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18.7.12

O que acontece na praia fica na praia - part V

Para ouvir: Com ou sem você - Soulstripper

A noite esquentou e decidimos fazer um luau. Levamos as coisas para praia, o Beto tomou conta do violão.
Fiquei conversando com a Marcela em um dos raros momentos que ela estava longe da língua do Gabriel.Conversando sobre nada, fingindo que não tinha ligado pra noticia que ela me dera mais cedo.Podia fingir que não liguei, mas não podia fingir não estar vendo ele indo atrás da Júlia em qualquer lugar que ela fosse.Paciência, a vida é assim.
O Guto ia de 5 em 5 minutos perguntar se eu estava melhor.Eu dizia que sim, embora estivesse com um pouco de dor de cabeça.Acho que realmente não tinha passado a fase de ter febre na praia.
Foi uma noite gostosa, com muitas risadas e meu ciúme a flor da pele.Sempre que olhava pra ele sorrindo, a pergunta ‘por que não eu?’ aparecia na minha cabeça, como um mantra.E isso me deixava chateada, mas coloquei um sorriso no rosto e fingi que estava tudo bem.Vida de mulher é assim, sorrir com o salto machucando, sorrir com sutiã soltando, sorrir com maquiagem borrando, sorrir com cólica matando,sorrir com imbecil causado...
Lá pelas tantas, sentei perto do mar pra ficar um pouco sozinha.
- Você não costuma ser quietinha assim – ele diz sentando do meu lado.
- Só estou pensando um pouco Caetano.Tô normal.
- É, você tem esse jeitinho mesmo.
- Qual jeitinho?
- Esse seu.Quando você ta quieta, a gente consegue perceber que ta prestando atenção em tudo.Você é a típica ‘come quieta’ – ele sorriu.
- Pois é... de boba só tenho a cara – “e o coração” pensei comigo mesma.
Silêncio
- Porque você não dá uma chance pro cara lá?
- O Guto?
- É... ele parece ser bem afim de você.
- Não é não – eu finjo dar risada, mas na verdade a vontade é mandar ele calar a boca – não sei o que deu nele pra estar com todo esse cuidado comigo... mas como eu disse, é só ele achar uma loirona de biquíni que isso passa.
- Se você ta falando – ele dá de ombros.
- Eu sei do que to falando – eu sorrio – mas e você, to percebendo os olhares pra Júlia.
- Impressão sua.
- Impressão... aham, sei! Assume logo bonito.A Júlia é incrível, é completamente compreensível.
- Bom, quem sabe.
Silêncio.
- Será que amanha rola praia? – ele disse pra puxar assunto- ultimo dia aqui né, seria bom...
- Acho que amanha rola sim.. Ta uma noite gostosa... Amanha o sol aparece e as garotas de biquíni aparecem com ele.
- Uhu – ele diz fingindo animação.
Depois disso, começamos a conversar sobre outras coisas inúteis, como o jeito que a lua interfere na maré, ou a campanha do time dele no campeonato, ou sobre como o pessoal do escritório era desanimado e nunca fazia nada.
- Mas agora que eu sei que você conhece o Gabriel, a gente marca de fazer alguma coisa no final de semana e tal...
- Pode chamar ... ai eu chamo o resto do pessoal também agora que você já conhece todo mundo, pelo menos eles não ficam se pegando e a gente sem graça.
- Pode ser.
É impressão minha ou senti um ar de decepção? Mulheres só ouvem o que querem ouvir.
- Levo algumas amigas pra você se quiser.
- Pode ser.Eu levo uns amigos também se você quiser.
- Pode ser.Bom, eles já estão levando as coisas, vou lá ajudar.
- Vai lá.
Ele fica sentado sozinho na areia e eu me seguro pra não ir lá e gritar “ Você nunca percebeu que eu só quero você e pronto? Que mane amigo seu, vai só você que pra mim ta ótimo! Conversa comigo a noite toda, me leva pra casa depois e me beija um beijo calmo com gosto de ‘dorme bem’, que pra mim ta ótimo.Que mane amigos Caetano, eu to aqui, olha aqui pra mim!”.Mas me seguro, e me contento em acender um cigarro e virar mais uma dose de tequila.

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