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1.7.12

Lindo branquinho (sem nome)

Para ouvir: Dig a Pony - The Beatles

Ta, vamos lá. Amigos tem o dom de serem insistentes não é mesmo? Mas tudo bem, vamos. Lá vou eu, sair de debaixo do cobertor em um sábado chuvoso para escovar o cabelo (que não vai durar um minuto nessa garoa chata), me maquiar para esconder essa cara de poucos amigos, me enfiar em um vestido lindo mas que ninguém vai prestar atenção pelo simples fato de não ser decotado e nem curto e enfiar meu pé em um sapato ridiculamente lindo e perfeitamente feito para deixar meu pé em carne viva.Sair de casa nunca foi uma tortura, mas hoje, logo hoje, eu queria tanto ficar em casa pensando em você.Só quietinha, pensando em você em posição fetal , vendo algum romance com a Anee Hathamway ou Natalie Portman, lamentando você não me querer e me pegar pensando em como seria o teu beijo do nada durante a noite.
Mas ta, sair vai me fazer bem. Foi o que disseram pelo menos.
O bar de sempre nunca pareceu tão sem graça.A banda de sempre matava (como sempre) covers de bandas boas,e a música tocando quando entrei me lemrou você, assim,logo de cara (fato novo). Cheguei primeiro que todo mundo, o que é uma tremenda ironia já que me ligaram falando que estavam saindo de casa.Sentei em uma mesa do canto, estrategicamente posicionada para a porta principal e perto do fumodromo.Perto da porta porque vou ficar rezando baixinho que você entre por ela, ria tímido pra mim e diga ‘nossa, você por aqui?” a qualquer hora da noite. E porque a porta de é vidro claro que deixa ver o movimento da rua, então facilita ver se seu carro parar em frente ao bar.Fumodromo é questão de sobrevivência.
O garçom chega com um sorriso e pergunta se eu quero a mesma coisa de sempre. Respondo que sim e ele sai.Decido sair pra fumar o primeiro cigarro da noite.Voltando para a mesa percebo um cara olhando para mim.Bonito até.Trocamos alguns olhares e ele senta na mesa, com pose de Don Juan e olhar confiante.Se apresenta com algum nome que eu não entendo, mas também não vou pedir para repetir.
Ele pergunta por que eu estou sozinha e eu digo que meus amigos são extremamente pontuais. E ai ele começa a contar uma história sobre quando estava em Paris (oi?) e tinha marcado as 7 com alguns amigos brasileiros e eles chegaram em um horário completamente diferente porque não tinham se habituado ao fuso horário ainda.E por algum motivo eu não consigo prestar atenção nessa história, que seria muito interessante e engraçada se não houvessem tantos carros iguais ao seu passando e parando em frente ao bar.Não me entenda mal, cara de cabelo claro e com o sorriso bonito, você não tem nada de errado ,e é até engraçado e com um papo legal, mas é você não tem a barba por fazer e nem o xadrez dele, perdão.
Ele logo percebeu que eu estava mais interessada em alguma coisa na porta do que nele, me dá um beijo no rosto e vai embora.
As amigas chegaram e trouxeram aquela paixãozinha do escritório. Aquele lindo branquinho e com o cabelo bem preto que senta na minha frente.Ele consegue ser ainda mais lindo sem roupa social, embora a camisa que ele tenha escolhido não o ajude muito.Ele senta do meu lado e ambos percebemos os risos abafados.Garçom, por favor, uma dose de sutileza aqui na mesa seria legal.
Ele é bonito e engraçado, e eu só consigo pensar nisso quando ele sorri e mostra duas covinhas nas bochechas. Eu digo que vou fumar e ele me acompanha,mesmo não fumando.Conversamos sobre o tempo e sobre marcas de carro, e uma hora um cara com o xadrez igual o seu entra no bar, provocando uma breve taquicardia que ao que tudo indica eu consegui esconder bem, o lindo branquinho nem deve ter percebido (ou fingiu que não percebeu).Entre um riso e outro ele me pede um trago, e fica tão charmoso com um cigarro entre os dedos que eu corei.Ele é bonito, engraçado , charmoso e soube a hora certa de me beijar (hora essa que você já deixou passar 178 vezes,segundo minhas contas).Tem um beijo quente e a mão firme, e nem percebeu quando eu abri os olhos pra espiar o carro vermelho do outro lado da rua, esperando ver você dentro.
O lindo branquinho riu das minhas piadas e colocou o braço no meu ombro enquanto voltávamos para mesa. O garçom pelo jeito esqueceu a dose de sutileza, e ninguém se preocupou em disfarçar a alegria quando viu o casal formado.
A noite seguiu leve e com muitas pessoas parecidas com você no bar. O lindo branquinho me encantava um pouquinho a cada minuto, tanto que quase esqueci de você ou de como eu queria que você estivesse ali.Quase.Só até a banda tentar um cover de Legião, que não ficou muito bom mas serviu pra tirar meus pensamentos das covinhas do lindo e pensar onde você estava, o que estava fazendo, e porque não estava me ligando.Tudo isso passou quando a banda se arriscou em Beatles e o lindo sussurou no meu ouvido " Close your eyes and I'll kiss you,tomorrow I'll miss you,remember I'll always be true" em um inglês tão perfeito que meus pensamentos voltaram ao devido lugar.
Algumas horas e muita bebida depois, o lindo branquinho me deixou em casa com um beijo carinhoso e um número de telefone a mais na agenda do celular.Subindo a escada do prédio, pensei ter te visto na porta do meu apartamento, um pouco bêbado, falando que viu que eu posso ser tudo o que você sempre quis.Mas foi só uma visão,ou uma miragem, tipo quando vê água no deserto quando está com sede.
Depois da maquiagem tirada, eu deitada na cama e uma mensagem de boa noite recebida do lindo branquinho, mandei uma de boa noite pra você. Porque não importa o quão lindo e branco e charmoso e engraçado  alguém seja, ele nunca vai ser você, nunca vai ter teu carro vermelho, nem o xadrez, nem o moletom verde e nunca vai me encantar tanto e tão sem esforço quanto você me encantou.

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