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16.7.12

O que acontece na praia fica na praia - part III

Para ouvir: Oh Darling - The Beatles
- De onde você conhece o Gabriel?
Caetano me pergunta sentando do meu lado.Já escureceu e agora estamos na sala, jogando conversa fora e esperando a Júlia terminar de cozinhar.
- Estudei com a Marcela – eu falo indo um pouco para o lado, pra dar espaço pra ele sentar – e eles tão se pegando a um tempo né.
-Entendi.O cara ta apaixonadinho.
- Que bom, porque ela também tá.E se ele magoar ela, vou ser obrigada a mata-lo.
- Não, ele tá curtindo ela sim.
- E você, conhece ele de onde?
- A gente cresceu  na mesma rua.
-Entendi.
Silêncio.Começo a observar o que está acontecendo ao redor.Marina e respectivo namorado conversam calmamente (milagre).Júlia está na cozinha.Marcela e Gabriel estão se pegando em algum lugar remoto (porque depois de tantos pedidos, eles pararam de se pegar na frente de todo mundo), Guto e Beto jogam pôquer (embora perceba que o Guto está mais interessado no que está acontecendo comigo e com o Caetano do que no jogo.A cerveja na minha mão esquentando.O silêncio começa a ficar constrangedor.
- E o seu namorado Ana? Porque não veio?- ele pergunta como quem não quer nada.Tem essa mania, de jogar essas coisas do nada, pra poder ver minha reação.Tipo quando do nada me perguntou se eu o achava bonito, ou quando do nada pega na minha mão.Só pra testar, você sabe.
- Não veio porque não existe - eu sorrio e dou um gole na garrafa de cerveja que estava na minha mão - e a sua?
- O mesmo problema.
- Entendo. - eu falo olhando para o lado.
- Pois é. Mas tenho certeza que você não tá namorando única e exclusivamente porque não quer- ele olha nos meus olhos e curva a cabeça pra mim - tenho certeza que tem um monte de marmanjo atrás de você.
- Olha se achar um, por favor me avise! Porque tô procurando viu.
- O cara ali do outro lado - ele olha para o Guto- tá bem interessado nas direções que você anda.
- O Guto? Esse não conta.Caso antigo.
- 1mmmm, agora eu percebi o porque ele não tira o olho daqui.Só cuidando do que é dele – ele sorri com tom provocador.
- Não! Você entendeu errado! Nada aqui é dele não - digo depressa (e com o tom de voz meio desesperado até) tentando consertar o estrago - é só que a gente cresceu junto, e eu fui apaixonada por ele quando era novinha, e disse uma coisa que agora ele surta quando a gente tá junto e/ou quando tá bêbado. Amanha vamos pra praia e ele acha alguma menina de biquíni e fixação passa.
- Opa, quero uma também.
- Garota de biquíni? - eu pergunto fingindo não ligar.
- Sim - ele sorri torto e toma um gole da minha cerveja.Quando vai me devolver, faço o sinal com a mão que ele pode ficar.Perdeu a graça mesmo.
- Bom, como diria uma banda que eu gosto, "quantos amores de verão cabem em um verão?" - dou de ombros, fingindo não ter ligado.Mas a verdade é que eu estava quase indo para o meu quarto e colocando um biquíni, só pra eu ser a primeira menina de biquíni que ele vai ver, só pra ver se isso muda alguma coisa.
- Em um verão eu não sei,mas em um final de semana, veremos.
- Boa sorte - eu falo e levanto do sofá em que estávamos sentados - eu vou ver se a  Júlia precisa de ajuda com o jantar.
Levantei o odiando pra sempre. Caramba, ele sabia que eu era afim dele, porque falar essas coisas?Ele sabia,não sabia? Não estava na cara? Levantei totalmente desencanada e raivosa.Mas antes de chegar na porta da cozinha, já tinha esquecido tudo.O cheiro que vinha da cozinha era simplesmente incrível.Encontrei a Júlia cortando cebolas.
- Precisa de ajuda gatinha?
- Preciso Ana, corta esse queijo em cubos pra mim por favor.Como estão as coisas lá na sala?
- Tudo sob controle.Estava conversando com o Caetano até agora.
- Algo bom?
- Ele falando de garotas de biquíni.
- Idiota.
-Eu já disse que o fato dele não me querer não o faz idiota.
- Realmente.O faz burro.E viado.E idiota.Quando terminar ai refoga a carne por favor?
Homens, aprendam uma lição: Você pode ser incrível, lindo, inteligente, engraçado ,fofo, romântico, fiel e tudo mais, mas se em algum momento da sua vida você não quiser uma amiga nossa, automaticamente passa a ser qualificado como "idiota", "imbecil" ou "viado".Aceite, é a lei da vida e da amizade entre mulheres (amizade de verdade, aquelas não tão amigas assim vão achar interessante o fato de você não querer a “amiga”, e tentar fazer você ficar a fim dela).
Ajudei a terminar o jantar e colocar a mesa.A lasanha da Júlia não durou nem 20 minutos, e depois de comer, fomos dar uma volta na praia a noite, aproveitando que a lua tinha saído pra dar as caras.
Deixei todo mundo ir na frente.Coloquei o fone de ouvido, acendi um cigarro e fui andando devagar, pensando na vida.Deixei na minha cabeça os únicos 4 homens que nunca me decepcionaram : Paul, John,George e Ringo.Estava uma noite gostosa , e foi bom andar só com os meus pensamentos.Uma hora ou outra eu me pegava pensando em como seria legal ele se soltar do pessoal e ficar uns passos atrás comigo, pra conversarmos sobre a noite ou o que eu estava ouvindo, e como seria legal se ficássemos conversando o resto da noite na varanda da casa, e como seria legal se ele me desse um beijo antes de ir dormir.Logo tudo isso passava, a gente tem esses surtos de criatividade quando tá querendo alguém assim desse jeito.Claro que ele não foi conversar comigo, ficou o tempo todo junto do grupo.Ficamos um tempo sentados na areia , conversando e vendo o Beto entrar na água de roupa e tudo, mas ele não se aproximou.Na volta pra casa me perguntou o porque eu estava tão quieta, eu respondi que estava ouvindo música e foi tudo o que conversamos durante a noite.
Chegando em casa, decidimos ir dormir para acordar cedo no outro dia e aproveitar o sol (todo mundo estava muito confiante que o sol iria aparecer no outro dia).Nos despedimos e cada um foi para o seu quarto.
No meio da noite senti sede e fui pra cozinha pegar um copo de água.Levantei meio sonolenta, e fui tateando a parede até achar o interruptor.Acendi a luz e fui até a geladeira.Enchi um copo com água e quando virei para voltar para o quarto percebi que Guto estava na varanda, sentado na mureta sozinho,com os fones de ouvido e olhando pro céu.
- Tá tudo bem? - eu pergunto chegando perto e colocando as mãos no ombro dele.
- Agora tá - ele coloca as mãos em cima das minhas e me puxa pra mais perto - o que você tá fazendo acordada essa hora?
- Acordei com sede - tirei as minhas mãos das dele e sentei na sua frente - vim pegar água e te vi aqui.
- Você trouxe se remédio pra febre? Eu sei que você sempre tem febre quando vem pra praia.
- Ah, eu tinha mesmo, mas quando eu era criança, acho que passei dessa fase... que bonitinho você lembrar disso - eu bagunço o cabelo dele- mas enfim, vou dormir.E você devia fazer o mesmo, amanhã a gente vai cedo pra praia, se sair sol.
- Não to botando muita fé nesse sol não.
- Eu também não – eu sorrio- vamos? Dormir.Praia.Sol.Garotas.Biquínis.Peitos.
- Pode ir pequena , vou ficar mais um pouco aqui.
- Ok - dei um beijo no rosto dele e fui entrando em casa, pensando o quão estranho foi ele lembrar que quando éramos mais novos, sempre que nós viajávamos (sempre viajávamos juntos, com a família um do outro) eu tinha febre.E o quão estranho foi ele me chamar de pequena, apelido que ele me deu na volta das aulas da minha 6° série, tínhamos ficado as férias sem se ver , e quando me viu, percebeu que tinha crescido e estava um pouco maior que eu.
Deitei na cama e fiquei pensando, que nessa época, eu já era apaixonada por ele.É estranho pensar em todos os suspiros que eu já dei por ele, todas as cartas que eu nunca entreguei e todas as músicas que fizeram sentido na época.Lembrei que quando ele me chamava de “pequena”, a cor do meu dia mudava.Ai ele me chamava de “pequena” e continuava a frase com “e aquela sua amiga, a loira?”.Isso acabava comigo.É estranho pensar como isso acabava comigo, quando agora eu não consigo sentir nada pelo Guto.Agora, ele é tipo um irmão mais velho lindo.Nas época, parecia que o mundo ia acabar e hoje não é nada.Paixões de criança tendem a acabar assim mesmo não é?
Adormeci me fazendo essa pergunta.

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