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19.7.12

O que acontece na praia fica na praia - part VI


Para ouvir: Time After Time - Cyndi Lauper


Para alegria de todos, o dia amanheceu com sol. Não AQUELE sol, mas você sabe como paulista é quando está na praia : qualquer solzinho amarelo serve. Ainda mais sendo domingo, ultimo dia que ficaríamos na casa.
Acordei com o quarto com luz amarela e fiquei animada, mas assim que coloquei o pé no chão percebi que não estava bem. Parecia que um piano tinha caído em cima da minha cabeça, e eu senti tanto frio que minha boca começou a tremer.
Coloquei uma das mil blusas que tinha levado e sai do quarto com um cobertor nas costas.
-Bom dia bela adormecida! – gritou o Guto assim que sai do quarto – já estava indo te acordar. Vamos, coloca seu biquíni e vamos pra praia.
- Não tô no clima Guto – eu disse sentando em uma das cadeiras na cozinha – podem ir, vou comprar um remédio e tomar, se melhorar eu encontro vocês tá?
- O que você tem Ana? – perguntou Marcela saindo do banheiro só com a parte de cima do biquíni e um shorts mais parecido com um cinto. Senti frio só de olhar pra ela.
- Acho que tô com febre...
- Ela sempre tem isso quando vem pra praia – Guto disse levantando do sofá e colocando um sapato – vou na farmácia comprar teu remédio. Continua o mesmo de sempre?
- Sim. Pega dinheiro na minha carteira.
- Relaxa pequena – ele se aproximou e me deu um beijo na testa – já volto.
Ele saiu pela porta e eu não consegui contar até 2 para ouvir o coro de ‘1mmmmmmmmmmmmmm’ de todos os presentes. Eu senti o sangue no rosto e fui procurar leite na geladeira.
- Parece que seu ‘caso antigo’ é bem preocupado com você.
Caetano. Ai Caetano. Você tem problemas.
- Papel de amigo de infância.
-Então você nem vai pra praia hoje com a gente?- ele disse fingindo procurar algo na gaveta da pia.
- Não dá – eu disse indo para pia colocar achocolatado no meu leite- se eu melhorar vou mais tarde.
-Que pena – ele disse ficando na minha frente, mas ainda com um dos braços na pia – seria legal te ver de biquíni.
Se virou e foi embora. Pra que ser tão louco? E pra que ser tão lindo?
Alguns minutos depois o Guto voltou com o meu remédio. Todos já estavam prontos para ir pra praia, só eu deitada no sofá com dois cobertores assistindo desenho.
- Podem ir, eu vou ficar aqui com a Ana – disse o Guto sentando no sofá.
- Mas nem por decreto – eu disse me sentando rápido demais, o que acabou me deixando meio tonta- ai. Vai pra praia Guto. Vá ver garotas. Isso é uma ordem.
- Eu não vou pequena  - ele se ajeitou no sofá – vou ficar com você.
Senti o risonho olhar do Caetano para mim.
- Vai Guto, sério. Eu vou ficar vendo desenho, depois vou dormir um pouco. Se acordar melhor eu vou encontrar vocês.Agora vai.Se diverte por mim. Alias, vão logo vocês, aproveitem que são jovens e cheios de saúde, essa minha época já passou. Qualquer coisa eu apareço por lá mais tarde.
Por fim todos concordaram. Me comprimentaram com beijos abraços e ‘melhoras’, e eu brinquei falando que estaria viva quando eles voltassem, não precisavam se despedir. Caetano me deu um abraço e sussurrou no meu ouvido ‘apareça de biquíni, por favor.” E foi embora.
Fiquei assistindo desenho e cai no sono no sofá mesmo. Um tempo depois acordei com mais frio ainda, e um pouco de enjôo. Peguei outro cobertor no quarto e tomei o remédio de novo. Acabei pegando no sono outra vez e acordei com a porta da frente batendo.
- Você tá melhor? – eu ouvi de um cômodo da casa.
A dor de cabeça estava tão grande que eu não consegui abrir os olhos pra ver quem era.Só gemi um  ‘uhum’ e coloquei a cabeça no travesseiro de novo.
- Você tá melhor? – a voz estava mais perto. Senti uma mão gelada na minha testa- caramba Ana, você tá queimando de febre. Tomou seu remédio?
Gemi outro ‘uhum’ ainda não distinguindo a voz. Era um homem, mas não era o Guto (a mão dele nunca era gelada, e ele voltou com essa de me chamar de ‘pequena’), então sobrava o Beto ou o Caetano. Então por eliminação ficamos com Beto, porque  por que diabos Caetano estaria aqui?.
- Beto, eu tô bem, pode voltar pra praia– eu tentei falar, mas a garganta dava sinais que estava falhando também.
- Vish, já tá delirando.Sou eu, o Caetano.
O que diabos esse homem tá fazendo aqui?
- O que você tá fazendo aqui? –pergunto sem tirar cabeça do travesseiro e forçando a garganta.
- Eu vim pegar a carteira que tinha esquecido.Mas agora não dá pra te sozinha aqui, você ta ardendo em febre, pode convulsionar.Vai tomar um banho gelado agora.
- Caetano volta pra tua praia e me deixa eu paz – eu disse.Já não basta você não me querer, agora quer ficar aqui bancando meu pai? Pfvr né menino.
- Não Ana, eu to preocupado de verdade.É sério, você já tomou remédio e a febre não baixou, você não é mais criança, não agüenta febre alta.Vai pro banho.E depois vai pra cama, eu vou arrumar lá pra você.Vem, eu te ajudo.
Ele me pegou no colo, assim, como se não fosse nada.Eu senti o cheiro de água do mar, cheiro que eu sempre odiei, mas que ficava tão bom na pele dele.Ele estava sem camisa, senti a pele quente.Clichê, mas é verdade.
- Você ta muito quente mesmo Ana.Seu quarto tem banheiro né?Tem banheira lá?
Segurei as piadinhas sobre a observação de ‘ser muito quente’ e balancei a cabeça afirmando a pergunta da banheira.Senti ele me colocando na cama.
- Fica ai rapidinho, vou encher a banheira.
Estava muito frio, e eu estava sentindo que desmaiaria a qualquer momento.Ouvia meu coração latejando na cabeça, um pouco pelo frio, um pouco pela dor, um pouco pela proximidade do Caetano, um pouco pela raiva de tudo isso.Eu tremia de frio e só queria um cobertor ou ele me esquentando.
- Agora vai pro banheiro Ana.
- Deixa eu dormir – eu disse gemendo (e fazendo um pouco de manha.Mulher adora fazer manha).
- Sério, vai.Eu te jogaria na banheira, mas não sei se você trouxe outras blusas.Levanta vai.Não me faça tirar sua roupa.
Não seria má idéia.
Levantei e fui para o banheiro, sentindo mais frio do que eu achei que fosse possível.Ele foi atrás e fechou a porta.Tirei a roupa batendo os dentes e entrei na banheira.A água não estava de todo gelada, parece que ele tinha ficado com dó de mim e deixado ela um pouco morna.A sensação não era boa, mas eu sabia que era pro meu bem.Ouvi o barulho da cama e o som da tv ligada.Tentei relaxar na água, mas o frio não deixava, e meu pensamento estava na cama, junto com ele.Porque ele está fazendo isso? Podia ter voltado pra praia, com as meninas de biquíni, a Júlia e tudo mais.Por que está aqui, cuidando de mim?Nem somos tão amigos assim, não é?

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