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20.7.12

O que acontece na praia fica na praia - part VII



Para ouvir: Me and Mrs,Jones - Amy Winehouse
Consegui relaxar depois de um tempo e percebi que o frio tinha diminuído um pouco.Sai da banheira, e me troquei.Quando abri a porta do banheiro ele estava lá, em pé.Me pegou no colo e me levou até a cama.
- Não pisa no chão gelado depois de sair do banho, você já não ta bem.
Ele me deitou ,me cobriu e deitou do meu lado.Assistia algum programa ruim de domingo na televisão, que pouco me importava.Eu percebi que ele também tinha tomado banho nesse tempo, estava sem areia no corpo e com cheiro de shampoo.Com uma camisa xadrez e uma bermuda leve, tão lindo que quase passava minha febre só de olhar pra ele.
- Você ta melhor?
- Um pouco.
- Eu vou ficar aqui com você – ele disse se aproximando um pouco – tenta dormir, você vai acordar melhor.Tá com sede? Eu sempre tenho sede quando to com febre.
- Não, eu to legal – disse virando pra ele – pode voltar pra praia se quiser.
- Eu já disse que vou ficar aqui.Passou a briza de praia agora também- ele colocou a mão na minha testa - parece que sua febre ta baixando.Tenta dormir.
Não consegui nem debater; logo peguei no sono.Acordei com a sensação que tinha dormido por séculos, e ele ainda estava do meu lado, lendo um dos meus livros.O frio tinha passado, e eu estava com sede.
- Que bom que você acordou – ele disse soltando o livro – ta melhor?
- Com sede – eu admiti com vergonha.
- Eu sabia – ele sorriu e me deu um copo de água que estava do lado da cama – seu desejo é uma ordem.
Tomei tudo em um gole só.
- Você quer mais?Eu vou buscar.
- Não precisa.Obrigada.
Silêncio.Ele deitou e ficou de frente pra mim.
- Ta, estamos aqui.Vamos conversar.Me conte sobre o coração.Como ele está.
Sempre me testando.
- Agora? Ta acelerado.
ISSO ANA, PARABÉNS,PORQUE NÃO FALA QUE A CULPA É DELE TAMBÉM?
- Porque?
- Sei lá.
- O meu também ta.
Ai caralho.
- Porque?
- Sei lá.
Eu sorri e percebi um clima estranho e logo percebi: estávamos sozinhos em casa.Na cama.Mas não ia rolar nada né?Somos amigos, não somos?
- Você é bonita.Nunca tinha reparado nisso.
Levo isso como um elogio?
- Obrigada.Você também, é bem bonito até.
- “Bem bonito até” – ele riu e virou o rosto para o teto – engraçado, ninguém veio ver porque eu to demorando tanto.
- Nem o Guto.
- Eu estava me referindo a ele mesmo.
- Loira de biquíni – eu disse rindo.
- Não sei... – ele virou pra mim de novo – ele parecia preocupado mesmo com você.
- Não estava.Eu conheço o Guto, é só carência, ou necessidade de cuidar.Logo passa.
- Mas não rolaria nada entre vocês mesmo?
- Se me perguntasse isso a uns 10 anos atrás ...– eu ri – mas hoje não.Hoje ele é um irmão mais velho.Só isso.
Silencio.
- Eu acho que o cara é louco por você.Na boa.
- Ninguém é louco o suficiente a ponto de ser louco por mim Caetano – eu disse sentando na cama.
- Eu duvido- ele constatou, em voz baixa, como se fosse pra si mesmo - Você ta com frio? – se sentou também – quer mais algum cobertor?
- Não, to melhor – senti um clima tenso.De repente, era obvio que aconteceria alguma coisa ali.Sabe quando dá um ‘click’ e seu coração acelera?Pois é.Ele ficou olhando pra mim por um tempo e eu sorri sem jeito.E ai ele me beijou.
E era o beijo mais perfeito do mundo, com gosto de pasta de dente e cheiro de banho recém tomado.Meu cérebro não funcionava mais, meu estomago não existia, minhas pernas formigavam e minhas mãos, nem sei onde estavam.Eu estava beijando ele.Ele, por algum motivo na face da terra, me beijou.Talvez tenha fetiche por mulher doente, ou tenha tomado um fora da Júlia, ou algo do tipo.Estava lá me beijando.E eu não queria que aquele beijo acabasse nunca, por medo dele perceber o que estava fazendo e fosse pra praia de novo.Mas ele não parava.E eu também não.
Foi quando eu percebi que estávamos deitados em uma cama e sozinhos em casa.E ai, de ‘alegria instantânea de ficar com o cara que eu sou completamente afim’ passei para ‘ eu paro isso tudo ou deixo continuar?”
Mas percebi que não existia a opção de ‘parar isso tudo”, era tarde demais.O toque dele dava choque, cada lugar que a mão dele tocava formigava.Eu estava sem ar simplesmente como beijo dele, e por mais que fosse ‘errado’ eu não queria sair daquela cama tão cedo.Mas, eu não estava fazendo nada errado não era? Eu não namoro, ele não namora,estamos sozinhos em casa e já somos bem grandinhos e sabemos o que estamos fazendo.Ou o que vamos fazer.
Foi inevitável, com toda a química que tivemos.Podia não ser obvio enquanto conversávamos, mas ela ficou evidente no toque.Ele fazia exatamente o que eu pensava sem eu nem precisar falar.Parecia que o mundo fazia sentido enquanto eu estava naquela cama.A cabeça não parava um segundo, e eu não pensava mas em parar.Deixa continuar.O que acontece na praia fica na praia, não é mesmo? Eu só não sei se quero que isso fique só por aqui.

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