar a casa onde ficaríamos,uma casa legal não muito longe da praia.Quando cheguei Marcela e o atual quase-namorado (o qual eu não lembro o nome e nunca vou lembrar na minha vida) estavam tirando as malas do carro.
A propósito, eu sou a Ana.Só pra você não ficar perdido com os nomes (já que eu não sou muito boa com isso).
- Eu e o  (insira aqui um nome difícil de lembrar) vamos ficar com a suíte no final do corredor Ana.Escolhe um quarto pra você.
- Cadê o resto do pessoal? Por favor não me diga que ninguém vêm e eu vou ficar segurando vela pra vocês todos esses dias.
- Vem sim. Devem estar chegando.Todo mundo ta vindo com o Guto.Aproveita que chegou primeiro e pega a ultima suíte.
Tratei de aproveitar a dica, e entrei no quarto indicado.Era um quarto muito bonito, com as paredes em verde claro, uma cama grande bem arrumada.Os móveis de madeira escura pareciam ser bem antigos.Em cima da cômoda em frente à cama tinha uma televisão que parecia estar funcionando direitinho, o que era bom, porque se o tempo continuasse do jeito que estava , não ia rolar praia de jeito nenhum.O quarto tinha uma janela com vista para os fundos da casa, e dava pra ver uma piscina e algumas redes.
Coloquei todas as mil blusas que eu fui obrigada a levar nas gavetas da cômoda, coloquei os livros (sobrevivência né) em uma prateleira meio empoeirada, todos os cremes e tudo mais no banheiro e pronto, estava bem acomodada.
Sai pra procurar algo para comer e Marcela estava se pegando fortemente no sofá com o (insira aqui um nome qualquer de algum cara). Fiquei um pouco com vergonha e pigarreei, ai eles se soltaram.Ai eu percebi que eles se soltaram porque o (?) foi atender o celular.
- Se eu ver vocês virando uma pessoa só de novo no sofá eu juro que me enforco com o chuveirinho do banheiro.
- Ta bem humorada hoje né?
-E quando não estou? – eu ri - tem alguma coisa pra comer aqui?
- Nós trouxemos algumas coisas, estão na geladeira. Mas vem cá, aproveita que o Gabriel não está e me conta do cara lá que você ta fim.
- (Gabriel. Ok Ana, não esqueça esse nome) Não vai dar em nada não.
- E como você sabe?
- Eu sinto. Sei lá. A gente se fala bastante até, mas não sinto nada da parte dele.
- Entendo. Triste.
-Pra mim principalmente.
- Mais pra ele - sorri - Quem era no telefone? – ela pergunta com um tom um pouco histérico na voz quando o Gabriel volta. Aproveitei para ir na cozinha comer alguma coisa,já que senti cheiro de DR.
- Aquele amigo que eu chamei. Ele ligou para pegar o endereço certo.
Opa. Amigo. Não citou namorada. Opa.
- Ah... Ele vem sozinho?
Isso Marcela, por isso te amo.
- Aham.
Opa.
- ANAAAAA VEM AQUI.
Adoro amigas sutis.
- Quem morreu?
- Sua bad pelo carinha lá. Tem um amigo do Gabriel vindo pra cá.Solteiro.
- Marcela, você falando assim parece que eu to desesperada e não é bem... Ele é gato?
- Nunca o vi. Ele é gato Gabriel?
- Porque você pergunta isso pra mim? O cara é gente boa.
- Gente boa a Marcela também é e nem por isso eu quero pega-la. Como ele é Gabriel (parabéns por tê-lo chamado pelo nome Ana)?
- Ah meu, não vou ficar descrevendo macho! Daqui a pouco ele ta ai e vocês vêem.
Nós fizemos cara de 'okay' e eu voltei para cozinha pra continuar a comer alguma coisa. Depois de um tempo ouço o barulho de um carro, e olhando pela janela percebo que é o carro do Guto.O resto do pessoal chegou, e eu respiro aliviada.A tensão sexual daquela casa estava tão grande que dava pra cortar com uma faca.
O Guto é o primeiro a entrar, com uma mala discreta.Comprimenta todo mundo, me dá um beijo no rosto e um abraço apertado.
- Eu fico em qual quarto Marcela?
-Em qualquer um – ela fala e volta a beijar aquele que eu já esqueci o nome.
- Vem cá Guto, eu te mostro os quartos.
- Hum ... vou ficar no seu? – ele provoca.
- mimimimimi – eu sorrio.
Logo atrás do Guto entram Julia, Marina+namorado (que adivinha quem não lembra o nome) e Beto.A turma de sempre.Todos se acomodam nos quartos restantes. Depois de todos acomodados, e com o tempo ameaçando chuva, decidimos ficar no quintal da casa conversando e tocando violão.O ar estava quente, típico mormaço de praia.O Beto aparece com uma mala cheia de bebidas e distribui em cima de uma mesa perto da piscina.
Lá pelas tantas, com Marcela e o Gabriel sumidos a umas boas 2 horas (que nós percebemos), com Marina e Vitor (lembrei o nome) já brigados (pela 4° vez, desde que eu comecei a contar hoje), e a "dupla dinâmica pavor dos karaokês" Beto e Julia matando todas as músicas possíveis na rodinha de violão, Guto chega meio bêbado e me puxa de canto.
- Ana, você ainda me deve uma coisa.
- O que? – eu digo um pouco tonta com o bafo de pinga – o que eu te devo homem de Deus?
- Quando a gente era criança, uma vez você me disse que quando fossemos adultos, a gente ainda ia se beijar.
* Hiatos para contar a história: Eu e o Guto crêssemos juntos. E quando eu era mais nova, era completamente apaixonada por ele.E ai, um dia eu soltei essa perola, na esperança dele falar ‘porque a gente não se beija agora?”e esse ser meu primeiro beijo e ai ele perceber que me amava e a gente ia namorar e casar e ter filhos. Mas ele era mais velho que eu, popular na escola, e eu era só a amiga vizinha de óculos que os pais gostavam. Quando disse isso pra ele, ele simplesmente riu e disse ‘pode até ser’ e me deu um soquinho no ombro. Não ria, ele vez isso mesmo.E não foi engraçado na hora.
Agora, depois que crescemos e que eu não sinto mais nada por ele, não uso mais óculos e estou bem menos feia do que era naquela época, sempre que ele está um pouco bêbado vem me cobrar essa história. Seria engraçado, se não fosse patético.

- Guto, isso faz muito tempo.
- E daí?
- E daí que não faz mais sentido.
- Porque não Ana? Pensa: eu te conheço desde criança. Você é linda.Eu sou lindo.O que custa a gente se pegar? Vai ser legal Aninha, vem cá vem...
- ANAAAAAAAAAA!
GRAÇAS A JESUS MARIA JOSÉ MARCELA, TE AMO PRA SEMPRE.
- A Marcela ta me chamando, tenho que ir.
-Tá, eu te espero voltar ta? Não demora.
Eu consigo me soltar das garras da mala bêbada que o Guto se transforma quando bebe e vou até a Marcela, que por algum motivo, está com a blusa do avesso e um tanto quanto descabelada.
- Ma, sua blusa ta do avesso.
Ela fica vermelha.
- Não, ela é assim mesmo, mas enfim, o amigo do Gabriel chegou. GATO hein? Vai lá mostrar a casa pra ele. Seja anfitriã.
- Mas a casa nem é minha.
- Mas você chegou cedo e já conhece aqui. E ele é gato e você ta solteira.
- Julinha também ta.
-Mas esse é teu Ana.Vai lá menina.Lembre-se do que você me falou a respeito do Gabriel...
- “A sorte é preciso tirar pra ter”.Beleza, vou receber o bonito.
- Vai la garota.O Gabriel ta ajudando ele a tirar as coisas do carro.

19av.

Oi (:
02 anos de 17av hoje.Quem diria né?
Eu que criei o blog pra colocar os contos que eu escrevia nos cadernos de casa desde criança em algum lugar, pensando "vamos ver até quando eu consigo com isso".Pois é, 02 anos.
Esse blog salvou minha vida tantas vezes de 2011 pra cá ... conseguir desabafar nos posts, vocês vindo elogiar, alguns vindo me cobrar postagens novas nos bloqueios criativos (que foram vários até agora).Enfim, só tenho uma coisa pra dizer : MUITO OBRIGADO *-*
De verdade.Vocês não sabem o quanto é importante pra mim saber que algum lê isso aqui também, e que se identifica de alguma forma.Eu amo vocês.
Enfim, sem mais mimimi.
O blog ficou restrito por uns dias, mas agora voltou ao normal.Tá com layout novinho e duas novidades : A página "Indico" e a página "♥".
A "Indico" são blogs que eu acompanho, que eu sempre leio e adoro.Tem blog de humor, blog de contos, blog de amigo... de tudo um pouco, mas se estão aqui é porque são bons de verdade, pode confiar.
Já a segunda página são algumas músicas.Elas podem mudar, posso acrescentar alguma, mas sempre vão ser as que estão fazendo o maior sentido na minha vida no momento.
Espero que gostem.
E tem outra novidade:A partir de hoje, começam os posts do "O que acontece na praia, fica na praia.".
Que nada mais é que um conto que eu comecei a escrever e saiu do controle.Ele se encontra com 14 páginas, o que é impossível postar de uma vez só, eeeentão, em comemoração aos 02 anos do blog, postarei uma parte por dia, até sábado que vem.É a história da Ana, uma mulher bem mulher que sempre gosta do cara errado (essa é uma história fictícia.Qualquer semelhança entre ela , a sua vida e a minha vida, é mera coincidencia.Ou não.)
Enfim, obrigado.De coração.E que venham mais anos.

"Pra nós, todo amor do mundo."

5.7.12

Aquele dos livros.

 Para ouvir: Onze dias - Los Hermanos

E ai você entra, como quem não quer nada, com a mochila do lado esquerdo do corpo, com aquele sorriso só teu e o xadrez surrado que eu tanto amo. Passa por mim cantarolando Coldplay e com cheiro do primeiro cigarro light fumado logo pela manhã, e não me cumprimentou.Talvez não tenha me visto.Talvez finja que não tenha me visto, ou talvez seja porque nunca me cumprimentou mesmo.O problema é que agora não importa do que esteja falando o livro que eu estou lendo, se é sobre a segunda guerra mundial, ou sobre Maria Antonieta, ou sobre minha vida: você está na sala.Porque por algum motivo a vida tem dessas coisas, entre tantas salas de estudo nessa universidade, você escolheu entrar logo na minha.Não fazemos o mesmo curso (Deus me livre de exatas), não temos amigos em comum, não fumamos o mesmo cigarro, mas mesmo assim, entre tantas salas, você foi escolher logo a minha pra se aconchegar no divã de coro velho e ler livros (muito bons, por sinal) enquanto toma café e ouve música.O que me deixa na confortável situação de estar com você sozinha, já que ninguém gosta dessa sala, o que no fundo nunca vou entender o porque, já que é a única que bate sol e tem vista pra rua.Ninguém nunca gostou e eu estava acostumada a ficar sozinha aqui por muito tempo, até que em um dia cinza e com uma garoa fina você entrou, um pouco sonolento, tirou o gorro da cabeça, a jaqueta e perguntou “posso ler aqui?” e eu nem consegui responder, só acenei com a cabeça de um jeito meio atrapalhado (se é que se pode balançar a cabeça de um jeito atrapalhado) e você deve ter achado que eu tenho algum tipo de problema.E pronto.Naquele dia você não ficou muito tempo, e eu fui embora pedindo pra Deus que eu não te visse nunca mais, porque sabia, do fundo do meu coração e dos teus olhos esverdeados, que você era encrenca.Mas ai você voltou no outro dia, e talvez e no outro, e volta desde então.Pelo menos, sempre que eu estou aqui.
Um dia você não veio e eu fiquei preocupada. Pensei em ir na mocinha que fica na recepção pra perguntar se tinham seu telefone, ou qualquer coisa do tipo pra eu ligar pra saber se você estava vivo, bem, morando na mesma cidade.Por que sei lá, vai que aconteceu alguma coisa.Mas desisti, porque achei que você ficaria com medo de mim e nunca mais iria ler na minha frente.E ai você voltou no outro dia e eu pensei em dizer ‘senti tua falta’ ou ‘que bom que está vivo’, e fiquei ensaiando dizer isso todo o tempo que você ficou lendo na minha frente, mas ai, entre uma linha e outra do meu Caio Fernando, você fechou seu John Fante e foi embora, sem me dar tempo nem de tomar coragem e falar (gaguejar) alguma coisa.
E desde então minha média de livros lidos por semana diminuiu, já que por sua causa, eu tenho que ler a mesma coisa quatro vezes para entender. Sabe, eu costumo fazer uma bolinha no final de cada página, para saber onde parei de ler.E cada vez que tenho que ler de novo porque não entendi, faço outra.Contei 18 bolinhas em uma das páginas de um dos livros.Essa que eu to lendo agora, está com 7.
Agora eu tenho que ir embora. Fecho meu Vladimir Nabokov (10° vez que tento terminar de lê-lo) e arrumo a bolsa. O sol tá começando a ir embora, e lá fora tá tudo laranja. Eleanor Rigby toca no meu ouvido e eu respiro fundo (sentir seu perfume pela ultima vez). Coloco o livro na bolsa e passo por você, me despedindo com o olhar que encontra o teu.A música para na hora e você sorri.Eu sorrio também (me sai melhor nisso do que pensava).Você tira os fones de ouvido e eu quase não ouço quando você diz “Você não veio ontem ruiva.Que bom que está viva.”.
 Eu volto e só digo "estava com preguiça de vir.Até amanhã".Você sorriu e voltou a ler.Eu fui embora e voltei a sonhar.

1.7.12

Lindo branquinho (sem nome)

Para ouvir: Dig a Pony - The Beatles

Ta, vamos lá. Amigos tem o dom de serem insistentes não é mesmo? Mas tudo bem, vamos. Lá vou eu, sair de debaixo do cobertor em um sábado chuvoso para escovar o cabelo (que não vai durar um minuto nessa garoa chata), me maquiar para esconder essa cara de poucos amigos, me enfiar em um vestido lindo mas que ninguém vai prestar atenção pelo simples fato de não ser decotado e nem curto e enfiar meu pé em um sapato ridiculamente lindo e perfeitamente feito para deixar meu pé em carne viva.Sair de casa nunca foi uma tortura, mas hoje, logo hoje, eu queria tanto ficar em casa pensando em você.Só quietinha, pensando em você em posição fetal , vendo algum romance com a Anee Hathamway ou Natalie Portman, lamentando você não me querer e me pegar pensando em como seria o teu beijo do nada durante a noite.
Mas ta, sair vai me fazer bem. Foi o que disseram pelo menos.
O bar de sempre nunca pareceu tão sem graça.A banda de sempre matava (como sempre) covers de bandas boas,e a música tocando quando entrei me lemrou você, assim,logo de cara (fato novo). Cheguei primeiro que todo mundo, o que é uma tremenda ironia já que me ligaram falando que estavam saindo de casa.Sentei em uma mesa do canto, estrategicamente posicionada para a porta principal e perto do fumodromo.Perto da porta porque vou ficar rezando baixinho que você entre por ela, ria tímido pra mim e diga ‘nossa, você por aqui?” a qualquer hora da noite. E porque a porta de é vidro claro que deixa ver o movimento da rua, então facilita ver se seu carro parar em frente ao bar.Fumodromo é questão de sobrevivência.
O garçom chega com um sorriso e pergunta se eu quero a mesma coisa de sempre. Respondo que sim e ele sai.Decido sair pra fumar o primeiro cigarro da noite.Voltando para a mesa percebo um cara olhando para mim.Bonito até.Trocamos alguns olhares e ele senta na mesa, com pose de Don Juan e olhar confiante.Se apresenta com algum nome que eu não entendo, mas também não vou pedir para repetir.
Ele pergunta por que eu estou sozinha e eu digo que meus amigos são extremamente pontuais. E ai ele começa a contar uma história sobre quando estava em Paris (oi?) e tinha marcado as 7 com alguns amigos brasileiros e eles chegaram em um horário completamente diferente porque não tinham se habituado ao fuso horário ainda.E por algum motivo eu não consigo prestar atenção nessa história, que seria muito interessante e engraçada se não houvessem tantos carros iguais ao seu passando e parando em frente ao bar.Não me entenda mal, cara de cabelo claro e com o sorriso bonito, você não tem nada de errado ,e é até engraçado e com um papo legal, mas é você não tem a barba por fazer e nem o xadrez dele, perdão.
Ele logo percebeu que eu estava mais interessada em alguma coisa na porta do que nele, me dá um beijo no rosto e vai embora.
As amigas chegaram e trouxeram aquela paixãozinha do escritório. Aquele lindo branquinho e com o cabelo bem preto que senta na minha frente.Ele consegue ser ainda mais lindo sem roupa social, embora a camisa que ele tenha escolhido não o ajude muito.Ele senta do meu lado e ambos percebemos os risos abafados.Garçom, por favor, uma dose de sutileza aqui na mesa seria legal.
Ele é bonito e engraçado, e eu só consigo pensar nisso quando ele sorri e mostra duas covinhas nas bochechas. Eu digo que vou fumar e ele me acompanha,mesmo não fumando.Conversamos sobre o tempo e sobre marcas de carro, e uma hora um cara com o xadrez igual o seu entra no bar, provocando uma breve taquicardia que ao que tudo indica eu consegui esconder bem, o lindo branquinho nem deve ter percebido (ou fingiu que não percebeu).Entre um riso e outro ele me pede um trago, e fica tão charmoso com um cigarro entre os dedos que eu corei.Ele é bonito, engraçado , charmoso e soube a hora certa de me beijar (hora essa que você já deixou passar 178 vezes,segundo minhas contas).Tem um beijo quente e a mão firme, e nem percebeu quando eu abri os olhos pra espiar o carro vermelho do outro lado da rua, esperando ver você dentro.
O lindo branquinho riu das minhas piadas e colocou o braço no meu ombro enquanto voltávamos para mesa. O garçom pelo jeito esqueceu a dose de sutileza, e ninguém se preocupou em disfarçar a alegria quando viu o casal formado.
A noite seguiu leve e com muitas pessoas parecidas com você no bar. O lindo branquinho me encantava um pouquinho a cada minuto, tanto que quase esqueci de você ou de como eu queria que você estivesse ali.Quase.Só até a banda tentar um cover de Legião, que não ficou muito bom mas serviu pra tirar meus pensamentos das covinhas do lindo e pensar onde você estava, o que estava fazendo, e porque não estava me ligando.Tudo isso passou quando a banda se arriscou em Beatles e o lindo sussurou no meu ouvido " Close your eyes and I'll kiss you,tomorrow I'll miss you,remember I'll always be true" em um inglês tão perfeito que meus pensamentos voltaram ao devido lugar.
Algumas horas e muita bebida depois, o lindo branquinho me deixou em casa com um beijo carinhoso e um número de telefone a mais na agenda do celular.Subindo a escada do prédio, pensei ter te visto na porta do meu apartamento, um pouco bêbado, falando que viu que eu posso ser tudo o que você sempre quis.Mas foi só uma visão,ou uma miragem, tipo quando vê água no deserto quando está com sede.
Depois da maquiagem tirada, eu deitada na cama e uma mensagem de boa noite recebida do lindo branquinho, mandei uma de boa noite pra você. Porque não importa o quão lindo e branco e charmoso e engraçado  alguém seja, ele nunca vai ser você, nunca vai ter teu carro vermelho, nem o xadrez, nem o moletom verde e nunca vai me encantar tanto e tão sem esforço quanto você me encantou.